Vinhos alentejanos sustentáveis têm novo selo. Preço pode ficar até 10% mais caro por garrafa

  • Capital Verde
  • 7 Outubro 2021

As vindimas já decorrem no Alentejo e este ano a região espera chegar a 120 milhões de litros de vinho. Muitos já terão o novo selo de Produção Sustentável. Cada garrafa pode custar mais 5 a 10%.

 

Quais são as vindimas mais sustentáveis de Portugal? A Comissão Vitivinícola da Região puxa a brasa à sua sardinha e garante que são no Alentejo. Já em pleno andamento desde o mês de agosto e a correr a bom ritmo, a região espera produzir mais 5 a 10% de vinho este ano e atingir a marca de 120 milhões de litros.

Mas afinal porque são as vindimas no Alentejo as mais sustentáveis do país? A resposta está no lançamento bem recente no mercado de uma certificação inédita em Portugal, com validade de cinco anos. O novo selo de certificação de Produção Sustentável da CVRA tem como objetivo melhorar as práticas utilizadas nas vinhas e nas adegas e faz parte do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, cujos associados representam já mais de 40% do vinho alentejano produzido.

Além de confirmar a sustentabilidade de um vinho, este novo selo de certificação confere também ao produto final uma garantia de qualidade que, no fim, pode representar um aumento entre 5% a 10% no preço da garrafa.

“As expectativas e os estudos que existem apontam para um crescimento no preço que poderá andar entre os 5% e os 10%, mas obviamente que estamos a olhar para os consumidores e a analisar qual é o valor acima do preço normal do mercado que estão dispostos a pagar por terem ao seu dispor um produto com uma certificação de produção sustentável”, afirmou ao ECO/Capital Verde o presidente da CVRA, Francisco Mateus.

No entanto, apesar de assegurar que há “uma disposição nos consumidores para pagarem mais por um produto que incorpore estas boas práticas”, Francisco Mateus admitiu que são mercados como o norte americano, o canadiano, dos países nórdicos, que valorizam mais estas opções: “São mercados que, normalmente, pagam o vinho acima do preço médio mundial e estão a forçar a oferta que têm nos seus países, incorporando cada vez mais produtos com esta certificação de produção sustentável”.

Atualmente, o PSVA tem 460 produtores associados. Este número tem crescido mais nos últimos tempos devido ao lançamento de um selo de certificação de produção sustentável, anunciado pela CVRA em julho deste ano.

“Nós sabemos que houve empresas que aderiram ao PSVA há pouco tempo, depois de terem conhecimento de que havia a certificação. Portanto, uma coisa seria o programa enquanto código de práticas, de métodos e de organização, mas a partir do momento em que passou a haver a certificação, passou a haver algo que as empresas podem ter nas suas garrafas de vinho para se anunciarem junto do consumidor”, disse Francisco Mateus, presidente da CVRA.

Outras vantagens económicas para os produtores passam por uma poupança de 20% e 30% nos gastos relacionados com água e luz, respetivamente, e o aumento estimado do volume de vendas em 5% a 10%, “devido à crescente importância atribuída pelos consumidores à compra de produtos cujas marcas apresentem preocupações ambientais”.

No Alentejo, a colheita de uva tem uma duração estimada de “10 a 11 semanas”. Ou seja, começa em agosto e prolonga-se até ao mês de outubro. A região vitivinícola alentejana produziu em 2020 113 milhões de litros de vinho, o que correspondeu a um aumento de 15% face ao ano anterior.

Em declarações à Lusa, Francisco Mateus, presidente da CVRA, tinha já avançado que o crescimento esperado para este ano se deve às “boas condições atmosféricas” e ao “controlo das pragas”. Estes dois fatores significam “que as uvas que vão chegar às adegas estarão sãs e, por isso, têm uma maior probabilidade de resultar em vinhos de excelente qualidade”, explicou.

Ovelhas podem tornar os vinhos mais sustentáveis

Desde que foi criado, em 2015, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) tem dado largos passos para tornar o Alentejo na primeira região sustentável do país. Trata-se de um programa facultativo e gratuito, desenvolvido pela Comissão Vitivinícola da Região do Alentejo (CVRA), que acompanha e aconselha os produtores associados ao longo de todo o ciclo da produção do vinho.

O programa segue um sistema de melhoria contínua que se destina a três setores distintos – Viticultura; Adega; Viticultura & Adega – e trabalha a sustentabilidade em três eixos – ambiental, social e económico, já que tem como objetivo produzir uvas e vinho de qualidade e de forma economicamente viável, ao mesmo tempo que pretende proteger o meio ambiente e melhorar as relações com os colaboradores e vizinhos.

Ao todo, o Programa de Sustentabilidade tem 171 requisitos que os associados devem seguir. Utilizar o pasto das ovelhas para fertilizar os solos e controlar o crescimento das ervas, fazer a gestão adequada da água e reduzir o gasto de um bem escasso na região, apostar na eficiência energética, reduzir o uso de pesticidas, reduzir a produção de resíduos e proteger a biodiversidade são algumas dessas medidas.

No entanto, João Barroso, coordenador do PSVA, explicou que os produtores só precisam de “estar no nível máximo em 86% dos 171 critérios para poderem ser elegíveis à certificação”.

“Há aqueles 14% de critérios que, por razões de mercado, por objetivos internos, pela razão que seja, o produtor não está, ainda, preparado para seguir. Então, tudo bem, não é por aí que ele não vai ser elegível para a certificação se em todos os outros 86% dos critérios fez todo um trabalho que merece este reconhecimento”, acrescentou.

Ainda dentro deste ponto, Francisco Mateus acrescentou que os 171 critérios só são exigidos aos produtores que entrem na componente de Viticultura & Adega. “Obviamente que a um viticultor não podemos estar a fazer uma exigência de cumprimento de boas práticas da adega quando ele não tem adega e vice versa”, exemplificou.

Mas, afinal, quanto tempo pode demorar um produtor a conseguir essa certificação? De acordo com João Barroso, depende da capacidade das empresas, da dimensão, dos objetivos, das capacidades financeiras e do trabalho que já têm feito (ou não) quando se associam ao PSVA. “Nós temos dois universos. Num desses universos temos produtores que já tinham um percurso feito e que entram neste programa já com meio caminho andado e, por outro lado, temos produtores que estão a começar do zero”, esclareceu.

“Eu diria que uma empresa que comece do zero, tendo uma média de trabalho normal, deve conseguir a certificação ao fim de 3 a 5 anos. Mas, por exemplo, empresas como a Casa Relvas, que já tinha meio caminhado andado quando se juntou ao PSVA em 2015, levam menos tempo. É certo que a certificação só foi posta à disposição dos produtores no ano passado, mas eu penso que a Casa Relvas vai conseguir o selo agora no fim do ano, portanto, nestes casos, demora um ano e pouco”, acrescentou o coordenador do PSVA.

João Barroso garantiu, ainda, que, depois de ganharem o selo de certificação, que tem a validade de cinco anos, os produtores continuam a ter o apoio do Programa de Sustentabilidade, essencialmente por dois motivos: “O primeiro é aquela questão dos 14% que faltam, portanto, a melhoria contínua tem que ser garantida e, por outro lado, a certificação não é estanque, ou seja, os produtores são certificados por um período de 5 anos, com auditorias internas anuais, portanto é do interesse da CVRA garantir que os produtores mantêm a bitola e é do interesse dos produtores manterem essa certificação porque fizeram investimento”.

A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana foi criada em 1989 e é responsável pela proteção e defesa da Denominação de Origem Controlada (DOC) Alentejo e da Indicação Geográfica Alentejano. A certificação e controlo da origem e qualidade e promoção e fomento da sustentabilidade também são competências da comissão.

O Alentejo é líder nacional em vinhos certificados, com cerca de 40% de valor total das vendas num universo de 14 regiões vitivinícolas em Portugal. Com uma área de vinha de 22,9 mil de hectares, 30% do vinho produzido é exportado para cinco destinos principais: Brasil, Angola, Estados Unidos da América (EUA), Polónia e China.

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