Seguradoras globais têm administradores “incompatíveis” com a causa climática
Agora as denúncias viram-se para administradores de grandes seguradoras que, segundo os seus CVs, estiveram comprometidos com a carbonização ao longo da sua vida profissional.
Muitas pessoas que ocupam lugares de topo em seguradoras globais conflituam com o Clima, revela um trabalho de investigação que analisou currículos e percursos profissionais que sugerem controvérsia.
Nos EUA, mais de um quinto dos membros de conselhos de administração (boards) dos grupos seguradores já prestou serviço nos combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão ou energéticas que operam com combustíveis altamente poluentes. Dois terços de todos elementos dos ‘boards’ das seguradoras do país têm ou tiveram, ao longo das respetivas carreiras, cargos de direção ou de aconselhamento, que conflituam com a questão ambiental, revela uma pesquisa da DeSmog, rede de jornalistas de investigação que assume a missão de denunciar o que se diz e não se faz pela causa climática.
Revendo CVs disponíveis nos websites das empresas, perfis no LinkedIn e conteúdo de comunicações oficiais das visadas, a pesquisa avaliou 371 administradores de 30 das maiores companhias de seguros gerais (ramos não Vida). Nesse universo onde 53% das lideranças indicia incompatibilidades com a questão climática (um total de 195 executivos), o roteiro de maior embaraço climate conflicted começa nos EUA (7 seguradoras), seguindo-se Alemanha (4), Reino Unido (3), Japão (3), China (3), França (2), Suíça (2) e Bermuda (2).
Na Europa, 11% dos administradores de companhias seguradoras já exerceram funções em empresas ou setores ligados a combustíveis fósseis, sendo que 57% têm (ou tiveram até há pouco tempo) conflitos de interesse de âmbito ambiental. Na Ásia, o número de situações controversas é substancialmente menor, em parte por causa da falta de dados disponíveis que pudessem ser incluídos na lista de casos de administrações de seguradoras com pegada carbónica.
A denúncia assume pretensão de aumentar pressão sobre o setor num momento de cimeiras globais em que muitas seguradoras anunciam compromissos com a transição energética e iniciativas para descarbonizar carteiras de investimento.
Apontando nomes de indivíduos e companhias “comprometidas” com o efeito de estufa, os jornalistas contactaram as seguradoras objeto da pesquisa e o relatório transcreve reações. Uma das entidades visadas explica que a existência (nos seus órgãos sociais) de pessoas que já passaram pelo setor petrolífero ou por outras indústrias poluentes, é uma forma de assegurar expertise também necessário ao negócio e à gestão do processo de desligamento das atividades que prejudicam o ambiente.
No ranking de 10 entidades com maior percentagem de incompatibilizados, o relatório cuida de explicar que algumas situações expostas (caso da Aviva) não estão maioritariamente ligadas à energia, mas às indústrias poluentes de forma geral.
O documento de análise é reforçado com argumentação de outras organizações ativistas do clima (Urgewald; Public Citizen; Reclaim Finance; Insure our Future; Rainforest Action Network, BankTrack) para confrontar responsabilidade social e de governança de grandes seguradoras e sustentar a ideia de um potencial vai e vem de pessoas entre seguradoras e as indústrias poluentes. Segundo disse Rachel Sherrington, jornalista que liderou o trabalho de investigação, citada no Insurance Journal : “Há uma significativa prevalência de administradores com ligações atuais e passadas a algumas das indústrias mais poluentes do mundo nos conselhos de administração das principais seguradoras.”
O relatório aponta existência de 87 representantes de seguradoras ligados a “bancos fósseis” (entidades bancárias que financiam atividades poluentes); outros 42 ligados a indústrias poluentes; número igual (42) de seniores associados a energéticas que são intensivas na utilização de combustíveis fósseis. A mesma infografia situa 29 indivíduos ligados a investidores poluentes (polluting investors); 33 outros directors conectados com o setor de transporte rodoviário poluente; 24 “a bordo” de companhias de aviação e 17 na mineração, siderurgia e metalurgia. Embora decrescendo em número, as ligações estendem-se à petroquímica, agroquímica, fabricantes automóveis, construção, shipping, indústria florestal, think tanks, lobies e organizações setoriais.
“O apoio público à ação científica sobre a crise climática é elevado, e os administradores destas seguradoras têm a oportunidade de se colocarem no lado certo da história,” complementou Sherrington.
A DeSmog é servida por jornalistas independentes que assumem a missão de “limpar a poluição e desinformação” veiculada através de comunicados de imprensa e outras fontes na internet. Fundada em 2006, a plataforma tem sede em Londres e liga fontes de investigação nos EUA, no Reino Unido e em África (Nigéria).
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