COP26 tenta travar desflorestação. Em Portugal ainda há muito por fazer, diz Zero

  • Capital Verde e Lusa
  • 2 Novembro 2021

A iniciativa, que beneficiará de um financiamento público e privado de 19,2 mil milhões de dólares (16,5 mil milhões de euros), é essencial para limitar o aquecimento global.

Os líderes mundiais de 105 países vão comprometer-se esta terça-feira na cimeira do clima das Nações Unidas a deter a desflorestação até 2030 para combater as alterações climáticas, anunciou o Governo britânico, anfitrião do encontro, um compromisso considerado demasiado distante pelos ambientalistas.

Uma declaração conjunta será adotada por mais de cem países — entre os quais Portugal — onde se situam 85% das florestas mundiais, entre as quais a floresta boreal do Canadá, a floresta amazónica ou ainda a floresta tropical da bacia do Congo.

A Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra cobrirá florestas totalizando mais de 33,6 milhões de kms quadrados, de acordo com uma declaração do gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido em nome dos líderes.

A iniciativa, que beneficiará de um financiamento público e privado de 19,2 mil milhões de dólares (16,5 mil milhões de euros), é essencial para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos valores médios da era pré-industrial, segundo o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Sobre este acordo, a associação ambientalista Zero — que está em Glasgow — diz que o mesmo tem aspetos positivos, mas sobretudo negativos. Do lado positivo, pesa o facto de ser o primeiro entendimento de que as florestas são fundamentais como biodiversidade e sumidouro de dióxido de carbono, também importante para salvaguarda dos povos indígenas.

Já do lado negativo, os ambientalistas dizem que “o compromisso já tomado em 2014 é idêntico no objetivo para 2030, e não se tem concretizado: atualmente desfloresta-se o dobro do que se floresta. Além disso, face à emergência climática 2030 é uma data demasiado longínqua”.

Somam-se ainda dois países que “não dão grande confiança” — Brasil e China. “O primeiro por “manipulou” a sua apresentação de objetivos alterando os seus valores de emissão entre outros aspetos, bem como a China que tem desflorestado vastas zonas de outros países”, diz a Zero.

Sobre Portugal, a associação diz que Portugal tem vindo a dar uma fraca atenção à reflorestação, apesar de assinar agora esta declaração.

“A reflorestação não está a ser suficientemente acautelada e é preciso muito mais proteção e um grande volume de investimentos. Estão a ser direcionados investimentos, no âmbito do PRR, para as áreas vulneráveis, onde houve grandes incêndios nos últimos anos, e em áreas de pequena propriedade que foram abandonas nas últimas décadas e onde existe dificuldade em gerar valor para os proprietários. Mas é necessário mudar o cenário em Portugal e criar um novo tipo de floresta autóctone, acompanhada por uma gestão colaborativa sólida que valorize os serviços dos ecossistemas“, refere fonte da Zero, em respostas aos jornalistas.

Florestas estão a recuar ao “ritmo alarmante” de 27 estádios de futebol por minuto.

No seu discurso desta terça-feira, Boris Johnson irá lembrar que as florestas “são essenciais à sobrevivência” da humanidade, mas estão a recuar ao “ritmo alarmante” de 27 estádios de futebol por minuto.

“Esses formidáveis ecossistemas abundantes – essas catedrais da natureza – são os pulmões do nosso planeta”, estão no centro da vida de comunidades ao absorver uma grande parte do carbono libertado na atmosfera, dirá hoje Boris Johnson no seu discurso, de acordo com excertos divulgados pelo seu gabinete.

Com o compromisso, que está a ser classificado como “sem precedentes” e que pretende nomeadamente restaurar terras degradadas, combater incêndios e apoiar as comunidades indígenas, os países terão, para o chefe do governo britânico, “a oportunidade de terminar a longa história de uma humanidade conquistadora da natureza tornando-se antes guardiães”.

Entre os signatários do compromisso, estão o Brasil e a Rússia, países acusados da aceleração da desflorestação nos seus territórios, bem como os Estados Unidos, a China, a Austrália e a França.

Numa das sessões da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), os dirigentes de mais de 30 instituições financeiras irão também comprometer-se a não investir mais em atividades ligadas à desflorestação, segundo o comunicado de Downing Street.

Atualmente, quase um quarto (23%) das emissões mundiais de gases com efeito de estufa provém de atividades como a agricultura e a indústria madeireira.

Este novo compromisso faz eco da “Declaração de Nova Iorque sobre as florestas”, de 2014, quando muitos países se comprometeram a reduzir para metade a desflorestação em 2020 e a pôr-lhe fim em 2030.

Mas, para organizações não-governamentais (ONG) como a Greenpeace, o objetivo de 2030 está demasiado distante no tempo e dá, assim, ‘luz verde’ a “mais uma década de desflorestação”.

“Os povos indígenas exigem que 80% da floresta amazónica seja protegida até 2025, e eles têm razão, é o que é preciso fazer”, insistiu Carolina Pasquali, responsável da Greenpeace no Brasil.

Embora saudando estes anúncios, Tuntiak Katan, da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia da Amazónia (Coica), indicou que a forma como as verbas alocadas a esse objetivo serão efetivamente gastas será monitorizada de perto.

Brasil é o campeão da desflorestação, quer limpar imagem com novas metas

Ainda no primeiro dia da COP, o Governo brasileiro comprometeu-se a eliminar a desflorestação ilegal até 2028, dois anos antes da meta anteriormente estipulada (2030).

Num anúncio feito num evento em Brasília, transmitido virtualmente, o ministro do Meio Ambiente brasileiro, Joaquim Leite, prometeu ainda alcançar uma redução de 50% da desflorestação até 2027.

A nova meta apresentada pelo executivo brasileiro entrará em vigor em 2022 e ocorrerá de forma gradual, com redução de 15% até 2024, de 40% em 2025 e de 50% em 2027 e eliminação total da desflorestação ilegal em 2028.

O executivo brasileiro também anunciou o objetivo climático de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 50% e de neutralizar as emissões de carbono até 2050.

Apesar das metas anunciadas, o Governo brasileiro ignorou os recordes de devastação das florestas do país que estão a ser registados no mandato do Presidente, Jair Bolsonaro, que assumiu o poder em 2019. Desde aí, a Amazónia brasileira perdeu cerca de 10.000 quilómetros quadrados de floresta por ano, contra 6.500 quilómetros por ano na década anterior.

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