“Raiva e impaciência” mundial castigarão falhanço na COP26, avisa Boris Johnson 

  • Lusa
  • 1 Novembro 2021

"Temos a tecnologia e conseguimos encontrar o financiamento", argumentou, apontando que "a COP26 não será o fim da história das alterações climáticas", devendo antes ser um começo.

O primeiro-ministro britânico avisou hoje os líderes mundiais que a “raiva e impaciência do mundo serão impossíveis de conter” se não conseguirem entender-se para conter as alterações climáticas, uma “máquina do apocalipse” que é preciso desarmar.

Boris Johnson falava na abertura da cimeira de líderes mundiais incluída na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que se se realiza até 12 de novembro em Glasgow, Escócia.

“Podemos não nos sentir um James Bond, mas temos a oportunidade e o dever de fazer desta cimeira o momento quando a Humanidade começou a desarmar essa bomba, o momento quando começámos irrefutavelmente a virar a maré e a lutar contra as alterações climáticas”, declarou o primeiro-ministro do Reino Unido, país anfitrião da cimeira.

Caso contrário, “todas as promessas terão sido apenas ‘blá blá blá’ e a raiva e a impaciência do mundo serão impossíveis de conter”, alertou, defendendo que a COP26 é o momento de as dezenas de chefes de Estado e governo presentes em Glasgow usarem a sua “criatividade, boa vontade e imaginação”.

A observá-los estão “milhares de milhões de olhos desconfiados, nervosos e desencantados e ainda milhares de milhões de olhos dos que ainda não nasceram”, que olharão para trás “com raiva ainda maior” se a cimeira os desiludir.

Johnson afirmou que a maneira de “desarmar a máquina do apocalipse” é conhecida e inclui acabar com a utilização de carros com motores de combustão interna, acabar com as centrais elétricas a carvão, travar e reverter a desflorestação e reunir o dinheiro necessário para os países mais pobres poderem fazer o mesmo nas próximas décadas.

Prolongando a metáfora, salientou que essa “máquina” é um relógio que funciona ao tique-taque de “centenas de milhares de milhões de motores que libertam dióxido de carbono cada vez mais depressa para a atmosfera”, cobrindo a Terra com um “manto invisível e sufocante”.

“Quanto mais tarde agirmos, pior será”, referiu, apontando que um aumento da temperatura média global até ao fim do século de dois graus centígrados porá em causa o abastecimento alimentar, três graus aumentarão a frequência de incêndios florestais e fenómenos meteorológicos como ciclones e secas.

Quatro graus e poderemos “dizer adeus a cidades inteiras”, como Xangai, Miami ou Alexandria, dramatizou.

O primeiro-ministro britânico lembrou que foi na cidade escocesa que acolhe a COP26 que nasceu o motor de combustão interna inventado por James Watt e defendeu que a cimeira tem duas semanas para “começar a virar a História” e prosseguir uma “revolução industrial verde”.

Tal não acontecerá apenas com investimento público, salientou, indicando que “o mercado tem centenas de biliões” para aplicar em ajudas ao desenvolvimento nos países com menos recursos, eliminando riscos nas suas economias para “o setor privado poder entrar”.

“Temos a tecnologia e conseguimos encontrar o financiamento”, argumentou, apontando que “a COP26 não será o fim da história das alterações climáticas”, devendo antes ser um começo.

Mesmo se, ao cabo das duas semanas de trabalhos, se atinjam “compromissos vinculativos” de redução de emissões, transição energética dos combustíveis fósseis para energias mais limpas e financiamento para adaptação às alterações climáticas, “ainda haverá chaminés fumarentas a vomitar fumo nas áreas industriais e carros a gasóleo e gasolina a entupir estradas nas maiores cidades do mundo”.

“Se as cimeiras conseguissem por si resolver as alterações climáticas, não teríamos precisado das 25 anteriores. Esta pode e tem que ser um começo. Dediquemo-nos nos próximos dias a esta tarefa extraordinária”, apelou.

O primeiro-ministro de Itália, país coanfitrião da cimeira, Mario Draghi, defendeu que é preciso encontrar “formas inteligentes” de gastar o dinheiro disponível para adaptação às alterações climáticas “rapidamente” e para isso “os bancos multilaterais de desenvolvimento, e, especialmente, o Banco Mundial, têm que partilhar com o setor privado os riscos que este, sozinho, não consegue suportar”.

Draghi propôs “plataformas nacionais em que esses bancos possam partilhar e tornar este dinheiro utilizável”, salientando que o custo das perturbações provocadas pelas alterações climáticas nas economias mundiais, especialmente as dos países mais pobres “ascendem a uns espantosos 390 mil milhões de dólares por ano”.

As alterações climáticas têm “repercussões na paz e segurança globais, destroem os recursos naturais, agravam as tensões sociais, criam novos fluxos migratórios e contribuem para o terrorismo e para o crime organizado”, afirmou.

Mario Draghi apontou o papel que a juventude assumiu no ativismo climático nos últimos anos e defendeu que os líderes reunidos em Glasgow têm o dever de os “deixar orgulhosos”.

“As alterações climáticas podem destruir-nos”, alertou.

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