Pode a crise política valer uma descida do rating?
Portugal tem último exame do ano junto de uma agência de rating. Que consequências terá a crise política na avaliação da Fitch? Analistas esperam avisos sobre duração do impasse.
Mergulhado numa crise política, depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022, Portugal tem esta sexta-feira o último exame do ano junto de uma agência de rating. Apesar do impasse governativo, os analistas acreditam que a Fitch vai manter a notação de risco da dívida portuguesa, dadas as perspetivas de estabilidade para o futuro. Ainda assim, a agência norte-americana deverá deixar avisos à navegação: não demorem a resolver a incerteza, pois pode colocar em causa a retoma económica.
Depois de a Moody’s ter melhorado o rating de Portugal em setembro, era expectável que a Fitch pudesse seguir o mesmo caminho agora e subir a notação de “BBB”, com perspetiva estável, que atribuiu atualmente ao país. Mas dificilmente isso acontecerá.
“Não me parece que haverá condições para melhorar a perspetiva devido à crise política e também não há motivos para piorar a perspetiva”, diz o presidente e economista do IMF – Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia.
Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, também antecipa que tudo vai ficar na mesma, mas não deixa de vislumbrar uma chance de a Fitch também subir a notação de risco de Portugal tendo em conta as previsões para a evolução da economia. “Ainda não estamos na fase em que a crise política tenha impacto no rating”, afirma, ainda assim.
Estas “apostas” vão em linha com o que disse recentemente o ministro das Finanças, João Leão. “Esperávamos assistir a novas melhorias de rating, que agora vão ter de esperar pela resolução da situação política”, sublinhou há duas semanas.
"Não me parece que haverá condições para melhorar a perspetiva devido à crise política e também não há motivos para piorar a perspetiva.”
Mercados descansados, mas vêm aí avisos
Para Garcia e Silva, a recente ida ao mercado é a prova de que a crise política não é um fator de stress para os investidores. O IGCP conseguiu emitir 1.000 milhões de euros em títulos de dívida de longo prazo, sendo que o juro que pagou nas obrigações a dez anos caiu para níveis anteriores à pandemia.
Por outro lado, os juros portugueses em mercado secundário estão estáveis em relação à periferia e à Alemanha, conferindo o cenário de tranquilidade dos credores sob a garantia de proteção do Banco Central Europeu (BCE).
Ainda assim, o momento exige seriedade e ponderação por parte dos responsáveis políticos na resolução do impasse governativo. Se demorarem a ultrapassar a atual fase, isso pode representar um atraso na retoma da economia após o impacto da pandemia, alerta Filipe Silva. “Se tivermos de atrasar decisões por força de não termos um Orçamento, corremos o risco de atrasar a recuperação económica e de termos empresas que estavam a contar receber fundos [europeus] e não receberem a entrarem num período de maior dificuldade”, considera o diretor do Banco Carregosa.
"Se tivermos de atrasar decisões por força de não termos um Orçamento, corremos o risco de atrasar a recuperação económica e de termos empresas que estavam a contar receber fundos [europeus] e não receberem a entrarem num período de maior dificuldade.”
Filipe Garcia lembra as palavras da Moody’s que poderão ser replicadas em forma de aviso indireto pela Fitch: “Tal como disse a Moody’s recentemente, ‘menor apoio político a políticas orçamentais prudentes, incluindo maior despesa’, poderá levar a alterações na perspetiva ou notação a prazo”.
Neste capítulo, Filipe Silva acrescenta que as agências de rating olham para Portugal “não veem o risco de termos uma fação extremista no poder e que altere o rumo que o país tem seguido” na redução da dívida e no controlo do défice.
“É essa estabilidade que [as agências] esperam que saia das eleições”, afirmou.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Pode a crise política valer uma descida do rating?
{{ noCommentsLabel }}