Banca em 2021: lucros de 1.500 milhões, mais comissões e menos 2.600 trabalhadores

Menos margem, mais comissões. Lucros de 1.500 milhões, rentabilidade sob pressão. Regresso aos dividendos. E saídas de centenas de trabalhadores. Eis o retrato do ano de 2021 para a banca nacional.

O ano de 2021 fica marcado pela recuperação dos lucros dos principais bancos nacionais depois do duro impacto da pandemia, suportados em mais negócio e mais comissões, e isto enquanto aceleraram os seus processos de reestruturação que levaram à saída de mais de 2.600 trabalhadores.

Em termos agregados, Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander, BPI e Novobanco registaram lucros de mais de 1.500 milhões de euros no ano passado, contra os prejuízos de 250 milhões em 2020.

Embora cada banco tivesse registado a sua própria evolução em 2021, há um fator determinante que explica a inversão nos resultados do setor: o Novobanco.

Pela primeira vez na sua história, o banco que nasceu em 2014 da resolução do BES obteve um resultado anual positivo184,5 milhões de euros em 2021, contra os 1.329,3 milhões de prejuízos no ano passado –, confirmando o “virar de página” que tinha sido prometido pelo CEO António Ramalho.

O resultado não foi, ainda assim, suficiente para evitar novo pedido de 209,5 milhões ao Fundo de Resolução através do polémico mecanismo de capital contingente e para o qual os outros bancos estão a contribuir.

Um dos maiores críticos deste mecanismo é o BCP que, por ironia, até teve menos lucros do que o Novobanco no ano passado. O banco liderado por Miguel Maya lucrou cerca de 140 milhões de euros em 2021, menos 25% face ao ano anterior, com o resultado a ser muito penalizado pelas provisões de 530 milhões de euros para se proteger dos riscos associados à carteira de créditos em francos suíços concedidos pela subsidiária na Polónia.

Já os outros bancos viram os seus lucros subir. O BPI registou a maior subida, com o resultado a triplicar para 307 milhões de euros, ajudado sobretudo pela distribuição de resultados do banco em Angola. A Caixa lucrou mais 18,6%, cerca de 580 milhões, enquanto o lucro do Santander subiu apenas 1% para 298,2 milhões.

Bancos lucram 1.500 milhões

Fonte: Bancos

Comissões compensam pressão na margem

Os bancos aumentaram bastante o seu volume de negócios no ano passado, o que foi importante para contrariar a pressão nas margens. A carteira de crédito a clientes aumentou 4% para um total de 200 mil milhões de euros e os depósitos cresceram quase 9% para 244 mil milhões.

Ainda assim, a margem financeira (que resulta da diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos) cedeu ligeiramente para 4.366 milhões de euros, refletindo o ambiente de juros baixos do Banco Central Europeu (BCE), que está em vias de mudar com a normalização da política monetária para responder à escalada da inflação.

Contudo, a redução da margem financeira foi mais do que compensada pela subida das receitas com comissões: dispararam quase 11% para 2.300 milhões de euros.

É verdade que os bancos têm vindo a aumentar o preçário dos seus serviços e produtos, mas também a reabertura e recuperação da economia veio aumentar as transações financeiras e às quais se aplicam comissões. Os bancos dizem que aumentaram as suas receitas com comissões associadas a produtos de seguro e da negociação em bolsa.

Comissões aumentam

Fonte: Bancos

Rentabilidade limitada, regressam os dividendos

A banca parecia ter entrado numa nova fase, não fosse a guerra na Ucrânia criar incerteza sobre quais serão os impactos na economia, nomeadamente por via das sanções e dos elevados preços da energia e das outras matérias-primas, e naquilo que será a resposta do BCE a este novo cenário de possível ameaça de estagflação.

Apesar do aumento dos lucros, a rentabilidade continua a ser uma das pedras no sapato dos bancos. BCP e Santander viram os seus ROE caírem ligeiramente para 2,4% e 6,3% (no caso do BCP pressionado pelas provisões para a Polónia), enquanto os indicadores da Caixa, BPI e Novobanco aumentaram, embora os presidentes dos bancos continuem a sublinhar que os níveis são ainda insuficientes para atrair investimentos.

O setor conta sobretudo com dois fatores para aumentar a rentabilidade nos próximos tempos: por um lado, com a recuperação da economia, enquanto o BCE se prepara para ajudar no negócio também ao encaminhar-se para uma normalização da política monetária; por outro, com a redução da sua estrutura de custos, nomeadamente com a saída de trabalhadores e fecho de agências (já vamos a essas contas), isto enquanto os seus balanços estão muito mais saudáveis, com menos malparado.

Os cinco bancos reduziram os rácios de NPL (non performing loans) no passado. O Novobanco foi quem mais trabalhou nesse capítulo, pois também foi quem partiu da pior posição: o rácio caiu de 8,7% para 5,7%. O BPI tem o rácio mais baixo, na ordem dos 2%.

Enquanto fazem esse trabalho para estimular a rentabilidade, preparam o regresso aos dividendos. BPI e Santander já anunciaram pagamentos de 194 milhões e 480 milhões de euros aos seus acionistas espanhóis e o BCP revelou que quer pagar “um dividendo muito moderado”. A Caixa não deu indicações sobre a remuneração ao Estado, mas a porta está aberta.

Banca continua a emagrecer: 2.638 saídas

Todos os bancos continuaram a emagrecer os seus quadros, uns mais do que outros, reduzindo 2.638 postos ao longo do ano passado no seu agregado. O objetivo é reduzir os custos em função também de uma maior procura dos clientes pelos canais digitais.

O Santander foi o mais agressivo nessa redução: tem hoje menos 1.175 trabalhadores do que tinha há um ano, resultado do plano de saídas por mútuo acordo, reformas antecipadas e até despedimentos que concretizou no ano passado. Este processo pesou bastante nos resultados do banco liderado por Castro e Almeida.

Bancos mais delgados

Fonte: Bancos

Já o BCP cortou 724 trabalhadores nas suas operações em Portugal, tendo agora 6.289 funcionários, menos do que a Caixa. O banco público tem menos 200 trabalhadores, num total de 6.383. Novobanco e BPI reduziram os seus quadros em 395 e 144 funcionários.

Esta redução de pessoal foi acompanhada do fecho de balcões: os bancos encerraram cerca de 150 agências no ano passado.

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