Regresso ao carvão não compromete metas apesar de aumentar emissões a curto prazo no bloco
As emissões da União Europeia foram reduzidas nos últimos anos, mas o recente regresso ao carvão significa que as emissões do setor energético deverão aumentar a curto prazo, afirma a Schroders.
A guerra na Ucrânia veio provar como a energia pode ser usada como arma de arremesso em matéria de geopolítica e, por sua vez, comprometer as metas para a neutralidade carbónica no bloco europeu. Ainda que o regresso ao carvão possa preocupar alguns, as medidas assumidas a curto e longo prazo no sentido da transição energética no bloco podem colmatar esses riscos.
“As emissões da União Europeia (UE) foram em grande parte reduzidas nos últimos anos, mas o recente regresso ao carvão significa que as emissões do setor energético deverão aumentar a curto prazo”, considera Irene Lauro, economista ambiental da Schroders ao ECO/Capital Verde.
Desde o início da invasão russa, a União Europeia tem vindo a reforçar o compromisso de transição para as energias renováveis, numa altura em que a Rússia compromete o abastecimento de gás necessário para o inverno. Neste momento, o Nord Stream 1, gasoduto que liga o gás russo à Europa, está encerrado para manutenção e existem receios de que não volte a ser ligado. A redução sucessiva do fluxo do gás russo levou a que muitos países procurassem por alternativas de curto prazo, como fontes alternativas de gás natural (por exemplo na Noruega ou Israel) ou apostassem na reativação das centrais a carvão, levando a alguns questionar se estas soluções podem comprometer as metas europeias para a neutralidade carbónica até 2050. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, embora tenha reconhecido a necessidade para tal retrocesso, apelou que os governos continuassem focados “em investir nas renováveis” e que a guerra na Europa fosse usada “para dar um passo em frente e não para trás, de volta aos combustíveis fósseis”.
Mas o foco parece ser difícil tendo em que conta que se pretende garantir a acessibilidade energética e a segurança do aprovisionamento energético, ao mesmo tempo que o bloco procura desvincular-se da energia russa e combater a inflação elevada.
Ainda que o retrocesso de uns preocupe outros, da parte da Schroders, considerando as medidas adotadas recentemente pelo executivo comunitário, não existem dúvidas: “[o regresso do carvão] não ameaçará os objetivos de neutralidade climática da Europa, uma vez que estamos a assistir a importantes esforços políticos no sentido de uma descarbonização mais rápida a médio prazo, acelerando a transição energética com uma maior utilização de energias renováveis”.
Certo é que embora países como a Alemanha ou a Áustria já tenham admitido a reativação das centrais a carvão, os esforços do executivo comunitário para que as metas ambientais sejam atingidas parecem continuar no topo da agenda. No final de junho, o Conselho Europeu concordou em estabelecer um objetivo vinculativo a nível do bloco de 40% de energia proveniente de fontes renováveis no cabaz energético global até 2030, acima do objetivo atual de pelo menos 32%. Além disso, o Conselho também concordou em reduzir o consumo de energia a nível da UE em 36% para o consumo final de energia, e 39% para o consumo de energia primária até 2030.
Acresce ainda a aprovação de medidas que visam duplicar a sua capacidade solar fotovoltaica até 2025 e duplicar a taxa do uso sobre bombas de calor, estando também em cima da mesa uma proposta que obriga a edifícios comerciais e públicos a ter telhas solares, a partir de 2027, e para novos edifícios residenciais a partir de 2029. E, numa tentativa de reduzir as emissões do setor de transporte, a UE também votou a proibição da venda de carros novos a gasolina e diesel a partir de 2035 para acelerar a mudança para veículos elétricos.
“Tudo isto é importante, uma vez que as políticas de atenuação da procura são essenciais para alcançar a neutralidade climática, dado o apertado fornecimento de energia e os atuais constrangimentos das infraestruturas energéticas”, considera a especialista, argumentando que “uma maior utilização de energias renováveis, combinada com medidas para melhorar a eficiência energética, faz-nos acreditar que a UE ainda pode alcançar a neutralidade climática a médio-longo prazo”.
Mas este esforço não abafa o ligeiro retrocesso a que se assistiu desde o início da guerra. Segundo dados da Schroders, em março, as emissões do setor de energia da UE já aumentaram mais de 20% em relação ao ano anterior, sendo “provável que as emissões continuem a aumentar ao longo de 2022, já que a Rússia está a cortar a capacidade do gasoduto Nord Stream 1, um dos principais canais de gás russo para a Europa” e não existem sinais de que a guerra chegue ao fim no futuro próximo.
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