UE e Rússia ganhariam com trégua na guerra do gás, diz Oxford Economics
"Vemos margem para um alívio na crise do gás nos próximos meses", afirma a Oxford Economics. Moscovo perderia 240 mil milhões de dólares em receitas até 2029 se cortasse o fornecimento à Europa.
A dependência do gás natural russo continua a ser usada por Moscovo para pressionar politicamente a União Europeia. As exportações caíram para menos de um quarto e a Gazprom pode mesmo fechar a torneira, aumentando a probabilidade de existirem racionamentos no inverno e uma recessão no bloco. A Oxford Economics considera, no entanto, que há margem para um alívio da tensão, dando como exemplo a reabertura do Mar Negro para permitir a exportação de cereais.
“Vemos margem para um alívio na crise do gás nos próximos meses. O exemplo recente do relaxamento das sanções para desbloquear a exportação de cereais através do Mar Negro mostra que um acordo de bastidores pode ser possível, à medida que os custos económicos e políticos aumentam”, afirma um relatório da Oxford Economics, assinado pela economista Tatiana Orlova, a que o ECO teve acesso.
A União Europeia tem motivos de preocupação. As exportações através dos gasodutos que ligam a Rússia à Europa em julho foram menos de um quarto do que no mesmo mês de 2021, totalizando pouco mais 2 mil milhões de metros cúbicos. Desde março que os volumes têm vindo sempre a descer. A Gazprom poderá parar as exportações através do Nordstream 1 (está em 20% da capacidade) nas próximas semanas, considera a Oxford Economics, mas acredita que a interrupção seria temporária.
A empresa que reclama a liderança global na análise económica salienta que “os dois lados podem ganhar” com uma redução da tensão, tendo em conta a dependência mutua.
Apesar da atual guerra do gás, é do interesse da Rússia continuar a fornecer gás à Europa enquanto constrói um novo gasoduto para a China.
“Atualmente, a Rússia está presa a um sistema de gasodutos construído para abastecer a Europa. Apesar da atual guerra do gás, é do interesse da Rússia continuar a fornecer gás à Europa enquanto constrói um novo gasoduto para a China”.
O continente representou, em 2021, 83% das exportações por gasoduto. A Oxford Economics calcula que Moscovo perderia o equivalente a 240 mil milhões de dólares em receitas entre 2023 e 2029 se cortasse o fornecimento à Europa.
Por sua vez, a União Europeia (UE) está a apostar fortemente no gás natural liquefeito (GNL), incluindo do país de Putin, já que não está abrangido pelas sanções. As exportações russas de GNL para a Europa cresceram 14% nos primeiros cinco meses de 2022 para 7,3 mil milhões de metros cúbicos.
O volume de importações de GNL na UE aumentou 51% entre janeiro e maio, quando comparado com o mesmo período do ano passado. EUA e Qatar destacam-se entre os países onde as exportações para o bloco mais cresceram, 176% e 23,6%, respetivamente. O problema é que além de o GNL não ser suficiente para suprir as necessidades da UE, o seu preço é muito mais elevado.
O preço médio de referência do GNL na Europa foi de 101 euros por MWh no primeiro semestre, quase cinco vezes mais do que os 21,7 euros por MWh registados no mesmo período do ano passado. Esta terça-feira os preços rondam os 227 euros por MWh nos contratos para entrega em outubro, chegando aos 232 euros nos contratos para dezembro. A Gazprom divulgou hoje um comunicado onde afirma que a cotação pode disparar mais 60% nos meses mais frios.
O preço da eletricidade para 2023 na Alemanha atingiu um novo recorde de 477,50 euros por MWh na European Energy Exchange, segundo a Bloomberg, puxado pela cotação do gás natural. A União Europeia enfrenta uma forte concorrência da Ásia, onde se situam os três maiores importadores de GNL: China, Japão e Coreia do Sul, o que pode elevar ainda mais os preços.
Uma maior destruição da procura pode ser o preço a pagar por um desmame acelerado do gás russo. Neste contexto, os apelos para o regresso às exportações baratas de gás russo podem subir de tom.
“No curto prazo, uma maior dependência do GNL pode significar mais dor para a economia europeia. Uma maior destruição da procura pode ser o preço a pagar por um desmame acelerado do gás russo. Neste contexto, os apelos para o regresso às exportações baratas de gás russo podem subir de tom”, escreve Tatiana Orlova.
“Uma transição mais gradual em relação ao gás russo, em linha com a já anunciada meta de 2027, seria benéfica para a indústria e os consumidores europeus e reduziria as pressões orçamentais de curto-prazo”, acrescenta.
“Os incentivos para a Europa chegar a um compromisso com a Rússia no fornecimento de gás podem aumentar, mas terão de ter em consideração os objetivos políticos de apoio à Ucrânia”, realça. Um agravamento do conflito poria em causa esse caminho.
A Rússia quer usar a dependência da UE para garantir que a sua indústria do gás não é alvo de novas sanções, além de outras concessões. No entanto, Tatiana Orlova considera que, “no médio prazo, é do interesse da Rússia retomar as exportações para a Europa (mesmo que não a 100% dos volumes pré-guerra) e conseguir receitas até que a infraestrutura para levar o gás natural até à Ásia esteja concluída.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
UE e Rússia ganhariam com trégua na guerra do gás, diz Oxford Economics
{{ noCommentsLabel }}