EUA defendem tarifas sobre importações chinesas até que Pequim abra economia
"Os chineses têm perseguido um modelo que é diferente do nosso", disse a representante comercial dos EUA, Katherine Tai.
Os Estados Unidos (EUA) deverão manter tarifas sobre importações chinesas até que Pequim adote princípios económicos e comerciais mais orientados para o mercado, “com uma separação clara entre Governo e Estado”, defendeu a representante comercial norte-americana.
“Acho que o que realmente queremos da China, em termos de economia e comércio, é que a economia chinesa opere de acordo com normas que sentimos incorporadas em organizações como a Organização Mundial do Comércio, que são baseadas no mercado aberto, com uma separação clara entre governo e estado e mercado e economia. Os chineses têm perseguido um modelo que é diferente do nosso“, disse a representante comercial dos EUA, Katherine Tai.
Num evento virtual organizado pela instituição ‘Carnegie Endowment for International Peace’, na quarta-feira, Katherine Tai defendeu que é “absolutamente possível” ter uma discussão comercial com a China, mas avaliou que os EUA estão estruturados de forma diferente, regidos por diferentes filosofias e princípios, pelo que algumas formas de competição entre os dois países “não lhe parecem justas”.
“Até ao dia em que a China escolha um caminho para que a sua economia funcione mais como a nossa, precisamos de ter ferramentas mais eficazes para garantir que possamos continuar a competir e a permitir que a nossa economia prospere de acordo com os princípios em que é construída”, acrescentou.
“Essa é uma combinação das tarifas que estão em vigor”, frisou Katherine Tai, após vários meses de especulação sobre se a administração de Joe Biden aliviaria as tarifas punitivas que foram implementadas contra a China há quatro anos pelo seu antecessor, Donald Trump.
No início deste mês, o governo dos Estados Unidos tinha anunciado que vai manter, nesta fase, as tarifas punitivas contra os chineses, que deviam ter terminado entre julho e agosto. “As tarifas não expiraram no seu aniversário de quatro anos”, referiu o Representante do Comércio da administração norte-americana (USTR, na sigla em inglês) em comunicado.
“Representantes das indústrias nacionais indicaram que beneficiaram da ação comercial de várias maneiras”, detalhou o USTR, no documento em que justifica a decisão. Alguns setores acreditam, por exemplo, que “incentiva o governo chinês a interromper as políticas e práticas visadas pela ação tarifária”, ou que “permitiu competir com as importações chinesas, investir em novas tecnologias, aumentar a produção nacional e contratar trabalhadores adicionais”.
As empresas também apontam que esta medida “ajudou a combater práticas competitivas desleais resultantes das políticas e práticas de transferência de tecnologia da China e a incentivar melhores políticas e práticas”. Uma primeira série de tarifas alfandegárias punitivas foi implementada em 06 de julho de 2018, antes de três outras, que representam um total equivalente a 350.000 milhões de dólares em importações anuais do gigante asiático.
Donald Trump tinha tomado estas medidas em retaliação às práticas comerciais chinesas consideradas “injustas”, denunciando na altura o “roubo” de propriedade intelectual ou a transferência “forçada” de tecnologia. No evento desta quarta-feira, Katherine Tai foi confrontada com o facto de os Estados Unidos enfrentarem o ambiente comercial mais desafiador em décadas e afirmou que há uma sensação generalizada, em vários países, de que a desigualdade está a aumentar.
Nesse sentido, Tai defendeu a visão de Joe Biden para fazer crescer a economia “de baixo para cima, e do meio para fora, de forma a reforçar o crescimento da prosperidade”. “A liberalização levou-nos a um ponto onde, essencialmente, empresas deram o incentivo para perseguir e maximizar a eficiência. Isso significa minimizar os seus custos e maximizar as suas receitas. Penso que uma lição que aprendemos com toda esta perturbação é que a eficiência sozinha criou esta frágil economia global que estamos a conter agora”, observou.
“A ideia é não abandonar a eficiência, mas ter a certeza que a eficiência não é o único incentivo que motiva as atividades económicas. Estamos também a incentivar à resiliência e muito disso significa incentivar empresas e participantes económicos a considerarem o risco ao tomarem as suas decisões”, explicou. A crise climática é outro aspeto referido por Tai, classificando-a como “urgente” face às necessidades económicas globais.
A solução, na visão da represente norte-americana, passa por trabalhar em conjunto com parceiros e aliados, de forma a perseguir uma série de objetivos que irão resultar numa versão mais resiliente de globalização. “Acho que ainda ninguém descobriu como fazer isso. Mas nós, como Estados Unidos, precisamos de estar na vanguarda e descobrir como implementar essas ferramentas mais tradicionais, incluindo a liberalização do comércio, de forma a fazê-las servir uma série de propósitos em torno da resiliência, mas também da sustentabilidade em relação ao nosso planeta, assim como do tratamento das pessoas e trabalhadores numa economia global”, afirmou.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
EUA defendem tarifas sobre importações chinesas até que Pequim abra economia
{{ noCommentsLabel }}