FMI mais pessimista que o Governo vê Portugal a crescer 0,7% em 2023, com inflação de 4,7%
Economia vai abrandar de 6,2% em 2022 para 0,7% no ano seguinte, recuperando para 1,9% em 2024. "O pior ainda está para vir", alerta o FMI. Inflação vai desacelerar para 4,7%.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) está mais pessimista do que o Governo português quanto à evolução da economia nacional. Se António Costa antecipa, na proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) entregue esta segunda-feira, que Portugal vai crescer 1,3% no próximo ano, a instituição liderada por Kristalina Georgieva aponta para um crescimento de 0,7% — ainda assim, um desempenho superior aos 0,5% esperados pelo FMI para a Zona Euro.
No relatório publicado esta terça-feira com as previsões mundiais — que apontam para um crescimento de 3,2% este ano, que abranda para 2,7% no próximo, com 25% de probabilidade de ser mesmo inferior a 2% — o FMI considera que “o pior ainda está para vir e, para muitas pessoas, 2023 vai parecer uma recessão”.
Para Portugal, a afirmação encaixa como uma luva, porque a economia vai abrandar de 6,2% em 2022 para 0,7% no ano seguinte, recuperando para 1,9% em 2024. Por comparação, o OE2023 aponta para um crescimento de 6,5% este ano e 1,3% no próximo. E o Conselho das Finanças Públicas (CFP) para 6,7% este ano, 1,2% em 2023 e 2% em 2024, numa base de políticas invariantes, ou seja, que não tem em conta as medidas que o Governo vai tomar, nomeadamente no Orçamento.
O FMI é ainda mais pessimista relativamente aos principais parceiros comerciais de Portugal. Alemanha, o principal motor da economia europeia, vai mesmo sofrer uma contração de 0,3%, tal como Itália, que cairá 0,2%. Já França crescerá 0,7% como Portugal, e Espanha deverá abrandar para 1,2% no próximo ano. O Reino Unido deverá crescer apenas 0,3% e os Estados Unidos 1%. O Fundo considera que as principais economias mundiais vão “estagnar”.
Este abrandamento do crescimento vai ser acompanhado de um aumento de quatro décimas na taxa de desemprego — que se deverá fixar em 6,5% em 2023 (o Executivo aponta para 5,6%), ainda assim abaixo da média da Zona Euro (7%) –, num ambiente de inflação elevada. É claro que em todos os países para os quais existem previsões haverá um abrandamento dos preços face a 2022, mas os valores estão muito acima da meta de 2% defendida, por exemplo, pelo Banco Central Europeu: o FMI aponta para uma taxa de inflação de 7,9% este ano, que desacelerará para 4,7% em 2023. Só em 2027 é que o Fundo vê a fasquia novamente nos 2% em Portugal.
Na proposta de OE2023, o Governo antecipa uma inflação de 7,4% este ano, que deverá abrandar para 4% em 2023. Uma previsão mais otimista do que a dos economistas do FMI, e que o próprio CFP considera estar sujeita “a um risco de natureza ascendente” tendo em conta o facto de Portugal ser “uma pequena economia aberta”.
Sugestivamente intitulado “Combatendo a crise do custo de vida”, o relatório do FMI alerta que “a pressão dos preços se tem revelado bastante teimosa e uma grande fonte de preocupação para os legisladores”. “As crescentes pressões dos preços continuam a ser a principal ameaça imediata à prosperidade atual e futura ao reduzir os rendimentos reais e comprometendo a estabilidade macroeconómica”, pode ler-se no relatório, que destaca ainda o foco dos bancos centrais em restabelecer a estabilidade dos preços, sendo que existe risco de “apertarem demais ou de menos” as condições de mercado.
Mas os desafios não são apenas para os bancos centrais. O FMI diz que “definir a política orçamental apropriada tendo em conta a justaposição da crise energética, de custo de vida e alimentar tornou-se um desafio premente para muitos países”. Para os países onde a pandemia está a recuar, claramente é tempo de “reconstruir as almofadas orçamentais”, porque, “tal como a pandemia o demonstrou, ter margem orçamental é fundamental para lidar com as crises”.
Enquanto isso, “a política orçamental não deve contrariar os esforços das autoridades monetárias para reprimir a inflação”. Fazê-lo só vai prolongar ainda mais a luta para travar a escalada dos preços, alerta a instituição.
Num relatório que não deixa de sublinhar as “significativas disrupções geopolítica” geradas pela guerra na Ucrânia — economia que, este ano, deverá sofrer uma contração de 35% — o FMI prevê ainda para Portugal um desagravar do défice das contas externas para 0,4%, contra os 1,1% de défice deste ano, um saldo que está em terreno negativo desde 2020. As previsões relativas ao défice orçamental e à dívida pública serão divulgados mais tarde, no chamado Fiscal Monitor.
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