Investimento em tecnologia climática perto dos 40 mil milhões, mas proteção dos oceanos fica para trás
Tecnologia climática é considerada uma "classe de ativos que está a amadurecer rapidamente" e, embora esteja a atrair investimento, existem preocupações relativamente à proteção dos oceanos.
O investimento na indústria das tecnologias verdes ascendeu aos 26 mil milhões de dólares em 2022 e, ao que tudo indica, deverá voltar a ultrapassar a margem dos 40 mil milhões de dólares, registada em 2021, até ao final deste ano.
Segundo Seth Bannon, fundador e partner do fundo de investimento climático norte-americano Fifty Years, a tendência revela que o mercado das tecnologias climáticas está a acompanhar as necessidades da atualidade, tanto na mitigação como na prevenção contra as alterações climáticas. E, embora as previsões inicias apontassem para um abrandamento neste tipo de investimento, o norte-americano admitiu “estar aliviado” por estar errado, uma vez que os dados mais recentes do setor indicam o contrário.
“Em 2021, existiam 72 fundos de investimento em climate tech que investiram 40 mil milhões de dólares em tecnologia climática”, respondeu durante a sua intervenção na a sessão dedicada ao tema na Web Summit. “No início deste ano, previa que esse valor fosse inferior, mas estou feliz por dizer que tudo indica que vou estar errado. Na primeira metade deste ano já tinham sido investidos 26 mil milhões de dólares. Parece-me que estamos a aproximar-nos de mais uns 40 mil milhões em climate tech este ano. Existe um claro interesse em querer investir neste mercado”, frisou.
Numa análise publicada pela PwC, a consultora afirmava que o mercado da tecnologia climática era “uma classe de ativos que está a amadurecer rapidamente, oferecendo aos investidores retornos financeiros significativos”. Segundo o documento, a tecnologia climática foi muito além de uma prova de conceito e a análise encontra “novos investidores a entrarem, cada vez mais, no mercado todos os anos”.
Entre as soluções mais desenvolvidas e com maior atratividade, estão as tecnologias viradas para a adaptação contra fenómenos extremos potenciados pelas alterações climáticas. Mas para Seth Bannon, o importante é que a prioridade seja o desenvolvimento de tecnologias que visam mitigar os efeitos ao invés de os “aceitar”, tal como permitem as tech de adaptação. “Adaptação é a solução pré-definida. A energia [da Fifty Years] está focada em prevenir a crise climática”, frisou.
Questionado sobre se esta indústria, avaliada em três biliões de dólares (cerca de 2,94 biliões de euros), tem estado a alocar esforços para proteger também os países que, por norma, estão mais expostos e vulneráveis aos efeitos climáticos mais extremos – nomeadamente, os países insulares, costeiros ou do continente africano ou asiático – o fundador respondeu afirmativamente, argumentando que se for retirada “uma tonelada de CO2 da atmosfera, independentemente de onde seja, estamos a ajudar toda a gente, em todo o lado”.
Apesar de estar claro que a inovação e tecnologia virada para o clima estão a florescer, existem algumas preocupações relativamente à proteção dos oceanos, tal como já tinha sido alertado durante a Cimeira dos Oceanos promovida pelas Nações Unidas e que decorreu, este ano, em Lisboa.
Num pequeno workshop na Web Summit, a bióloga marinha Deborah Brosnan reuniu cerca de 20 espetadores – jovens participantes, investidores, jornalistas entre outros curiosos de várias nacionalidades – e levantou a questão que deixou muitos sem resposta por breves instantes: “quando falamos na proteção dos oceanos, por onde devemos começar?”.
Após o compasso de espera, ouvia-se “mais investimento”, “mais interesse” e uma “maior aposta no desenvolvimento de novas tecnologias” que visam proteger este recurso como algumas das soluções. No entanto, para a cientista também é importante que seja feita “mais investigação” sobre os oceanos e o estado de degradação deste recurso. “Perdemos mais corais num dia do que aqueles que restauramos numa década”, alertou a britânica.
A falta de conhecimento sobre o fundo do mar já tinha sido alertada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em Lisboa, onde alertaram que “a atual descrição [dos oceanos] está muito incompleta” e que “a falta de referências de confiança sobre o conhecimento” deste recurso comprometem os objetivos que visam protegê-los.
A preocupação foi também destacada pelo CEO da Startup Portugal como um dos problemas que tem impedido um melhor desenvolvimento deste setor. “Precisamos de conhecer melhor o fundo do mar para saber onde e como temos de agir”, dizia António Dias Martins, numa sessão na Web Summit sobre a economia azul.
Certo é que é na Europa onde residem a maioria das startups dedicadas à economia azul e Portugal é o país de referência para este setor.
Segundo os dados da Startup Genome, apresentados na Web Summit, Sillicon Valley, nos Estados Unidos, deixou de ser a principal casa destas tecnologias e atualmente 29% de todas as tecnologias com atividade na economia azul residem no bloco europeu. Entre os setores que atraem mais investimento, destacam-se a aquacultura, energia marinha e transporte, ainda que para o CEO da Startup Portugal, a produção de materiais reciclados, investigação e recolha de dados sobre o fundo do mar e tecnologias marinha sejam as três áreas “com maior potencial de crescimento nos próximos anos”.
Para António Dias Martins, “Portugal é uma referência no setor da economia azul”, mas “existem outros desafios” que impedem “colocar este setor como uma prioridade”. Além da falta de conhecimento, Dias Martins apela a uma maior participação e interesse do setor privado. “Não seremos capazes de fazer deste setor uma área de negócio atrativa e sustentável se não tivermos investimento”. Para tal, argumenta, as empresas e fundos privados de investimento devem começar a olhar para o potencial deste setor, deixando a garantia de que é “rentável” e que é possível “recuperar o valor do investimento”.
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