Impacto da migração global deverá atingir 19 mil milhões de dólares por ano até 2050

Embora a migração transfronteiriça gere atualmente um produto económico anual de cerca de 8,5 mil milhões de euros, este valor poderá mais do que duplicar até 2050, revela a BCG.

A pandemia, a aceleração das alterações climáticas e a incerteza dos contextos geopolíticos e económicos provocaram a migração de milhões de pessoas desde o início de 2022. Embora a migração transfronteiriça gere atualmente um produto económico anual de cerca de nove mil milhões de dólares (cerca de 8,5 mil milhões de euros), este valor poderá mais do que duplicar até 2050, para cerca de 20 mil milhões de dólares por ano (o equivalente a 18,9 mil milhões de euros), segundo o relatório da Boston Consulting Group (BCG), em colaboração com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

“É essencial que as empresas mudem de atitude em relação à migração se querem ganhar uma vantagem competitiva”, afirma Johann Harnoss, partner & associate director de Inovação da BCG.

“O que é hoje um custo de oportunidade de mais de um mil milhão de dólares pode tornar-se numa oportunidade de 20 mil milhões de dólares até 2050. Há certamente um business case em relação à migração, mas permitir que esta seja segura e legal é também uma questão de justiça global”, acrescenta, em comunicado.

Atualmente, mais de 280 milhões de pessoas — 3,6% da população mundial — vivem fora do país onde nasceram. Durante as últimas cinco décadas, os Estados Unidos da América têm sido o principal destino dos migrantes. Em 2020, foi o lar de mais de 50 milhões de imigrantes, seguidos pela Alemanha (16 milhões) e pela Arábia Saudita (13 milhões). Nesse mesmo ano, aproximadamente 169 milhões de imigrantes eram trabalhadores, dos quais 70 milhões eram mulheres.

A migração como prioridade estratégica

Apesar de 72% dos executivos inquiridos pela BCG acreditarem que a migração é benéfica para o desenvolvimento do país, 95% dos CEO afirmarem que pretendem criar equipas mais diversas a nível global e 80% admitirem que tomam algumas medidas a esse respeito, apenas 5% o faz de forma a garantir um impacto de longo prazo. Além disso, a migração não consta da lista das cinco principais preocupações sociais dos líderes empresariais, que são a pobreza mundial, o clima e a sustentabilidade, a estabilidade geopolítica, a educação e a automatização.

Apesar das inegáveis contribuições dos migrantes para as economias globais, ainda há trabalho significativo a fazer para defender os direitos dos migrantes e capitalizar todo o seu potencial. Investir em migração segura, ordenada e digna não é apenas o mais correto, mas também o mais inteligente a fazer para o setor privado.

Ugochi Daniels

Diretor-geral adjunto da OIM

“Apesar das inegáveis contribuições dos migrantes para as economias globais, ainda há trabalho significativo a fazer para defender os direitos dos migrantes e capitalizar todo o seu potencial”, defende Ugochi Daniels, diretor-geral adjunto da OIM.

“Investir em migração segura, ordenada e digna não é apenas o mais correto, mas também o mais inteligente a fazer para o setor privado”.

As organizações com um elevado número de imigrantes na sua equipa de liderança relatam em média uma rentabilidade cerca de 15% mais elevada – 2,2 pontos percentuais, medida pelos ganhos antes de juros e impostos em termos de vendas – e têm 75% mais de probabilidade de serem líderes em inovação a nível mundial. Em 2020, 28% das 2.000 maiores empresas cotadas em bolsa do mundo revelaram a cidadania dos seus membros do conselho de administração e da sua equipa de liderança executiva, e concluíram que 26% dos executivos a nível de conselho de administração eram de um país que não o da sede da empresa.

Escassez de mão de obra custa mais de 1,2 mil milhões de euros

A escassez global de trabalhadores atingiu um ponto máximo em meados de 2022, com deficiências mais pronunciadas nos Estados Unidos, China, Alemanha, Reino Unido e Canadá. Numa análise da BCG às 30 maiores economias do mundo, foram identificados 30 milhões de postos de trabalho em aberto. Entre os vários tipos de competências, a escassez estrutural de mão de obra está a custar a estes países mais de 1,2 mil milhões de euros por ano.

“Embora a prática de salários mais elevados, a automatização, a educação e a requalificação sejam todos necessários para resolver este problema, as empresas devem também aceitar a migração”, defende a consultora.

O relatório estima que, se a migração colmatasse apenas 20% da lacuna projetada entre os países que esperam uma diminuição da população e os que esperam um crescimento, o seu valor económico aumentaria para valores entre os 12 e os 24 mil milhões de euros por ano até meados do século XXI.

“Líderes inovadores reconhecerão que a migração é mais do que uma causa humana. É tanto uma oportunidade de negócio como uma oportunidade social que promove o bem-estar económico, a inovação e a competitividade global”, acrescenta Janina Kugel, senior advisor da BCG, membro não executivo do conselho de administração e ex-diretora de recursos humanos da Siemens.

Estratégias para as empresas adotarem a migração

Embora os casos económicos e humanitários para a migração sejam claros, as empresas também têm um papel importante. O relatório, intitulado “Questões de Migração: Uma Causa Humana com um Business Case de 20 biliões de dólares”, destaca mais de 20 ações baseadas em três estratégias-chave que as empresas podem implementar para empregar, elevar e incluir os migrantes no local de trabalho.

Desenvolver uma estratégia global para o talento — adotando novas normas linguísticas, globalizando contratações e permitindo operações mais remotas –, implementar uma estratégia de inovação global — aproveitando a variedade cognitiva de equipas globalmente diversas, através da criação de redes de migração e de programas de “externship” — e defender os direitos humanos a nível global — aceitando e protegendo os direitos dos migrantes antes, durante e depois da migração, e assegurando que as práticas empresariais estão alinhadas com os padrões internacionais de trabalho — são algumas das recomendações.

Consulte o relatório na íntegra aqui.

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