Empresas têm de aprender a “surfar” para aproveitar nova onda tecnológica
Futuro do crescimento da economia vai depender do diálogo com os trabalhadores e do aproveitamento das novas tecnologias para aumentar a produtividade.
As empresas portuguesas enfrentam uma onda tecnológica em pleno ano de 2023. Inovações como o ChatGPT e o 5G estão a subir a maré da exigência na tomada de decisões. Entre o desafio e a oportunidade destas ferramentas, a CIP organizou nesta segunda-feira uma conferência sobre o futuro do crescimento da economia, na Porto Business School. Foi a poucos quilómetros das praias de Matosinhos que se falou na necessidade de aproveitar a nova vaga tecnológica.
“Perante um mar destes, podemos esconder-nos e levar com a onda. Ou então fazer como um surfista e aproveitar a onda para levá-lo mais longe, ao destino”. O mote da empresa como surfista foi lançado pelo líder da equipa de assuntos legais da Microsoft em Portugal, Pedro Duarte.
A manhã acabou por ser passada com as empresas a tentarem vestir o fato e agarrar na prancha para apanhar a onda. Exemplo disso é a Sonae MC, empresa dona do Continente. “Não temos de competir com a tecnologia mas juntarmo-nos a ela sem deixar ninguém para trás. Para isso, a requalificação tem de ser planeada, mas acho que isto não está a acontecer em Portugal”, critica Isabel Barros, administradora executiva da Sonae MC.
“São necessárias competências socioemocionais para lidar com processos de adaptação cada vez mais rápidos. Processos destes fazem-nos lidar com as nossas inseguranças e os nossos medos”, sinalizou o bastonário da Ordem dos Psicólogos. Francisco Miranda Rodrigues considera que a gestão das pessoas “tem de ser feita de forma diferente” e que quem lidera “tem um desafio tremendo, de olhar para si próprio e perceber se tem ou não tem as competências” necessárias. A líder da Sonae MC entende que “os líderes precisam de algum suporte, sobretudo num momento em que são cada vez mais necessárias experiências individualizadas para os trabalhadores”.
Não temos de competir com a tecnologia mas juntarmo-nos a ela sem deixar ninguém para trás. Para isso, a requalificação tem de ser planeada mas acho que isto não está a acontecer em Portugal
Ainda no capítulo da gestão, as opiniões dividiram-se sobre se a mudança pode ser feita apenas com a atual equipa ou se são necessários reforços. “Há escassez de pessoas e é preciso usar o talento que já existe dentro das empresas e prepará-lo para as mudanças”, defende o líder da Manpower em Portugal, Rui Teixeira. “Substituir as pessoas não é a primeira opção, porque há os custos pessoais”, acrescentou Francisco Miranda Rodrigues. Em sentido contrário, Isabel Barros suporta a “estratégia de combinação com o talento interno com as pessoas que estão fora da organização“.
Tática personalizada e menos horas de trabalho
A onda tecnológica não pode ser surfada da mesma maneira dentro de uma empresa. “É preciso conhecer as pessoas para aplicar táticas. Precisamos de informação fidedigna para tomar decisões corretas e não arriscar, simplesmente. Também é preciso passar informação, envolvendo as pessoas”, entende o psicólogo. Rui Teixeira entende que escolas e universidades “têm de preparar os alunos para um mundo mais prático do que simplesmente teórico”.
“No retalho, é simples imaginar quais são as funções que vão ter menos preponderância. Haverá a digitalização de um conjunto de processos. Por outro lado, haverá maior relação com o cliente. Há situações em que temos de atuar com maior profundidade, o que leva bastante tempo”, avalia Isabel Barros, que é favorável ao planeamento da transição por um período de cinco anos.
É preciso conhecer as pessoas para aplicar táticas. Precisamos de informação fidedigna para tomar decisões corretas e não arriscar, simplesmente. Também é preciso passar informação, envolvendo as pessoas
Houve ainda tempo para falar dos projetos-piloto para a semana de quatro dias e a diminuição da carga horária. “A redução do tempo de trabalho efetivo pode contribuir para aumentar a produtividade e melhorar o bem-estar” considera Francisco Miranda Rodrigues. Ainda sobre a questão laboral, o psicólogo defende “muito mais autonomia e muito menos microgestão sobre os trabalhadores”.
Decidir em menos de um piscar de olhos
O ChatGPT pode ser o mais recente ingrediente da onda tecnológica, mas o 5G, a inteligência artificial e a computação quântica já andam na navegação das empresas há mais tempo e com maior importância para tomar decisões. Só que “o elemento humano é a maior barreira à adoção da tecnologia”, para João Ricardo Moreira.
Para o administrador da Nos, “há gente que continua a fazer a negação da ciência na tomada de decisões. Somos mal-agradecidos pela quantidade de tecnologia que nos liberta para atividades mais criativas“. Entre as soluções, com a tecnologia 5G, é possível decidir “em tempo real com base no conhecimento acumulado no mundo”. Com a computação quântica “é possível processar muitas coisas em pouco tempo”.
Manuela Vaz Soares salientou a “importância do uso dos dados e da inteligência artificial na transformação das empresas“. A vice-presidente da Accenture Portugal notou que “a inércia é muito grande” dentro das empresas quando se pretendem usar as novas ferramentas. A gestora também valorizou a necessidade de se testar o metaverso e a computação quântica.
Pedro Amorim chamou a atenção para o facto de a análise de dados “poder ajudar, por exemplo, na construção de modelos de previsão”. O professor da Porto Business School entende que a tecnologia “permite a criação de valor para empresas de todas as dimensões”.
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