“Havia desentendimento forte” entre gestores da TAP, diz ex-secretário de Estado
Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas, diz que reuniu duas vezes com ex-CEO, antigo presidente e administrador financeiro da TAP. Correu mal.
Hugo Mendes, antigo secretário de Estado das Infraestruturas no ministério liderado por Pedro Nuno Santos, relatou esta quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito à TAP que passou a reunir separadamente com os principais gestores da companhia, depois de os primeiros encontros conjuntos terem corrido mal.
O antigo governante foi confrontado com as declarações do antigo presidente do conselho de administração da companhia aérea, Manuel Beja, que na sua audição criticou a falta de resposta da tutela. Hugo Mendes disse aos deputados que fez duas reuniões com a ex-CEO, o presidente do conselho de administração e o administrador financeiro. “Correu mal”, disse. “Percebi que havia um desentendimento. Forte”, relatou, sem no entanto relevar os temas da discordância.
O ex-secretário de Estado optou, por isso, por separar os encontros com os gestores. “Foi meu entendimento segmentar as reuniões. Não queria estar a mediar o que me pareceu serem tensões entre administradores“, afirmou.
Hugo Mendes garantiu que nunca se furtou a prestar informação a Manuel Beja e rejeitou que tenha deixado o antigo chairman sem resposta quanto à substituição dos administradores não executivos que foram saindo da companhia. O ex-secretário de Estado remeteu-o para o ministro e justificou o atraso na resposta com a mudança de Governo. “Não fui força de bloqueio. A legitimidade democrática era mais importante do que a pressa do Dr. Manuel Beja”.
Leu depois uma mensagem trocada com o ex-presidente do conselho de administração para ilustrar que, vários meses depois, Manuel Beja não tinha ainda uma “short list” de nomes para os lugares. Mais tarde, sugeriu um ex-administrador da Air France, disse. “Quando estamos em processo de abertura de capital e a Air France – KLM é um dos potenciais interessados se calhar não é boa ideia”, atirou.
Hugo Santos Mendes foi secretário de Estado das Infraestruturas de Pedro Nuno Santos entre 30 de março de 2022 e 4 de janeiro de 2023. Demitiu-se na sequência do caso da indemnização de 500 mil euros à antiga administradora Alexandra Reis. No Executivo anterior, tinha sido Secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, também com o ministro das Infraestruturas e Habitação, de quem foi chefe de gabinete entre 2019 e 2020. Licenciado em Sociologia e mestre em Políticas Públicas pelo ISCTE, começou a trabalhar em governos socialistas em 2006, como assessor da Ministra da Educação.
A audição do antigo braço direito de Pedro Nuno Santos é a primeira de uma série de audições de peso esta semana, as últimas da CPI. Amanhã será a vez do antigo ministro das Infraestruturas e na sexta-feira do ministro das Finanças, Fernando Medina.
A comissão parlamentar de inquérito para “avaliar o exercício da tutela política da gestão da TAP” foi proposta pelo Bloco de Esquerda e aprovada pelo Parlamento no início de fevereiro com as abstenções de PS e PCP e o voto a favor dos restantes partidos. Nasceu da polémica sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis para deixar a administração executiva da TAP em fevereiro de 2022, mas vai recuar até à privatização da companhia em 2015. Tomou posse a 22 de fevereiro, estando a votação do relatório final prevista para 13 de julho.
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