“Saudades da geringonça”, “arrumar a casa” e “deriva autoritária”. Os recados dos partidos após reunião com Marcelo
O Presidente da República ouviu esta tarde o Livre, o PAN, o BE e o PCP sobre a situação económica, social e política do país. Os restantes partidos serão ouvidos segunda-feira.
O Livre, o PAN, o Bloco de Esquerda e o PCP estiveram reunidos esta tarde com Marcelo Rebelo de Sousa para mostrar as suas preocupações e análises sobre a situação económica, social e política do país. Pedem maior diálogo, mais respostas para o país, menos “casos e casinhos” e mostram-se preocupados com a possibilidade de um Governo de direita.
Enquanto o Livre disse sentir que o país tem “saudades bastante grandes da geringonça”, o PAN foi a Belém dizer ao chefe de Estado que o primeiro-ministro precisa de “arrumar a casa e garantir que, de uma vez por todas, deixam de haver casos e casinhos”. Já o BE criticou a “deriva autoritária”, referindo-se especialmente à comissão de inquérito à TAP. O PCP, por sua vez, defendeu que é preciso “romper com as políticas de empobrecimento”, que apenas “correspondem aos interesses dos grandes grupos económicos”.
O Presidente da República começou esta sexta-feira a receber os partidos políticos com assento parlamentar no Palácio de Belém. Começou, por ordem crescente de representação parlamentar, pelo Livre, tendo-se seguido o PAN e o BE. Está, agora, reunido com o PCP. As audiências com os partidos serão retomadas na próxima segunda-feira, com os restantes quatro partidos (Iniciativa Liberal, às 17h00, Chega, às 18h00, PSD, às 19h00, e PS, às 20h00).
A intenção do chefe de Estado é ouvir os partidos sobre “tudo o que é trabalho do Parlamento e tudo o que é a análise da situação política”.
Livre: País tem “saudades bastante grandes da geringonça”
Rui Tavares foi o primeiro deputado a ser ouvido em Belém. À saída da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, o fundador do Livre, mostrou-se preocupado com a forma como o Partido Socialista está a governar em maioria absoluta. “É preciso que o PS faça o que prometeu, que é uma maioria absoluta dialogante. E o nosso diagnóstico é que está muito longe de cumprir essa promessa”, atirou, em declarações emitidas pela RTP3.
“O Livre tem pedido reuniões com os ministérios por várias vezes. Os senhores ministros e as senhoras ministras, ou porque não têm indicação por parte do primeiro-ministro ou por não terem eles próprios essa capacidade de mobilização política, também poderiam pedir reuniões com os grupos parlamentares, e não o fazem. Desse ponto de vista, sente-se que há na população saudades bastante grandes da geringonça, durante a qual era necessário dialogar porque não havia uma maioria absoluta“, defende Rui Tavares.
Uma crise política poderá ser evitada caso o PS mude de postura, afirmou ainda. “Evitando, como se costuma dizer popularmente, que o país ‘salte da frigideira para o lume’, ou seja, saltando para uma situação de incerteza em relação ao nosso futuro político, e com uma possibilidade de uma maioria absoluta de direita e extrema direita (…) Infelizmente, fica cada vez mais evidente que a direita em Portugal estaria bastante aberta – por mais que tente, às vezes, evitar o assunto – a governar com a extrema direita. O Livre está cá para evitar esse cenário”, conclui.
PAN: “Cabe a António Costa arrumar a casa”
Também o PAN apelou a mais diálogo e mais respostas para o país. “Cabe a António Costa arrumar a casa e garantir que, de uma vez por todas, deixam de haver casos e casinhos e que o país continue perdido neste problema da maioria absoluta“, disse Inês Sousa Real.
“António Costa tem de estar focado no país e no diálogo com a Assembleia da República, e vai ter já esta oportunidade, repondo, por exemplo, os debates quinzenais na Assembleia”, acrescentou ainda.
Pedindo a Marcelo que se mantenha “vigilante”, porta-voz do PAN mostrou-se também preocupada com um desfecho político diferente. “Os únicos que têm a ganhar com toda esta instabilidade são as forças políticas anti-democráticas (…) Se há algo que não pode acontecer – e aí Portugal teria muito a perder – é que o populismo anti-democrático saía a ganhar.”
BE: Governo está em “deriva autoritária”
Já o Bloco de Esquerda transmitiu ao chefe de Estado os seus receios sobre a “deriva autoritária” em que mergulhou o Governo. “Vimos essa deriva quando um ministro tenta interferir com a televisão pública. Vimos essa deriva quando, perante perigosas e gravíssimas suspeitas de corrupção no Ministério da Defesa, o primeiro-ministro diz que os portugueses não querem saber da corrupção (como se algum português não quisesse saber). Vimos essa deriva no caso da comissão de inquérito à TAP”, justificou Mariana Mortágua.
Sobre o relatório que saiu da comissão de inquérito, a coordenadora do Bloco lamentou que o documento não reflita a verdade dos factos. “A atuação do ministro João Galamba é totalmente omitida no relatório da comissão de inquérito. Nunca tinha visto um relatório de comissão de inquérito que apaga uma parte da história, que apaga audiências, factos e documentos que foram analisados no âmbito da comissão. (…) Tem uma única preocupação: o ilibar o Governo.”
Mariana Mortágua lamentou ainda que o Governo não resolva nenhum dos problemas do país, destacando a crise na habitação, a falta de médicos e de professores. Em vez disso, está preocupado em “encontrar expedientes perante a sua própria incapacidade, incompetência ou falta de vontade, que acabam por ter tiques de autoritarismo e que tentam, com o poder da maioria absoluta, apagar as exigências de transparência e escrutínio e ocultar a falta de respostas”, atirou.
PCP: “Romper com políticas de empobrecimento que favorecem grupos económicos”
O último partido a ser ouvido pelo Presidente da República esta tarde foi o PCP, que, à saída da reunião, defendeu que “é preciso romper com políticas de empobrecimento (…) que acabam por corresponder aos interesses dos grandes grupos económicos e dos seus lucros”. “Nesse rumo, ao serviço dos grupos económicos, PS, PSD, Iniciativa Liberal e Chega alinham perfeitamente”, afirmou Paulo Raimundo.
O secretário-geral do PCP disse ainda que aumentar salários, investir nos serviços públicos e pôr os lucros da banca a pagar o aumento das taxas de juro, não só “possível”, como também é “urgente”.
Sobre a maioria absoluta socialista, Paulo Raimundo defendeu que “o PS está a utilizar a sua maioria absoluta como “poder absoluto“. “Tem procurado fazer esta ou aquela operação de simulação de diálogo, mas nas questões de fundo reflete, decide e implementa”, concluiu.
(Notícia atualizada com as declarações do PCP às 19h05)
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