Salvar a Groundforce pode custar 25 milhões à TAP e Menzies

O novo acionista e companhia aérea serão os únicos subscritores do aumento de capital de 4,98 milhões. Plano de insolvência prevê injeção de mais 20 milhões.

A britânica Menzies vai pagar 2,5 milhões de euros por 50,1% da Groundforce, enquanto a TAP mete 2,48 milhões através da conversão de créditos para ficar com o restante capital. A conta não deverá, no entanto, ficar por aqui. O plano de insolvência prevê que coloquem até mais 20 milhões para reforçar o balanço da empresa de assistência em terra.

O documento, que será votado pelos credores a 27 de setembro, detalha como a Menzies e a TAP pretendem garantir a sustentabilidade financeira da SPdH, mais conhecida pelo seu nome comercial: Groundforce. O plano preliminar, noticiado pela Lusa e consultado pelo ECO, prevê desde logo uma recomposição do capital.

Começa com uma redução de 500 mil euros para zero, para cobertura de prejuízos. O que extingue a participação de 50,1% da Pasogal (pertencente ao empresário Alfredo Casimiro), de 43,9% da TAP SA e de 6% da Portugália, como avançou o ECO. Segue-se um aumento de capital de 4,98 milhões, dos quais 2,5 milhões são subscritos pelo novo acionista, a britânica Menzies, detida pela Agility, do Koweit. Os restantes 2,48 milhões cabem à TAP, através da conversão de parte dos 15,5 milhões que a Groundforce lhe deve.

Mas o esforço dos novos acionistas não deverá ficar por aqui. De acordo com o documento preliminar, a Menzies e a TAP “obrigam-se a realizar suprimentos” sempre que “se verificarem necessidades de capitais próprios da empresa em consequência da implementação das medidas de reestruturação previstas no Plano de Insolvência ou para
investimento, após deliberação do conselho de administração”.

O investidor britânico compromete-se a colocar até 10 milhões de euros adicionais. Mas só o fará se também a TAP entrar, na respetiva proporção do capital (49,9%), com um limite de 9,96 milhões. No caso da companhia aérea, através da conversão de créditos em capital, dos quais já não será ressarcida.

Somando o aumento de capital com os suprimentos, a Menzies e a companhia aérea poderão ter de investir 24,94 milhões na Groundforce. Uma forte possibilidade, uma vez que o plano prevê medidas de reestruturação e um plano de investimentos.

Recuperação depende saída de trabalhadores

Apesar da recuperação do transporte aéreo e das receitas da empresa de handling, a sustentabilidade a prazo depende de poupanças nos custos com pessoal, que o documento cifra em 8,74 milhões a partir de 2024. O passará por um programa de rescisões por mútuo acordo com cerca de 300 trabalhadores, de um total de mais de três mil. O número poderá ser menor se saírem colaboradores com vencimentos mais elevados.

A Groundforce divulgou esta quarta-feira uma circular aos trabalhadores onde “refuta em absoluto que esteja previsto o recurso ao despedimento coletivo como via para operar a saída de trabalhadores”, garantindo que “nunca, em momento algum, foi esta a opção considerada. E reforça que a solução “primará por rescisões por mútuo acordo, em condições a ser acordadas para o efeito”.

O programa de rescisões será financiado com um investimento inicial previsto de 12,5 milhões a realizar pela Menzies, dos quais 9,5 milhões serão investidos nas medidas de reestruturação dos recursos humanos, nomeadamente na cessação de contratos de trabalho, na revisão dos Acordos de Empresa e outras medidas operacionais. Ou seja, é já dada como certa a necessidade de dinheiro adicional para medidas de reestruturação e investimento.

O investimento da Menzies pode não ficar pelos 12,5 milhões. Fica prevista a possibilidade, em caso de necessidade, de uma soma adicional de 25,6 milhões para equipamento de handling e equipamento de assistência aos serviços de carga, “a realizar previsivelmente entre 2024 e 2027”.

Depois de um prejuízo de apenas um milhão de euros em 2022, a projeção incluída no plano de insolvência prevê um agravamento para 2,34 milhões este ano. Os lucros voltam em 2024, somando 4,7 milhões. O volume de negócios começa por subir em 2024 para os 174 milhões, mas baixa até 2027, devido “a uma revisão do contrato com a TAP” com condições menos vantajosas.

A discussão e aprovação do plano de insolvência, que selará a entrada do novo acionista maioritário e o prosseguimento da estratégia de recuperação da empresa de handling, está marcada para 27 de setembro. A aprovação é dada como garantida, uma vez que a TAP e a ANA detêm 62% dos 45,9 milhões em créditos reclamados.

A este montante podem ainda vir a somar seis milhões de euros decorrentes de um processo movido pelo Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA) relativamente a um incumprimento no Acordo de Empresa, caso a decisão do tribunal lhe seja favorável. Ao que o ECO apurou junto de fonte do sindicato, este “crédito contingente”, ficará previsto na versão final do Plano de Insolvência.

Fez em agosto dois anos desde que foi declarada a insolvência da SPDH (a designação societária da Groundforce), a pedido da transportadora aérea portuguesa, que é também a sua maior cliente, em conflito com o empresário Alfredo Casimiro, que através da Pasogal detém 50,1% do capital.

(notícia atualizada às 14h25 com informação de circular distribuída aos trabalhadores)

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