Ministério Público troca nome de António Costa com ministro da economia na transcrição das escutas

O Ministério Público enganou-se na transcrição de uma escuta telefónica entre Lacerda Machado, consultor da Start Campus, e Afonso Salema, administrador da mesma empresa.

O Ministério Público (MP) trocou o nome do primeiro-ministro, António Costa, com o ministro da economia, António Costa e Silva. Em causa a transcrição de uma escuta telefónica entre Lacerda Machado, consultor da Start Campus, e Afonso Salema, ex-CEO da mesma empresa, denunciando que o amigo do PM iria mover influência junto de “António Costa” (primeiro-ministro), quando na verdade Lacerda Machado referia-se a António Costa Silva, ministro da Economia, avança a CNN Portugal.

A escuta faz parte das várias inscritas no despacho de indiciação do Ministério Público em que Afonso Salema – que entretanto se demitiu do cargo de CEO da Start Campus – e Lacerda Machado, em que o primeiro pede ao segundo que fale com o Executivo para que seja suscitado junto da Comissão Europeia uma alteração em matéria de códigos de atividade económica para os data centers, de forma a beneficiar a Start Campus.

O omissão do último apelido de Costa Silva gerou a perceção de que Lacerda Machado disse ao telefone que iria interceder diretamente junto do seu amigo António Costa em prol dos interesses da Start Campus na construção do data center em Sines.

O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva.Lusa

Durante os interrogatórios judiciais dos arguidos detidos, entre eles Lacerda Machado, que decorreu no sábado, o Ministério Público acabou por reconhecer que a referida escuta está mal transcrita no despacho.

Nessa escuta de 31 de agosto de 2021, Lacerda Machado disse: “Tá bem. Eu vou decifrar se é Economia ou Finanças. Se for Finanças em falo logo com o Medina (ministro) ou com o António Mendes, que é o secretário de Estado. Se for Economia, arranjo maneira depois de chegar ao próprio António Costa”.

O advogado Magalhães e Silva afirmou no sábado à noite que Diogo Lacerda Machado “em nenhum momento do processo” relativo ao ‘data center’ “invocou, direta ou indiretamente”, o nome do primeiro-ministro, António Costa. Magalhães e Silva falava aos jornalistas no final do interrogatório do seu cliente, no Campus de Justiça, em Lisboa.

Questionado sobre se o interrogatório ao advogado Diogo Lacerda Machado tinha esclarecido todas as dúvidas, Magalhães e Silva considerou que sim. “Satisfez de tal maneira que eu não achei necessário fazer nenhuma pergunta, houve as questões que foram colocadas pelo senhor juiz de instrução, longamente, houve uma declaração inicial do doutor Diogo Lacerda Machado que durou cerca de uma hora e um quarto”, disse o advogado.

A operação de terça-feira do Ministério Público assentou em pelo menos 42 buscas e levou à detenção de cinco pessoas para interrogatório: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa.

No total, há nove arguidos no processo, entre eles o ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado e antigo porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.

Na investigação aos negócios do lítio, hidrogénio verde e do centro de dados de Sines, segundo Ministério Público (MP), podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.

O processo visa as concessões de exploração de lítio de Montalegre e de Boticas, ambos em Vila Real; um projeto de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e o projeto de construção de um centro de dados na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.

António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público (MP) no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos nos negócios investigados.

Segundo a indiciação, o MP considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus.

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