“Estamos desiludidos com o que o Governo fez. Vamos ver se o novo agarra oportunidades”, diz Ricardo Reis

Economista Ricardo Reis defende que são necessárias reformas estruturais, que o Governo de António Costa não concretizou. Crescimento económico apenas virá com aumento da produtividade, sublinha.

As expectativas já estão altas para o próximo Governo. As discussões sobre a necessidade de reformas já decorrem há vários anos, mas o sentimento relativamente ao atual Governo é de desilusão, aponta ao ECO o economista Ricardo Reis. “Vamos ver se novo Governo agarra oportunidades“, afiança, defendendo que são precisas mudanças estruturais para alcançar um crescimento sustentável.

A crítica que tem sido feita aos governos de António Costa é de “falta de capacidade reformadora“, algo que poderia impulsionar a economia portuguesa, como defende Ricardo Reis, que lidera o Comité de Datação dos Ciclos Económicos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, cujo trabalho resultou num livro intitulado “Crises na Economia Portuguesa: de 1910 a 2022”.

Neste livro, a equipa de economistas detalha todas as crises vividas em Portugal, tendo encontrado surpresas como perceber “quão fechada e agrícola a economia era” no início do século passado, a ponto de não ter entrado em crise durante a guerra civil espanhola e a Grande Depressão. Nessa altura, as crises quase se alinhavam com as más colheitas, nomeadamente do vinho, exemplifica o economista. Agora, as crises têm tido mais causas externas, como aconteceu na última — provocada pela pandemia de Covid-19. E são precisas alterações estruturais para que a economia não continue estagnada.

O Comité vai continuar a trabalhar, nomeadamente para perceber se nos próximos anos se vai viver uma nova crise ou não. “As perspetivas são de um crescimento pequeno”, assume Ricardo Reis, mas “se vai chegar a recessão ou não”, ainda é uma incógnita.

A estagnação advém do “excesso de protecionismo” e da fraca concorrência externa, pelo que “faltam reformas estruturais na educação e na concorrência que nos permitam tornar líderes” nos mercados externos, diz o economista.

O principal motor do crescimento deve então ser “a capacidade de trabalho, de empreendedorismo dos empresários e a capacidade de facilitar os negócios”, defende. “Numa economia que tem de crescer duma forma sustentada e não apenas cíclica, o crescimento virá sempre com o aumento da produtividade“, reitera.

As previsões do Governo são de um crescimento de 2,2% em 2023 e 1,5% em 2024, enquanto o Banco de Portugal está mais pessimista e prevê um crescimento de 1,2% no próximo ano.

Para impulsionar as reformas estruturais, um aspeto que tem sido mencionado pelos políticos é o acesso aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O economista defende que é importante não perder tempo e aplicar os fundos, mas “tão ou mais importante que se o dinheiro está a ser bem aplicado é a capacidade de corrigir o rumo”.

“A grande crítica a programas como o PRR é serem desenhados num gabinete e depois não há flexibilidade para corrigir o rumo”, defende. Assim, o Governo que tomar posse após as eleições de 10 de março vai ter de cumprir o que foi acordado com a Comissão Europeia pelo antecessor, o que foi já até recordado pelo primeiro-ministro demissionário.

António Costa avisou um eventual Governo PSD quer “gostem ou não gostem” vão ter de construir 32 mil casas até 2026. “Gostem ou não gostem, o PRR está contratualizado entre Portugal e a União Europeia e estamos obrigados a cumpri-lo até às 24 horas do dia 31 de dezembro de 2026”. (…) Gostem ou não gostem, vão ter mesmo de executar os 32 mil fogos que estão contratualizados com a UE. Se não os construírem perdemos o dinheiro”, avisou o chefe de Governo demissionário.

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