Alterações climáticas dominam riscos globais dos próximos 10 anos
Fórum Económico Mundial aponta eventos climáticos extremos como o risco mais severo da próxima década, e o segundo mais grave dos próximos dois anos. Ameaças tecnológicas e sociais aumentam.
Eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas são alguns dos riscos para a próxima década identificados pelo Fórum Económico Mundial. No Global Risks Report, um estudo divulgado anualmente pela organização em parceria com a Zurich e a Marsh, os especialistas ouvidos são perentórios: “os riscos ambientais continuam a dominar o panorama dos riscos em todos os horizontes temporais”.
De acordo com a análise, divulgada esta quarta-feira, as condições climáticas extremas, as alterações críticas dos sistemas terrestres, a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas, a escassez de recursos naturais e a poluição representam cinco dos dez riscos mais graves que o mundo terá que enfrentar na próxima década.
Ao nível dos eventos climáticos extremos, que surge no topo da lista das principais ameaças até 2034 — e em segundo lugar nos riscos a dois anos — 30% dos especialistas mundiais prevê uma maior probabilidade de ocorrência de catástrofes a nível mundial até 2026, enquanto quase dois terços prevê o mesmo nos próximos dez anos.
No entanto, os especialistas inquiridos discordam quanto à urgência dos riscos ambientais apresentados. Os inquiridos do setor privado acreditam que a maioria dos riscos ambientais se materializará num período de tempo mais longo do que membros da sociedade civil ou do governo inquiridos, apontando para “o risco crescente de se ultrapassar um ponto sem retorno”.
Além das ameaças climáticas — que ocupam as primeiras quatro posições e a última da lista de riscos a dez anos — o Global Risks Report inclui ainda três ameaças tecnológicas: a desinformação, os impactos negativos da Inteligência Artificial e a insegurança cibernética. Ademais, identifica ameaças ligadas à migração voluntária, numa altura em que se agravam os conflitos geopolíticos.
Na edição deste ano, não são identificados riscos a nível económico para os próximos 10 anos.
“Num contexto de mudanças sistémicas na dinâmica do poder global, no clima, na tecnologia e na demografia, os riscos globais estão a levar ao limite a capacidade de adaptação do mundo“, alerta o estudo.
Riscos sociais e tecnológicos aumentam nos próximos dois anos
Se a médio prazo os principais riscos para o mundo envolvem sobretudo questões ambientais, a curto prazo a maioria das crises são do foro tecnológico e social.
Na lista de riscos a dois anos, a propagação da desinformação e informação falsa destronam os eventos climáticos extremos, seguindo-se a polarização social e a insegurança cibernética, em terceiro e quarto lugar, respetivamente. Estes relacionam-se com o risco de conflitos armados e com a migração involuntária, que também compõem a lista das principais ameaças dos próximos dois anos.
“A relação entre a informação falsa e a agitação social ocupará uma posição central nas eleições em várias economias importantes que deverão ter lugar nos próximos dois anos”, informa o relatório. “Com vários conflitos em curso, as tensões geopolíticas subjacentes e o risco de erosão da resiliência social estão a criar um efeito de contágio“.
À semelhança do ano passado, também os riscos económicos integram o ranking dos principais riscos dos próximos dois anos.
Segundo o FEM, a inflação aliada ao risco de recessão económica surgem entre as principais preocupações para os especialistas inquiridos para os próximos dois anos, numa altura em que se antecipa um crescimento económico lento, em 2024. E deixam um alerta: países propensos a conflitos ou vulneráveis às alterações climáticas “podem ficar cada vez mais isolados do investimento, das tecnologias e da criação de emprego”.
Crescimento da IA obriga a maior “cooperação”
Face aos riscos identificados, o relatório recomenda uma maior — e melhor — cooperação global no sentido de se desenvolver uma “rápida proteção para os riscos emergentes mais disruptivos“, entre eles o papel da IA na tomada de decisão.
“Os avanços da inteligência artificial irão perturbar radicalmente as perspetivas de risco das organizações, com muitas a lutarem para reagir às ameaças decorrentes da desinformação, da desintermediação e do erro de cálculo estratégico”, alerta Carolina Klint, chief commercial officer da Marsh McLennan Europa.
No entanto, o relatório também aborda outros tipos de ação que não precisam de depender exclusivamente da cooperação transfronteiriça, nomeadamente, o reforço da resiliência individual e estatal através de campanhas de literacia digital sobre a propagação de desinformação e ainda o desenvolvimento de modelos e tecnologias climáticas com potencial para acelerar a transição energética, com a contribuição dos setores público e privado.
O Global Risks Report, é produzido anualmente em parceria com a Zurich e Marsh, baseado nas opiniões de mais de 1.400 especialistas em riscos globais, decisores políticos e líderes da indústria. O inquérito para a edição deste ano realizou-se em setembro de 2023.
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