Seguradoras pagaram mais de 10 mil milhões por sinistros em 2023
As companhias de seguros com sede em Portugal fizeram pagamentos aos segurados 9% superiores em relação a um ano antes, enquanto as receitas baixaram 2%. Resgates de PPR, inflação e juros explicam.
As seguradoras supervisionadas pela Autoridade Supervisora de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), reguladora do setor, realizaram pagamentos aos segurados no valor de 10.129 milhões em 2023, um valor 9% superior ao de um ano antes, ou seja, mais cerca de 840 milhões de euros que em 2022, revelou a instituição em relatório dedicado e já com dados de todo o ano passado.
Só 6,8 mil milhões respeitaram a pagamentos devidos por seguros de vida dos quais 3,2 mil milhões se deveram a pagamentos devidos por PPR (Plano Poupança Reforma). Estes produtos usufruíram de resgates antecipados sem penalizações fiscais, medida que estará em vigor até ao final de 2024.
Como resultado, o valor de pagamentos, que inclui resgates antecipados ou não, cresceu 830 milhões em relação a 2022. No balanço agregado de todas as seguradoras, o valor de carteira Vida, divulgado pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS), baixou em 2023 para 33.795 milhões de euros, menos 1,5 mil milhões que um ano antes e as provisões apenas relativas a produtos PPR baixou de 14,6 para 13 mil milhões de euros sendo a principal responsável por esta quebra nos valores investidos pelas seguradoras.
Nos ramos Não Vida os pagamentos subiram para 3.305 milhões de euros, mais 5% que um ano antes. Foram os seguros de saúde que exigiram maior devolução aos segurados ou, em nome destes, aos prestadores de cuidados de saúde. Os pagamentos neste caso atingiram 915 milhões de euros, mais 13% que em 2022.
As indemnizações no Ramo Automóvel subiram ligeiramente atingindo 1.183 milhões entre danos físicos e materiais causados por sinistros, apenas mais 1% que um ano antes.
Já os seguros multirriscos e outro de propriedade aumentaram 4% em valores de sinistros sendo o ramo multirriscos habitação o mais danoso para as seguradoras que precisaram de realizar pagamentos de perto de 500 milhões de euros.
Companhias com seguros de Vida foram as mais penalizadas
Os pagamentos de sinistros realizados pelas seguradoras não precisam ser inteiramente compensados pela entrada de dinheiro de prémios de novas apólices ou renovações. As companhias dispõem de reservas obrigatórias de fundos, controladas pela ASF, em quantidade suficiente para fazer face a todos os sinistros que sejam obrigadas a regular e pagar. Por outro lado, estes pagamentos a segurados não são todos os custos das companhias, há ainda que pagar, por exemplo, todas as despesas que vão dos colaboradores, às comissões de mediação, a impostos diretos das companhias e os cobrados aos segurados para entregar ao Estado e todos os custos de estruturas.
As reservas das companhias foram em 2023 muito necessárias para as companhias de seguros Vida que em conjunto fizeram pagamentos 41% superiores às receitas que obtiveram, uma diferença que atingiu 1.183 milhões de euros. O conjunto dos resgates antecipados e da pouca competitividade para vender novos produtos Vida, devido à instabilidade nas remunerações das taxas de juro, explicam o esforço financeiro que foi necessário principalmente pela Ocidental, BPI VeP e Lusitania Vida.
Já as quatro companhias mistas que operam em Portugal, aquelas que na mesma seguradora exploram os ramos Vida e Não Vida, tiveram resultados diferentes. Na Fidelidade e na Real Vida, cuja carteira tem uma componente Vida muito relevante, as receitas cobriram os pagamentos por sinistros à justa. Já a Tranquilidade/Generali e a Allianz, em que os seguros Não Vida predominam, conseguiram folgas de 503 milhões e 205 milhões de euros, respetivamente, entre o que receberam e o que pagaram.
Nas companhias apenas de seguros Não Vida os pagamentos subiram 5% no ano passado atingindo quase 1,2 mil milhões de euros, significando 55% do total de receitas obtidas no mesmo período. Este desempenho superior a um ano antes permitiu um excedente entre recebimentos e pagamentos de quase mil milhões de euros. A Ageas Seguros, Lusitania, Aegon Santander, CA Seguros, Mapfre, Caravela, Mudum e Victoria ficaram acima dos 30 milhões.
As seguradoras especializadas em saúde foram penalizadas pelo aumento dos custos devidos à inflação e à maior frequência de sinistros consequência das dificuldades de acesso ao SNS. A Multicare e Médis obtiveram taxas de sinistralidade de 78% e 87% respetivamente. Já a Planicare, com uma carteira de novos clientes de seguros de saúde, melhorou a sua sinistralidade: apenas precisou de pagar aos segurados 47% dos cerca de 12 milhões de euros que deles recebeu em prémios em 2023.
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