Portugal ultrapassa Espanha no fabrico de calçado, mas ainda produz metade dos italianos
Com 85 milhões de pares de sapatos, quota da indústria portuguesa na produção europeia ascende a 17,1% do total. Na última década foi o único país do Velho Continente a reforçar o fabrico.
A indústria portuguesa de calçado já é a segunda maior produtora europeia, depois de ter ultrapassado Espanha. Os dados finais relativos a 2022, apurados pelo Eurostat e compilados pela associação do setor (APICCAPS), mostram que Portugal produziu nesse ano 85 milhões de pares, dois milhões acima dos concorrentes espanhóis.
A quota de Portugal na produção europeia ascende agora a 17,1% do total, depois de na última década ter sido o único país do Velho Continente a reforçar o fabrico de sapatos (+14,4%). Ainda assim, apesar de ter recuperado terreno na última década, em termos relativos, está ainda longe dos 162 milhões de pares produzidos por Itália, quase o dobro de Portugal.
Este é o resultado do investimento continuado do setor de calçado em Portugal, na definição de uma visão ambiciosa e em políticas públicas ajustadas, que permitiram ao setor reposicionar-se na cena competitiva internacional.
Em conjunto, os três países são responsáveis por cerca de 70% da produção europeia de calçado. De acordo com os dados da APICCAPS, estão atualmente registadas 6.381 empresas da fileira do calçado em Itália (recuo de 25,8% numa década), 2.808 em Espanha (-16,1% desde 2012) e 2.428 em Portugal (diminuição de 5% neste período). Considerando apenas as empresas de calçado, o número baixa para 1.171 no ano passado.
Para Luís Onofre, que lidera esta associação industrial, “este é o resultado do investimento continuado do setor de calçado em Portugal, na definição de uma visão ambiciosa e em políticas públicas ajustadas, que permitiram ao setor reposicionar-se na cena competitiva internacional”.
“Independentemente dos ciclos conjunturais complexos, continuamos a acreditar no futuro da nossa indústria. Temos em curso dois grandes projetos, no âmbito do PRR, que pressupõe um investimento de 140 milhões de euros até ao final do próximo ano e mesmo até final da década, no âmbito do novo Plano Estratégico, tencionamos investir 600 milhões de euros. Esta é a nossa maior prova na confiança do futuro deste setor”, acrescenta o presidente da APICCAPS.
A indústria portuguesa vendeu menos dez milhões de pares de calçado no estrangeiro durante o ano passado, segundo dados do INE, compilados pela associação do setor (APICCAPS). Esta redução das quantidades exportadas (-11,3%, para um total de 66 milhões de pares) foi superior à perda de 8% em valor em relação ao ano anterior.
Como o ECO noticiou no início de março, a falta de encomendas está a parar várias fábricas e a destruir empregos neste setor tradicional, com os empresários do cluster a admitirem que “em 30 anos nos sapatos nunca [viram] uma crise tão profunda”. Só no ano passado, a indústria portuguesa do calçado perdeu 56 empresas e 1.361 postos de trabalho face a 2022.
No primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Informa D&B, dos 174 processos de insolvência de empresas industriais, 61% foram nos setores do têxtil e da moda, que inclui as indústrias do vestuário e do calçado. A comparação homóloga mostra um crescimento de 159% dos casos nestes setores: 106 empresas vs. 41 no mesmo período do ano passado.
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