Fórum do BCE em Sintra testa Lagarde e Powell

Sintra transforma-se na capital mundial da política monetária nos próximos três dias, com banqueiros, analistas, investidores e economistas a procurarem respostas para a economia mundial.

O Fórum anual do Banco Central Europeu (BCE) está de regresso a Sintra entre esta segunda-feira e quarta-feira. Este evento, que se tornou um marco no calendário económico global, ganha uma relevância acrescida este ano, na sequência da recente mudança na política monetária do BCE, que realizou o primeiro corte das taxas diretoras em quase cinco anos.

Inspirado no simpósio de Jackson Hole nos EUA, o Fórum do BCE reúne anualmente governadores de bancos centrais, académicos e especialistas do mercado financeiro para discutir os desafios mais prementes da economia global. E este ano, na celebração do seu 11.º aniversário, tem como tema central a “Política monetária numa era de transformação“.

O programa inclui painéis de discussão sobre tópicos como a política monetária face a múltiplos choques de oferta, a avaliação dos custos da inflação e as alterações estruturais nos mercados energéticos e as suas implicações para a inflação.

Porém, o ponto alto do evento será o painel de discussão no segundo dia, que reunirá Christine Lagarde, presidente do BCE, Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA (Fed), e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil. Este painel promete ser particularmente interessante, dada a recente divergência nas políticas monetárias destas instituições.

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), na conferência de imprensa do Conselho do BCE de 6 de junho de 2024, em Frankfurt, na Alemanha, quando anunciou o primeiro corte das taxas diretoras em quase cinco anos.© Felix Schmitt/ECB

Em junho, o BCE anunciou um corte de 25 pontos base nas suas taxas diretoras, colocando a taxa de depósito em 3,75%. Esta decisão marcou uma viragem da política do banco central, que tinha mantido as taxas inalteradas desde setembro de 2023, após um ciclo de 10 subidas consecutivas.

Christine Lagarde justificou a decisão “com base numa avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, considerando por isso que era o momento “apropriado para moderar o nível de restritividade da política monetária.”

Esta mudança de rumo do BCE contrasta com a postura mais cautelosa da Fed, que tem adiado qualquer redução nas Fed Funds, tal como tem feito o Banco de Inglaterra que optou pela sétima vez consecutiva em manter as taxas inalteradas em 5,25%. Por outro lado, a decisão do BCE alinha-se com a decisão do Banco Nacional Suíço, que em março se tornou o primeiro grande banco central a cortar as taxas de juro, reduzindo-as em 25 pontos base para 1,5%.

Os economistas Kristin Forbes, Jongrim Ha e M. Ayhan Kose argumentam que “o futuro da política monetária promovida pelos principais bancos centrais será marcado por uma crescente influência de fatores globais”. Esta perspetiva, presente num paper que irão apresentar no Fórum do BCE, sugere que os bancos centrais terão de adotar uma abordagem cada vez mais holística e interconectada na formulação das suas políticas.

Esta ideia reflete, por exemplo, o alerta de Mário Centeno, governador do Banco de Portugal e membro do Conselho do BCE, que se mostrou preocupado com o crescimento da Zona Euro. “Não crescemos há ano e meio. É uma grande preocupação”, referiu o governador em declarações à CNBC. Esta declaração sublinha os desafios que os decisores de política monetária enfrentam ao tentar equilibrar o controlo da inflação com o estímulo ao crescimento económico.

À medida que o BCE navega nas águas turbulentas de uma “era de transformação”, os olhos do mundo financeiro estarão, nos próximos dias, fixos em Sintra, ávidos por decifrar as pistas sobre o próximo capítulo da política monetária global.

Os investidores e analistas estarão assim atentos a quaisquer sinais que possam ser dados durante o Fórum do BCE sobre a trajetória futura das taxas de juro por parte dos bancos centrais. É importante notar que, historicamente, as declarações feitas durante o Fórum de Sintra têm tido um impacto significativo nos mercados financeiros.

Em 2022, por exemplo, os comentários de Christine Lagarde sobre a necessidade de normalizar a política monetária contribuíram para um aumento das expectativas de subida das taxas de juro, influenciando os movimentos nos mercados de obrigações e ações.

Com a economia global numa encruzilhada, entre a ameaça persistente da inflação e os riscos de estagnação, e o mundo envolto num ambiente de fortes tensões geopolíticas, as palavras proferidas nestes três dias por alguns dos maiores decisores do mundo económico no Fórum do BCE poderão determinar o rumo dos mercados nos próximos meses.

À medida que o BCE navega nas águas turbulentas de uma “era de transformação”, os olhos do mundo financeiro estarão, nos próximos dias, fixos em Sintra, ávidos por decifrar as pistas sobre o próximo capítulo da política monetária global. Num momento em que cada palavra pode mover mercados, o Fórum do BCE promete, mais uma vez, ser o palco onde o futuro da economia global começa a ser escrito.

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