BCE coloca a ameaça à biodiversidade no centro da sua agenda

A introdução de impostos sobre atividades nocivas para os ecossistemas são apenas parte de um problema com consequências exponenciais da perda de espécies, alertam especialistas no Fórum do BCE.

A perda de biodiversidade é um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta atualmente. Além do seu valor intrínseco, a biodiversidade desempenha um papel crucial na economia global.

A destruição da biodiversidade tem efeitos negativos nas gerações futuras, mesmo que deixe o bem-estar (económico) das gerações atuais praticamente inalterado“, afirmou Theresa Kucher, economista e investigadora da Stern School of Business, em Nova Iorque, esta terça-feira no Fórum do BCE no decorrer da apresentação do seu paper “A economia das perdas da biodiversidade”.

Perante uma plateia repleta de banqueiros centrais, investigadores, académicos e economistas, Kucher expressou a necessidade de se construir uma perspetiva holística para compreender plenamente os impactos económicos da perda de biodiversidade, destacando por diversas vezes a importância de haver uma visão de longo prazo na gestão dos recursos naturais para bem do planeta e da economia global.

Theresa Kuchler considera que os impostos pigouvianos sobre atividades que destroem os ecossistemas podem ser justificados, mesmo quando os efeitos económicos imediatos parecem limitados.

O modelo desenvolvido por Kucher e dos outros três co-autores deste trabalho académico demonstra como diferentes espécies interagem para fornecer serviços ecossistémicos que complementam outros fatores de produção económica. Esta abordagem permite, por exemplo, quantificar o impacto económico da perda de biodiversidade de uma forma mais precisa do que os modelos anteriores.

Um dos pontos-chave da apresentação de Kucher foi a não-linearidade da relação entre biodiversidade e produção económica. “A produção económica é uma função crescente, mas altamente côncava, da riqueza de espécies”, explicou. Isto significa que as perdas iniciais de biodiversidade podem ter impactos económicos relativamente pequenos, mas à medida que mais espécies são perdidas, os efeitos negativos aumentam exponencialmente.

Efeitos da biodiversidade no universo financeiro

Kucher também abordou a questão da fragilidade dos ecossistemas: “Desenvolvemos expressões para a fragilidade da prestação de serviços ecossistémicos e a sua evolução ao longo do tempo, que depende, entre outros fatores, da distribuição das perdas de biodiversidade entre as funções do ecossistema.”

A investigadora explicou que esta análise tem implicações significativas para a política económica e ambiental. Por exemplo, sugere que os impostos pigouvianos sobre atividades que destroem os ecossistemas podem ser justificados, mesmo quando os efeitos económicos imediatos parecem limitados, justamente para proteger as espécies ameaçadas.

A investigação de Kucher e dos seus colegas também oferece dados valiosos para o setor financeiro. “Mostramos empiricamente que notícias sobre a perda de biodiversidade aumentam mais os spreads dos credit default swaps (CDS) para países com ecossistemas mais esgotados“, referiu a investigador, sublinhando a relevância da biodiversidade para a estabilidade financeira.

Kucher enfatizou ainda a importância de considerar a biodiversidade nas decisões económicas: “Este não é apenas um exercício de abraçar árvores… isto é economia central”. Esta afirmação ressoa com as recentes declarações de líderes financeiros globais sobre a importância económica da biodiversidade.

A investigadora também destacou a necessidade de uma abordagem multidimensional: “O nosso modelo captura como diferentes espécies interagem dentro e entre funções ecossistémicas para produzir os serviços ecossistémicos agregados que entram nas funções de produção económica”.

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