Comércio desiludido com falta de medidas. AEP elogia mas pede mais ambição

  • Joana Abrantes Gomes
  • 5 Julho 2024

Confederação patronal destaca ausência de plano de abate de automóveis ligeiros de passageiros em fim de vida. AEP elogia programa do Governo, mas pede “redução muito significativa” do IRS.

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) vê na redução gradual do IRC até 15%, uma das 60 medidas do programa do Governo “Acelerar a Economia”, um “incentivo importante” para as empresas e o investimento, mas critica a “quase total omissão” de propostas para o setor que representa, em particular nas áreas dos transportes e do automóvel.

São globalmente positivas, embora algumas medidas careçam de ser calendarizadas para se verificar o seu efetivo impacto“, descreve a confederação patronal liderada por João Vieira Lopes acerca do pacote aprovado ontem em Conselho de Ministros, num comunicado enviado esta sexta-feira.

Segundo a CCP, para a diminuição da taxa de IRC ter um “efeito transversal a todo o tecido empresarial”, seria necessário baixar, de forma faseada, as tributações autónomas em 10% ao ano, tal como a própria chegou a propor ao Executivo.

Quanto ao plano “Estado a pagar em 30 dias”, a confederação patronal considera que pode ajudar a tesouraria das empresas e fomentar a participação de sociedades mais pequenas como fornecedoras do Estado, “se for efetivamente implementado”. Ressalva, porém, que o Governo “poderia ir mais longe neste domínio, mediante a consagração de um regime de compensação de créditos não fiscais com dívidas fiscais”.

Ainda assim, o “mais negativo” é o programa praticamente não incluir medidas para o comércio e os serviços, nomeadamente nos setores dos transportes e do automóvel. “Destaca-se em particular, neste último, a ausência da implementação de um plano de abate de automóveis ligeiros de passageiros em fim de vida, tal como previsto no acordo de Concertação Social e no próprio Orçamento do Estado”, sublinha a CCP, para a qual é “uma grande desilusão” a desvalorização de setores que têm peso no emprego e no valor acrescentado.

AEP elogia “mérito” das medidas, mas apela à redução “muito significativa” do IRS

Menos crítica, a AEP – Associação Empresarial de Portugal reconhece “mérito” ao programa apresentado pelo ministro Pedro Reis, não só pelo “propósito de acelerar o crescimento económico”, como também por terem sido auscultados os “stakeholders da economia real”.

Numa nota desta sexta-feira, a associação escreve que as medidas estão alinhadas com as prioridades que defende, designadamente “o financiamento e capitalização das empresas, a inovação, a atração de talento, a sustentabilidade e a reindustrialização”.

Elogia, nesse sentido, a inclusão no programa de medidas propostas por si, como a “redução da fiscalidade sobre as empresas”, “os incentivos ao aumento de escala e à inovação”, o “IVA de caixa”, o “pagamento do Estado, no prazo de 30 dias, aos fornecedores” e ainda, no que se refere ao planeamento dos investimentos das empresas quando cofinanciados por fundos europeus, “privilegiar os avisos em contínuo e a agilização do processo de análise de candidaturas aos sistemas de incentivos”.

“Não obstante o mérito do programa, é necessário ir ainda mais longe, para uma estratégia de crescimento económico mais forte e duradouro“, aponta a associação liderada por Luís Miguel Ribeiro, considerando que, embora as medidas sejam “reformistas”, precisam “de alcançar resultados no curto prazo e de serem ajustadas, em alguns casos, à realidade empresarial de Portugal”.

A AEP destaca exemplos como a necessidade de não só atrair talento do exterior, como também “reter quem cá está”, nomeadamente “através de uma redução muito significativa do IRS”. “Portugal é dos países da OCDE com maior progressividade fiscal sobre o trabalho, com implicações no salário líquido disponível, sobretudo da mão-de-obra mais qualificadas”, sustenta.

Ainda no que toca ao mercado de trabalho, a associação empresarial sediada no Porto apela à flexibilização da legislação laboral e à “total desburocratização no relacionamento entre o Estado e as empresas”.

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