Diplomados ainda têm melhores salários, mas vantagem face a quem tem menos estudos está a encolher
Trabalhadores com ensino superior ainda ganham mais do que aqueles que só fizeram ensino secundário, mas vantagem tem estado a diminuir. Em 2023 foi de 49%. Em 2011 era de mais de 70%.
Ainda vale a pena ir para a universidade? Os trabalhadores mais qualificados continuam, sim, a ganhar salários mais expressivos do que quem se fica pelo ensino secundário, mas essa vantagem tem vindo a encolher. De acordo com um estudo divulgado esta quarta-feira pela Fundação José Neves, no último ano os diplomados receberam mais 49%. Há pouco mais de uma década, a diferença ultrapassava os 70%.
“Os trabalhadores mais qualificados são os que beneficiam de maiores retornos salariais. O ganho salarial de ter o ensino superior face ao ensino secundário foi, para a população entre os 18 e os 64 anos, de 49% em 2023″, é sublinhado no estudo “Estado da Nação: educação, emprego e competências em Portugal”.
“Não obstante, este valor tem vindo a cair na última década“. Em maior detalhe, e como mostra o gráfico abaixo, em 2011 os diplomados ganhavam mais 71% do que quem tinha apenas o ensino secundário. Quer isto dizer que em 12 anos essa diferença estreitou-se em 22 pontos percentuais.
Por outro lado, olhando apenas para a população mais jovem (dos 25 aos 34 anos), a vantagem salarial do ensino superior face ao ensino secundário foi de 34% em 2023, o que corresponde a um aumento assinalável face ao ano anterior.
“Assiste-se a uma recuperação, nesta faixa etária, do decréscimo verificado em 2021-2022. Embora não tenha sido suficiente para contrariar a tendência decrescente que tem vindo a desenhar-se desde, pelo menos, 2011, permitiu regressar a valores superiores aos de 2019“, explica a Fundação José Neves.
De modo global, os salários praticados em Portugal registaram uma “ligeira recuperação” (de 0,5%), em termos reais, no último ano, nota ainda a Fundação José Neves.
Ainda assim, uma vez que os ordenados não conseguiram acompanhar os níveis históricos de inflação nos últimos anos, o salário médio em termos reais foi inferior em 2023 ao registado em 2021 e “praticamente igual ao de 2020”.
O estudo agora conhecido destaca, além disso, que o aumento ligeiro do salário real “esconde diferenças entre grupos de indivíduos consoante as suas qualificações”. Em concreto, enquanto os trabalhadores com o ensino básico beneficiaram de um aumento de 1,2% em termos reais, a remuneração média dos diplomados do ensino superior cresceu 0,5% em termos reais. Já os trabalhadores com o ensino superior viram os salários cair 0,6% em termos reais em 2023.
Quanto às diferenças entre as faixas etárias, há a destacar que os mais jovens tiveram o “maior crescimento salarial em 2023”: 3,9% em termos reais e 10% em termos nominais. “Os jovens diplomados do ensino superior foram os que beneficiaram da maior variação do salário real, que cresceu 7%, fixando-se em 1.180 euros, o valor mais elevado desde 2012″, detalha a Fundação José Neves.
Ainda assim, os jovens ganham, regra geral, menos do que a população em geral, independentemente do seu nível de qualificações.
Quem está mais ameaçado pela IA?
A inteligência artificial (IA) tornou-se um tema quente do mercado de trabalho, mas o seu impacto não será uniforme entre setores e trabalhadores. Segundo o novo estudo da Fundação José Neves, os efeitos desta tecnologia no cenário português serão “complexos e multifacetados“, sendo que há trabalhadores que estão em vulnerabilidade elevada (podem vir a ser substituídos), enquanto outros verão as suas funções apenas complementadas (vulnerabilidade baixa).
“Em Portugal, as mulheres e os trabalhadores com níveis de educação mais elevado são os grupos em que a IA poderá ter um impacto maior. Em ambos os casos, a percentagem de trabalhadores que apresentam uma exposição elevada à IA e cujas tarefas podem ser substituídas pela IA é superior”, salienta a Fundação José Neves.
No caso específico das mulheres, 15,1% estão em profissões que podem ser substituídas por IA. Em contraste, só 9,4% dos homens estão nessa situação. “Em termos etários, o grupo com maior vulnerabilidade elevada está na faixa dos 25 aos 34 anos, onde a percentagem de trabalhadores nessa categoria é de 14,7%”, é acrescentado.
Outro dado relevante é que são os trabalhadores com salários acima dos dois mil euros quem poderá estar mais vulnerável aos desafios trazidos pela IA. É certo que, nesse grupo, esta tecnologia pode aumentar significativamente a produtividade, mas prevê-se que 26,3% desses empregos estejam em vulnerabilidade elevada.
Já por setores, são os trabalhadores no setor das atividades financeiras e de seguros, das atividades de informação e de comunicação e das atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares que apresentam maior vulnerabilidade. Por outro lado, no setor da educação, a IA apresenta-se com o índice de complementaridade mais elevado: 25,7% dos empregos estão em vulnerabilidade baixa, já que podem ser complementados, mas não substituídos por tecnologia.
Portugal mais atrativo para as tecnológicas?
Feito o diagnóstico do mercado de trabalho português, a Fundação José Neves avança com uma série de recomendações, nomeadamente a de se criarem condições para que o país se torne mais atrativo para as empresas na área das altas tecnologias, bem como de se estimular a digitalização das empresas e a adoção de modelos híbridos de trabalho, “com o intuito de aumentar a produtividade e os salários” e de se desenvolverem estratégias para mitigar a vulnerabilidade das profissões à inteligência artificial.
A fundação defende ainda que deve ser promovida a formação contínua e a requalificação profissional para adaptar os trabalhadores às novas realidades tecnológicas e que devem ser desenvolvidos mecanismos de apoio às empresas e aos trabalhadores na transição digital.
Quanto à educação, a fundação recomenda a promoção do ensino profissional e o incentivo à transição dos alunos do ensino profissional para o ensino superior. “Criar iniciativas que aproximem as instituições de educação e formação do mercado de trabalho, de modo a ajustar a oferta educativa e formativas às suas reais necessidades”, sublinha ainda o estudo divulgado esta quarta-feira, que aconselha, por fim, a implementar estratégias com vista à recuperação dos resultados do PISA 2022.
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