BCE prepara terreno para mais cortes das taxas de juro em 2025
Analistas e investidores antecipam cortes contínuos das taxas de juro do BCE nos próximos meses até aos 2% em 2025, por conta do abrandamento da inflação e do fraco crescimento da economia do euro.
O Banco Central Europeu (BCE) cortou na quinta-feira as taxas de juro pela segunda vez consecutiva, reduzindo a taxa de depósito em 25 pontos base para 3,25%. A decisão, amplamente antecipada pelos mercados, abre caminho para mais reduções nos próximos meses, à medida que a inflação continua a abrandar e a economia da Zona Euro mostra sinais de fraqueza.
Os analistas antecipam inclusive que o BCE mantenha o ritmo de cortes nos próximos trimestres, podendo levar a taxa de depósito para níveis próximos de 2% até ao final de 2025. “Mantemos a nossa previsão de cortes consecutivos de 25 pontos base até 2% em junho, com riscos de descida para a nossa previsão da taxa terminal”, afirma Sven Jari Stehn, economista-chefe do Goldman Sachs para a Europa, numa nota enviada aos clientes do banco norte-americano após a decisão do BCE.
O ING, por sua vez, considera que o BCE “tem tudo o que precisa para continuar a descer os juros.” Carsten Brzeski, economista-chefe do banco holandês, destaca esta manhã num email enviado aos clientes que os dados recentes sobre inflação e atividade económica reforçam a necessidade de mais estímulos monetários à economia.
Já o Lloyds Bank prevê que a autoridade monetária poderá efetuar uma “série de cortes” nas taxas de juro ao longo de 2025. “Os mercados antecipam novas reduções consecutivas nas primeiras três reuniões de política monetária de 2025, um ‘duplo hat-trick‘ de cortes que levaria a taxa de depósito para 2,25% em abril”, refere Hann-Ju Ho, economista sénior do Lloyds.
A postura mais dovish do BCE surge num contexto de abrandamento económico na Zona Euro. As mais recentes projeções dos especialistas do banco central divulgadas esta sexta-feira apontam para um crescimento de apenas 0,7% este ano, 1,2% em 2025 e 1,5% em 2026 – uma ligeira revisão em baixa face às estimativas de junho.
Quanto à inflação, embora a taxa média ainda se mantém acima da meta de 2%, tem desacelerado nos últimos meses. O BCE prevê que a taxa de inflação média atinja 2,4% em 2024 e estabilize nos 1,9% em 2025 e 2026.
“O BCE não está a comprometer-se com uma determinada trajetória” das taxas de juro, afirmou Mark Wall, economista-chefe para a Europa do Deutsche Bank AG em Londres, após a decisão. “Isto é sensato, dadas as incertezas que temos pela frente. Mas é provável que a decisão de hoje [quinta-feira] represente um ponto de viragem para uma normalização mais rápida.”
O Goldman Sachs alerta, no entanto, para os riscos de uma política monetária demasiado acomodatícia. “Vemos o risco em torno da nossa previsão da taxa terminal como inclinado para baixo, com dois caminhos amplos para uma taxa abaixo do neutro”, refere Stehn na nota enviada aos clientes.
O economista do Goldman Sachs delineia dois cenários possíveis: um de “cortes mais rápidos e profundos” em resposta a uma fraqueza económica aguda, e outro de “cortes prolongados” caso as tensões comerciais pesem sobre o crescimento ou a inflação fique abaixo da meta em 2025.
Por sua vez, Hann-Ju Ho do Lloyds Bank destaca que o BCE mantém uma abordagem dependente dos dados, deixando em aberto a possibilidade de ajustar o ritmo dos cortes conforme necessário. “A presidente Christine Lagarde reiterou que o BCE continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião”, refere o economista numa nota enviada esta sexta-feira aos clientes do banco, notando que os mercados já estão a considerar a possibilidade de um corte de 50 pontos base em dezembro, embora isso pareça “excessivamente ambicioso” com base nos dados económicos atuais.
Na conferência de imprensa de quinta-feira após ser conhecida a decisão do Conselho do BCE, Christine Lagarde usou a sua linguagem habitual para dizer todas as decisões de política monetária estarão “dependentes dos dados” e que a definição das taxas de juro continuará a ser tomada numa base “reunião a reunião”.
No entanto, dada a mensagem otimista da presidente do BCE sobre os riscos de inflação e tendo como pano de fundo o abrandamento da economia da Zona Euro, os investidores rapidamente tomaram as suas palavras como uma espécie de “via verde” para futuras correções das taxas de juro. O primeiro teste a estas previsões e expectativas de analistas e investidores será conhecido já a 12 de dezembro na última reunião do Conselho do BCE.
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