Turquia diz que convenceu a Rússia e o Irão a não intervirem na queda do regime sírio
Para o chefe da diplomacia turca, se Bashar al-Assad tivesse recebido o apoio da Rússia e do Irão, corria-se o risco de "a vitória da oposição (...) levar muito tempo e isso teria sido sangrento".
A Turquia convenceu a Rússia e o Irão a não intervirem na Síria, durante a ofensiva dos rebeldes que levou à queda do regime ditatorial no país, afirmou esta sexta-feira o ministro turco dos Negócios Estrangeiros.
“A coisa mais importante a fazer era conversar com os russos e com os iranianos e ter certeza de que não entrariam militarmente na equação. Conversámos com os russos e com os iranianos, eles entenderam”, disse o ministro Hakan Fidan, numa entrevista ao canal televisivo NTV.
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, fugiu com a família no passado domingo e pediu asilo político na Rússia, depois de uma coligação de rebeldes ter conseguido tomar Damasco e anunciado o fim de cinco décadas de poder da família. A coligação vitoriosa é liderada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) e inclui fações pró-turcas.
Para o chefe da diplomacia turca, se Bashar al-Assad tivesse recebido o apoio da Rússia e do Irão, corria-se o risco de “a vitória da oposição (…) levar muito tempo e isso teria sido sangrento”.
“Temo-nos esforçado para conseguir [o menor número de perda de vidas] sem derramamento de sangue, prosseguindo negociações direcionadas com os dois atores importantes capazes de usar a força”, afirmou o ministro turco.
Os rebeldes islamitas que derrubaram o regime sírio nomearam Mohammad al-Bashir como novo primeiro-ministro responsável pela transição na Síria e o partido Baath, no poder há mais de 50 anos, anunciou a suspensão das suas atividades “até nova ordem”.
Ofensiva relâmpago dos rebeldes sírios planeada durante anos
Os rebeldes islamitas sírios, que surpreenderam o mundo ao derrubar o presidente Bashar al-Assad numa ofensiva relâmpago, planeavam a operação há mais de um ano, adiantou um dos seus comandantes militares ao jornal britânico Guardian.
Abu Hassan al-Hamwi, comandante militar da Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe) e antigo chefe do ramo militar do grupo islamista sunita, examinou ao detalhe, na entrevista publicada esta sexta, os bastidores desta operação que terminou com os 24 anos de regime de Assad.
Denominada “repelir a agressão”, os preparativos para esta operação começaram há um ano, embora o grupo já se preparasse anteriormente. Só no final de novembro é que sentiu que era o momento certo. Para isso, foi necessário primeiro unir os diferentes grupos rebeldes que operam no país. “O problema fundamental foi a ausência de uma liderança unificada”, frisou Al-Hamwi, de 40 anos.
Foi criada uma sala de operações, reunindo comandantes de cerca de 25 grupos rebeldes do sul, que coordenariam os movimentos dos seus combatentes entre si e com o HTS do norte. Uma vez formada a coligação, tendo o grupo HTS como ‘cabeça de guerra’, começou a treinar combatentes e a desenvolver uma doutrina militar.
“Estudámos o inimigo em profundidade, analisámos as suas táticas, de dia e de noite, e utilizámos esse conhecimento para desenvolver as nossas próprias forças”, acrescentou. O grupo, formado por insurgentes, transformou-se lentamente numa força de combate disciplinada, descreveu o comandante ao jornal britânico.
A HTS começou também a produzir as suas próprias armas, veículos e munições. Recursos que se mantiveram limitados, ao contrário dos do Presidente Assad, que contava com o apoio da Rússia e do Irão. Neste contexto, foi criada uma unidade militar dedicada aos drones, juntando engenheiros, mecânicos e cientistas.
“Unificamos os seus conhecimentos e definimos objetivos claros: precisávamos de drones de reconhecimento, drones de ataque e drones explosivos, com ênfase no alcance e na resistência”, sublinhou Al-Hamwi, acrescentando que a sua produção começou em 2019. Estes “drones explosivos” foram destacados este mês contra as forças do ex-presidente sírio.
No final de uma ofensiva de 11 dias, a coligação rebelde dominada pelo HTS derrubou no domingo o poder de Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia com a sua família, segundo agências russas. Mohammad al-Bashir foi nomeado primeiro-ministro na terça-feira para liderar um governo de transição até 01 de março.
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