“Megaprocessos merecem reflexão de toda a comunidade jurídica”, diz ministra da Justiça

  • Lusa
  • 16 Outubro 2024

A ministra da Justiça disse que os "megaprocessos merecem uma reflexão de toda comunidade jurídica", salientando que é importante que a justiça seja "próxima dos acontecimentos o quanto possível".

A ministra da Justiça considerou esta quarta-feira que os “megaprocessos merecem uma reflexão de toda comunidade jurídica”, salientando que é importante que a justiça seja “próxima dos acontecimentos o quanto possível”, referindo-se ao caso BES/GES.

Houve um grande processo. Houve 10 anos que se passaram desde o seu início e o importante é que a justiça seja tão próxima dos acontecimentos o quanto possível”, disse aos jornalistas, à margem do 13.º Encontro Nacional da Sociedade de Advogados de Portugal (ASAP), no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Rita Alarcão Júdice respondia assim depois de ter sido questionada como é que a tramitação digital, que entrará em vigor a partir de 3 de dezembro, poderá ser essencial na reforma dos megaprocessos.

“Os megaprocessos merecem uma reflexão de toda a comunidade jurídica e eu acredito que este processo que agora começou depois de 10 anos nos vai ajudar a todos a fazer essa reflexão”, realçou.

Para a governante, a eliminação do papel nas comunicações “vai ser uma grande revolução do processo penal”. “Vai permitir uma maior celeridade, uma maior facilidade no tratamento de prova, uma maior facilidade de comunicação”, sublinhou.

Na cerimónia de abertura do encontro da ASAP, Rita Alarcão Júdice disse que a partir de 3 de dezembro os advogados “vão passar a apresentar todas as peças escritas por via eletrónica” e que, a partir de abril do próximo ano, a consulta dos processos passará a ser feita eletronicamente.

As comunicações por via eletrónica aplicar-se-ão também ao envio dos autos de notícia pela GNR, PSP e Polícia Judiciária.

Acreditamos que esta medida […] vai fazer uma grande diferença na fluidez da tramitação do processo penal. É uma medida boa para os tribunais, boa para os advogados e, acima de tudo, boa para quem recorre à justiça”, observou.

O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014. Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.

Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.

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Portugal paga 2,67% para emitir 750 milhões a 11 meses

A emissão de dívida realizada esta quarta-feira ficou 0,75 pontos percentuais abaixo da última emissão realizada a 19 de junho com as mesmas características

O Estado conseguiu financiar-se esta quarta-feira em 750 milhões junto de investidores internacionais através da reabertura da linha de 11 meses dos Bilhetes do Tesouro com maturidade a 19 de setembro de 2025.

O leilão contou com uma procura 2,77 vezes acima da oferta e com uma taxa média ponderada de 2,666%. A última vez que a República realizou uma emissão com características semelhantes foi realizado a 19 de junho, contando na altura com a emissão de 650 milhões de euros e com uma yield de 3,42%.

Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, revela que o movimento de corte das taxas do Banco Central Europeu “é o fator que levou a que assistíssemos a uma descida tão significativa num espaço de tempo tão curto.”

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) tinha anunciado um montante indicativo entre 750 milhões e 1.000 milhões de euros para esta operação.

O leilão desta quarta-feira foi a primeira operação de dívida de curto prazo planeada pelo IGCP para o quarto trimestre, segundo o Programa de Financiamento da República Portuguesa.

O próximo leilão está agendado para 20 de novembro com o lançamento da linha a 12 meses dos Bilhetes do Tesouro com maturidade a 21 de novembro de 2025.

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Metro do Porto prepara concurso público para nova subconcessão

Constituição de equipa vai dar início ao estudo e preparação do lançamento da nova Parceria Público Privada para operar o Metro do Porto, cuja subconcessão em vigor termina no próximo ano.

O Metro do Porto já está a preparar o concurso público para a nova subconcessão, em modelo de Parceria Público-Privada. Foi publicada esta quarta-feira, em Diário da República, a constituição de uma equipa de projeto para dar início ao estudo e à preparação de uma nova subconcessão, em modelo de Parceira Público-Privada, para a operação e a manutenção do sistema de metro ligeiro na área metropolitana do Porto. Atualmente, o Metro do Porto é operado pelo Grupo Barraqueiro, cuja subconcessão termina em março de 2025.

A constituição desta equipa, que será liderada por Rita Santinho Martins, surge depois de a secretária de Estado da Mobilidade, “concordando com a ‘proposta fundamentada’ apresentada pela Metro do Porto, determinou dar início ao estudo e preparação do lançamento da nova Parceria Público-Privada em proposta, com indicação de três membros efetivos e dois membros suplentes para integrar a equipa de projeto a constituir”, refere um despacho publicado em Diário da República.

Rita Santinho Martins, João Nuno Rocha Pereira Fernandes Aleluia, Paula Alexandra Dias Branco, Mariana Pessoa e Costa, Hong Cheng Leong, Luís Brandão e Francisco Ramos são os membros efetivos desta equipa.

Cristiane Marques Alves dos Reis, José Luís Mendes Barbosa, Inês Teixeira da Silva e Pedro Reis foram apontados como membros suplentes.

“Sem prejuízo do apoio técnico e logístico que será prestado pela Metro do Porto, S. A., e por outras entidades ou organismos públicos, compete à equipa de projeto desenvolver as ações e trabalhos que se revelem necessários ao lançamento da parceria em referência“, refere o mesmo despacho.

O Grupo Barraqueiro ganhou o último concurso público para a subconcessão da operação e manutenção da rede pelo prazo de sete anos (2018-2025), com uma proposta de 204,3 milhões de euros.

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ANTROP ameaça suspender passes gratuitos para jovens a partir de novembro

Associação que representa operadores de transporte de passageiros ameaça suspender concessão de passes até aos 23 anos se dívidas do Estado não forem saldadas.

A Associação Nacional de Transportes de Passageiros (ANTROP ) ameaça suspender os passes gratuitos até aos 23 anos a partir de novembro, caso não seja regularizada a dívida do Estado aos operadores. Empresas reclamam o pagamento de 47 milhões em atraso.

Nos primeiros três a quatro meses não recebemos nada. Atualmente, o valor em dívida até agosto são 47 milhões de euros”, o equivalente a metade do total, afirma Luís Cabaço Martins, presidente da ANTROP. O responsável calcula em 180 milhões o valor anual que os operadores terão de receber para compensar os passes 4_18 e o passe jovem. “Em novembro não serão fornecidos passes aos jovens se não houver recuperação da dívida“, avisa.

“Vivemos um momento complicado de subsistência das empresas que tem a ver com o atraso no pagamento das compensações pelos tarifários sociais. O Governo decreta descontos para os jovens ou a terceira idade e o que está estipulado na lei é que o Estado tem de pagar aos operadores o diferencial”, explica Luís Cabaço Martins.

Operadores, mesmos os maiores, já estão a ter problemas de tesouraria e a pedir empréstimos aos bancos, incorrendo em custos financeiros que não deveriam ter.

Luís Cabaço Martins

Presidente da ANTROP

“Operadores, mesmos os maiores, já estão a ter problemas de tesouraria e a pedir empréstimos aos bancos, incorrendo em custos financeiros que não deveriam ter”, acrescenta o responsável, que é também administrador do Grupo Barraqueiro.

O presidente da ANTROP critica o “sistema complexo e burocrático” para o pagamento das verbas, que passa pela validação das autarquias, comunidades intermunicipais, e Instituto da Mobilidade e Transportes.

Para regularizar a situação, a associação apela a que seja feito um pagamento por conta pelas Finanças, com base nos dados de 2023, conforme prevê a portaria 7A/2024, do Governo. A 9 de outubro enviou uma carta ao Ministério das Infraestruturas e Transportes a afirmar que os passes serão suspensos caso as dívidas não sejam pagas.

O passe jovem, este ano acessível apenas a estudantes, vai ser alargado também a não-estudantes. “Numa conjuntura em que os pagamentos estão com estes atrasos a primeira coisa que o Governo faz é alargar estes tarifários sociais. É uma falta de razoabilidade”, considera Cabaço Martins. “Tem de haver responsabilização dos poderes públicos de que quando definem um tarifário não existam efeitos perversos, neste caso para os operadores de transportes, que são quem garante a execução dessas medidas”, acrescenta.

Passe ferroviário verde “pode destruir ecossistema”

A ANTROP considera o passe verde ferroviário, que vai permitir viajar em quase todas as linhas operadas pela CP por apenas 20 euros, é uma “medida tecnicamente errada e desajustada”. Luís Cabaço Martins alerta que uma das consequências pode ser o desaparecimento da oferta de transporte rodoviário de passageiros no interior, onde não há alternativa.

Para acompanhar o preço deste passe da CP fecharia a empresas todas. Não temos capacidade para concorrer com preços tão baixos. Vamos perder passageiros nas linhas principais, Lisboa, Porto, Braga, Faro, Évora. Vamos perder rentabilidade nessas linhas e todas as linhas fora deste eixo litoral vão ter menos apoio da parte das empresas, que era esta rentabilidade nas linhas principais que conseguia garantir a capilaridade nacional”, afirma Luís Cabaço Martins.

A medida tem impactos perversos e destrói o ecossistema de transportes. O que parecia uma medida interessante pode, a curto prazo, tornar-se uma medida destruidora do sistema de transportes.

Luís Cabaço Martins

Presidente da ANTROP

A medida tem impactos perversos e destrói o ecossistema de transportes. O que parecia uma medida interessante pode, a curto prazo, tornar-se uma medida destruidora do sistema de transportes”, considera o presidente da ANTROP, que afirma que a associação não foi ouvida.

A associação defende retirar do passe ferroviário verde o serviço intercidades, “que é o que concorre” com os operadores ferroviários.

(artigo atualizado às 10h54)

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CMS Portugal assessora Atlas Copco na compra da Arlógica

A equipa da CMS Portugal envolvida na operação foi pelo sócio Tiago Valente de Oliveira e contou com a participação da associada sénior Catarina Arriaga Sampaio e do associado Francisco Verdelho.

A CMS Portugal assessorou a multinacional sueca Atlas Copco Group na aquisição do distribuidor de ar comprimido e assistência técnica, Arlógica, ao Grupo Pinto Brasil.

A equipa da CMS Portugal envolvida na operação foi pelo sócio da área de Corporate M&A Tiago Valente de Oliveira e contou com a participação da associada sénior Catarina Arriaga Sampaio e do associado Francisco Verdelho.

O Grupo Atlas Copco, de origem sueca, desenvolve tecnologias que transformam o futuro, oferecendo soluções de ar comprimido e vácuo, soluções de energia, bombas de desidratação e industriais, ferramentas elétricas industriais e soluções de montagem e visão mecânica.

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Juíza recusa pedido da defesa de Salgado. Interrogatórios vão passar no julgamento

A defesa de Salgado pediu que as declarações gravadas do arguido não sejam reproduzidas em tribunal. Mas o tribunal decidiu recusar o requerimento, por considerá-lo "manifestamente improcedente".

O segundo dia do julgamento do caso BES contou com a conclusão das exposições introdutórias dos advogados dos arguidos e com a reprodução das gravações do interrogatório a Ricardo Salgado na fase de inquérito. No total serão oito horas de gravação das declarações do ex-banqueiro. Entretanto, a defesa de Salgado ter pedido que as declarações gravadas do antigo banqueiro não sejam reproduzidas em tribunal, mas o tribunal recusou o requerimento. A sessão desta quarta-feira terminou por volta das 17h00 e retoma amanhã com a continuação da audição dos interrogatórios de Salgado.

No início da sessão desta terça-feira, o advogado António Ferrão, representante dos lesados, voltou a apresentar um requerimento para que seja atribuído um curador provisório a Salgado. O mesmo requerimento tinha sido apresentado na segunda-feira pelo advogado Henrique Prior.

Já o advogado de Nuno Escudeiro, Paulo Ferreira, Pedro Serra e Pedro Pinto assumiu que os arguidos “não falsificaram” as contas da Espírito Santo International (ESI). “Não sabiam que tais contas estavam falsificadas”, sublinhou. Para João Costa Andrade, nenhum dos seus quatro clientes praticaram o crime de associação criminosa. “Nunca, em momento algum, os arguidos firmaram pactos associativos nem corruptivos”, disse.

Salientando que estavam alheios à situação de fragilidade financeira da ESI, o advogado reiterou que os arguidos foram chamados à “prática de atos sob desconhecimento e cegueira”.

Sobre a Eurofin, João Costa Andrade explicou que os arguidos “lidaram”, “comunicaram” e “interagiram” com várias entidades da empresa, mas que não utilizaram “meios artificiosos”. Sublinhou ainda que não tinham conhecimento que a Comissão Executiva do grupo estava a “ser enganada”, nem que a Eurofin tinha controlo sob várias sociedades offshore.

Também Margarida Lima, advogada de Cláudia Faria, recusou o crime de associação criminosa, que foi imputado à sua cliente, salientado que “não há um plano e, por isso, não há a adesão a algo que não existe”. “De palpável não há rigorosamente nada”, acrescentou.

Para a defesa, Cláudia Faria não obteve “qualquer recompensa”, logo não haveria razão para participar num plano deste. A arguida está ainda acusada dos crimes de corrupção passiva no setor privado, dois de burla qualificada e um de manipulação de mercado. Margarida Lima acredita que o desfecho não será “certamente positivo” para o Ministério Público e para a “grandeza que quer dar aos autos”.

Na sua exposição introdutória, o advogado do arguido Pedro Costa questionou os factos da acusação e criticou que na sessão de segunda-feira o protagonista de todas as declarações foi Salgado, adjetivando os restantes arguidos como “quase adereços da acusação”.

Paulo Amil sublinhou que para o Ministério Público há apenas cinco apelidos que importam – Galvão, Espírito Santo, Ricciardi, Pinheiro e Salgado -, e que os “Pintos” e os “Costas” não estão lá a fazer nada. O antigo alto quadro do BES está acusado de 10 crimes, entre eles corrupção passiva no setor privado e manipulação do mercado.

O advogado Tiago Rodrigues Bastos, defesa de Alexandre Cadosch, Michel Creton e da Eurofin, pediu o “absoluto” respeito, tanto dos intervenientes como do tribunal, a Salgado, sublinhando que a sua questão de saúde “não é indiferente para este processo”. Criticou também a decisão do tribunal em obrigar Salgado a estar presente na primeira sessão.

O advogado está cético se o tribunal possa fazer um julgamento “equitativo”, uma vez que considera que não tem condições de apreciar toda a prova. “Há um desafio intelectual e de princípio de saber se este processo é efetivamente julgável”, notou.

Para além de Adriano Squillace, também Tiago Rodrigues Bastos referiu o pedido de escusa que foi feito pela juíza por ter sido detentora de 560 ações do BES, pedido que foi rejeitado pelo Tribunal da Relação. A resposta da juíza ao advogado foi a seguinte: “ver quanto é que valem 500 e tal ações, passar na Avenida da Liberdade e ver se consegue comprar uma mala com isso”.

O advogado de Ricardo Salgado, Adriano Squilacce, apresentou um requerimento para impedir que durante a sessão da tarde seja ouvido o áudio de cerca de oito horas com o depoimento do arguido, feito em julho de 2015. O motivo prende-se com o facto de Salgado não estar em condições de fazer o contraditório. “É evidente que o arguido tem de estar em condições de contraditório”, disse. Assim, a defesa considera que a reprodução do testemunho de Salgado viola o direito do contraditório. O julgamento foi suspenso 10 minutos e retomou apenas meia hora depois.

Depois da pausa, a procuradora do Ministério Público, Carla Dias, garantiu que estão preenchidos todos os pressupostos legais e, por isso, “não se verifica nulidade” e “nada impede” a reprodução do depoimento de Salgado. Contudo, pediu um prazo para responder ao requerimento em causa. Também o advogado de Manuel Fernando Espírito Santo pediu um prazo para se pronunciar e pede suspensão da sessão até decisão. A advogada dos lesados, Ana Peixoto, considera que o requerimento deva ser indeferido.

Após analisar e escutar as partes, o tribunal decidiu recusar o requerimento, por considerá-lo “manifestamente improcedente”. Isto porque alega que, em 2015, Salgado foi informado que as suas declarações estavam “sujeitas a livre apreciação do tribunal”. “Aquando da prestação de declarações, o arguido é informado que as declarações que prestar poderão ser usadas no processo”, disse.

Sobre a alegada violação ao direito do contraditório, a juíza alega que o exercício deste direito não depende da presença do arguido.

A audição do depoimento de Salgado, que tem a duração total de cerca de oito horas, foi interrompida e retomada algumas vezes por problemas de interpretação aos arguidos suíços, Alexandre Cadosh e Michel Creton. No depoimento, Salgado começou por explicar a história do Grupo Espírito Santo e os seus alicerces nas comunidades portuguesas internacionais.

O ex-homem forte do BES refere que o colapso do Grupo nada tem a ver com os problemas da ESI, mas antes com a intervenção do Banco de Portugal. Garantiu também que grupo nunca teve dificuldade em obter capitais, tanto de bancos como de empresas e particulares.

Salientando que nunca houve nenhum alerta das autoridades de Luxemburgo para consolidar as contas, Salgado explica que nunca tinham tido problemas em relação às holdings até 2013. “A gestão administrativa das holdings era feita à distância, […] assinávamos as atas, eram depositadas no Luxemburgo e, nunca nestes 40 anos, ninguém nos disse como tínhamos de auditar as contas”, disse. Responsabilizou o contabilista, Francisco Machado da Cruz.

Sem prestarem declarações nesta sessão, as arguidas Cláudia Faria, ex-diretora-adjunta do BES acusada de seis crimes, e Isabel Almeida, ex-diretora do departamento financeiro do BES acusada de 21 crimes, compareceram em tribunal para fazerem as respetivas identificações, apesar de estar agendado apenas para quinta-feira. Assim, fica apenas a faltar uma identificação, a de António Soares.

A 14 de julho de 2020 a equipa de procuradores liderada por José Ranito acusou 25 arguidos, entre os quais Ricardo Salgado, no âmbito do caso Banco Espírito Santo (BES). Passados mais de quatros anos, arrancou o julgamento do já apelidado maior processo da história da justiça portuguesa.

Dez anos depois da queda do BES, com o arguido Ricardo Salgado acusado de 62 crimes (três entretanto prescreveram), o julgamento do processo BES conta com 17 arguidos singulares, sete empresas arguidas, 733 testemunhas, 135 assistentes e mais de 300 crimes. Este megaprocesso, que já vai nos 215 volumes após uma acusação com mais de quatro mil páginas.

O ex-banqueiro está acusado de associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento de capitais. E estava inicialmente acusado de um total de 65 crimes, vai agora ser julgado por 62 ilícitos criminais, após terem prescrito dois crimes de falsificação de documento e um de infidelidade. O levantamento dos crimes em risco de prescrição recentemente realizado pelo MP indica ainda que Ricardo Salgado pode ver cair, em finais de novembro próximo, mais um crime de falsificação e outros dois crimes no final de dezembro.

Em janeiro de 2025 prescrevem mais três crimes de falsificação de documento, no final de fevereiro cai um de infidelidade e até 28 de março tombam outros três de infidelidade.

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Governo revê em alta proposta de salário mínimo no Estado para 875 euros

Governo evoluiu na base remuneratória da Função Pública para 2025 e propôs aumento de 53,17 euros, acima dos 52,63 previstos no acordo. A partir dos 1.754 euros os ordenados sobem 2%.

O Governo reviu em alta o aumento do salário mínimo no Estado para 2025 e agora propõe 875 euros, mais 4,5 euros do que a versão inicial de 870,5 euros, revelou esta quarta-feira o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, à saída de uma reunião com a secretária de Estado da Administração Pública, Marisa Garrido. Mais tarde, fonte oficial do Ministério das Finanças confirmou a proposta, em comunicado: “O Governo subiu a proposta para a Base Remuneratória da Administração Pública para o valor de 875 euros”.

Com este aumento de 53,17 euros face à atual base remuneratória da Administração Pública (BRAP), que está nos 821,83 euros mensais brutos, o Executivo consegue cumprir e até ultrapassar o que está no acordo firmado com os sindicatos da UGT e que prevê um aumento de 52,63 euros até aos 1.754 euros, e de 2% para ordenados superiores.

Assim, o salário mínimo no Estado avança 6,5% e fica cinco euros acima da retribuição mínima mensal garantida do privado, que vai subir para 870 euros no próximo ano. A partir do nível remuneratório seguinte, que está nos 922,47 euros, e até aos 1.754 euros mensais brutos, os ordenados deverão subir 52,63 euros. Vencimentos superiores terão uma atualização de 2%.

Apesar da secretária de Estado ter elevado a proposta inicial para a BRAP, Sebastião Santana indicou que não estão previstas novas atualizações. Para o dirigente sindical, trata-se de uma afronta à negociação coletiva e lembra que, no dia 25 de outubro, está prevista “uma greve geral e uma grande manifestação em Lisboa”.

“Este Governo está a fazer o mesmo que outros Governos anteriores fizeram, que é chamar a isto um processo negocial que depois na prática não se verifica”, criticou o líder da Frente Comum que considera manifestamente insuficiente a proposta de atualização salarial anual para 2025.

O sindicalista referiu ainda que o Governo não assumiu “o compromisso de isentar de IRS estes trabalhadores”, o que pode “significar menos dinheiro no final do mês”. “E há 160 mil trabalhadores na Administração Pública que auferem a BRAP”, salientou.

Importa lembrar que ordenados até 870 euros não terão de pagar imposto. Acima desse montante, e até cerca de 934 euros, os vencimentos já estão sujeitos a IRS, mas com a dedução de despesas à coleta estes trabalhadores praticamente não serão tributados.

O Governo diz que não tem mais dinheiro e acha que com 875 euros com retenções na fonte e com pagamento de IRS é dinheiro suficiente para qualquer trabalhador do país, incluindo os trabalhadores da Administração Pública, sobreviverem. o é possível”, atirou Sebastião Santana.

O dirigente sindical voltou a frisar que “isto não é um processo negocial” e criticou as opções do Governo: “Ao mesmo tempo que diz que não tem dinheiro para aumentar salários nem para mexer na proposta, este Orçamento do Estado tem mais 1.310 milhões de euros para aquisição de serviços que já vai nos 27 mil milhões de euros este ano”. Esta rubrica é usada para a contratação de serviços externos.

“Este valor sobra e chega para pagar estas atualizações miseráveis que o Governo está a fazer. Isto só compra a luta dos trabalhados, não compra paz social nenhuma”, alertou.

Também para o secretário-geral da Fesap, José Abraão, a proposta de atualização salarial anual “é insuficiente”, ainda que reconheça a “melhoria” face à versão inicial. “Agora temos uma alteração no sentido em que a BRAP poderá passar para 875 euros, mantendo os 52 euros [até 1.754 euros] e 2% de aumento [para salários superiores]. É manifestamente insuficiente. Pensamos e acreditamos que há condições para ir mais além. É o próprio Governo que prevê uma inflação superior a 2% e não queremos abandonar todos aqueles que, tendo salários acima de 1.700 euros, poderiam perder poder de compra”, afirmou.

Na proposta de Orçamento do Estado para 2025, o Executivo projeta uma inflação de 2,3%. Questionado se esse deve ser o referencial de aumento para quem aufere acima de 1.754 euros, Abraão retorquiu: “A nossa exigência é 85 euros como mínimo com 6,5% para todos”.

Maria Helena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), estrutura que lidera a Frente Sindical, colocou a tónica sobretudo na necessidade de uma maior valorização salarial dos “grupos profissionais mais qualificados”, considerando insatisfatória a proposta de aumento de 2% para quem ganha acima de 1.754 euros.

“A necessidade de atrair e reter talento na Administração Pública não pode ser com atualizações salariais que vão aproximando os trabalhadores da base da carreira com os trabalhadores mais qualificados. Tem de haver mudança e continuamos a propor uma atualização que não afaste esse caminho de valorização das carreiras dos mais qualificados”, defendeu.

A dirigente sindical refere, no entanto, que “o processo negocial ainda está no início. Mas avisa: “Se esta fosse a última reunião, não assinaríamos o acordo.”

Em relação ao subsídio de alimentação, que está nos seis euros por dia, não houve qualquer avanço. “Um absoluto e rotundo zero na evolução do subsídio de alimentação, em todos os suplementos e ajudas de custo”, indicou o líder da Frente Comum, Sebastião Santana.

O líder da Fesap, afeta à UGT, também referiu que, para já, “não está em cima da mesa qualquer alteração” ao subsídio de refeição e às ajudas de custo, “o que é incompreensível”, entende. “Não faz sentido nenhum. As ajudas de custo são os valores de 2010 e ninguém consegue almoçar por seis euros”, lamentou, recordando que “o próprio Governo dá sinais contrários quando aumenta a isenção em IRS para o subsídio de refeição em cartão”. O acordo assinado pelo Governo, patrões e sindicatos, em concertação social, prevê de facto um aumento do valor pago em cartão livre de tributação de 9,60 para 10,20 por dia.

Abraão acredita, no entanto, que podem existir “propostas melhoradas e concretas” em próximas reuniões, sinalizando a disponibilidade da federação sindical “não só para melhorar o acordo até 2026 como até prolongá-lo no tempo”. Ou seja, a Fesap admite assinar um novo acordo plurianual até 2028 para a valorização dos trabalhadores da Função Pública.

“Verificamos abertura por parte do Governo para continuar este processo negocial tendo em vista a possibilidade de compromissos e, à semelhança do que aconteceu na concertação social, queríamos até que estes compromissos fossem prolongados no tempo”, reforçou.

“Carta branca” para mexer nas férias, no direito à greve e nas baixas médicas

Sebastião Santana deixou ainda fortes críticas à intenção de o Executivo mexer no regime de férias, no direito à greve e nas baixas médicas pagas pela Caixa Geral de Aposentações (CGA) através de uma autorização legislativa que inscreveu no Orçamento do Estado para 2025.

“O Governo quer uma carta branca que pôs no Orçamento do Estado para legislar sobre coisas que não são menores, como são o direito à greve, os dias de férias, os regimes de mobilidade e a certificação da doença. É inadmissível que o Governo tente esta carta branca, que é uma figura jurídica que existe e que permite que o Governo legisle sem o escrutínio da Assembleia da República, ainda para mais não identificando quais as suas intenções”, sublinhou Sebastião Santana.

Tal como o ECO noticiou, o Executivo quer alterar as baixas médicas dos funcionários públicos pagas pela Caixa Geral de Aposentações (CGA), de acordo com a proposta de lei do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). O articulado indica que a intenção é alterar os artigos 17.º e 18.º da Lei Geral de Trabalho em Funções Públicas, os quais dizem respeito à justificação e aos meios de prova de doença, prevendo uma eventual equiparação entre o sistema de proteção social convergente e o da Segurança Social, mas sem detalhar mais.

Para além disso, pretende mexer nas férias e no direito à greve, mas sem especificar de que forma. De lembrar que, neste momento, os funcionários públicos têm direito a 22 dias de férias, tal como os trabalhadores do privado, mas podem gozar mais um dia extra por cada dez anos de serviço. No entanto, este acréscimo não dá direito a aumento no montante do subsídio de férias.

O líder da Fesap, José Abrãao, também saiu da reunião com a secretária de Estado sem perceber em concreto que alterações o Governo pretende introduzir: “Foi-nos dito que tem por objetivo simplificar e melhorar, desde as mobilidades até às baixas por doença, mas não foi muito longe na explicação.”

O dirigente sindical lamentou que o Executivo não tenha dado uma palavra aos sindicatos sobre esta matéria, na primeira reunião, que decorreu na semana passada, a 9 de outubro, quando nesse mesmo dia o Conselho de Ministros aprovou a proposta do Orçamento do Estado. No entanto, José Abraão indicou, segundo garantias dada pela secretária de Estado, que “haverá negociações dos tais ditos projetos de autorização legislativa com as organizações sindicais”.

O dirigente sindical deixou ainda um alerta: “Quando ouvimos falar de alteração ao direito à greve, acendemos o alarme, porque, normalmente, quanto mais se regulamenta um direito mais se o condiciona.”

Maria Helena Rodrigues, do STE, mostrou-se mais tranquila: “Pelo que já analisámos, não nos parecem propostas de alteração de fundo, é mais de compatibilização com o Código do Trabalho para o qual já temos convergido.”

Questionada se poderia estar em causa uma equiparação das baixas médicas da CGA, que são mais vantajosas, com as da Segurança Social, a líder do STE afastou essa hipótese: “Não pode nunca haver um retrocesso de direitos adquiridos.” Contudo, não conseguiu adiantar muito mais sobre as intenções do Executivo com os pedidos de autorização legislativa que, a serem aprovados, dão ao Governo 365 dias ou um ano para legislar.

Revisão das carreiras dos administradores hospitalares

O Governo pretende, ainda este ano, rever as carreiras de oficiais de justiça e bombeiros sapadores. Para 2025, serão as de técnico superior de saúde, medicina legal e de reinserção social/reeducação a serem revistas. E, em 2026, avança a atualização das carreiras inspeção.

Abraão acrescentou que também se irão “iniciar as negociações para a revisão da carreira dos administradores hospitalares ainda em 2024”. E desafiou o Governo “a ser mais preciso na data em que estes compromissos negociais” vão arrancar.

Em comunicado, o Ministério das Finanças confirmou que “aceitou rever as carreiras não revistas relativas aos administradores hospitalares”. As negociações para a atualização das carreiras dos técnicos superiores de saúde deverão arrancar em 2025. “Relativamente às restantes, o Governo está ainda a analisar as mesmas”, segundo a mesma nota. A próxima ronda negocial está marcada para esta sexta-feira, dia 18 de outubro.

(Notícia atualizada às 17h19 com o comunicado do Ministério das Finanças)

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PAN vai votar contra Orçamento por conter “retrocessos preocupantes”

  • Lusa
  • 16 Outubro 2024

O PAN considera a proposta "inaceitável" e justifica que o orçamento "elimina por completo as verbas dedicadas à causa animal", que em 2024 "ascendiam a 13,2 milhões de euros".

O PAN vai votar contra o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) por considerar que a proposta apresenta “retrocessos preocupantes” em “várias áreas cruciais”, indica um comunicado do partido.

“A Comissão Política Nacional do PAN deliberou por unanimidade dos seus membros o voto contra o OE2025. O PAN reitera o seu compromisso com a luta pelos direitos dos animais, pela proteção do ambiente e pela melhoria das condições de vida das pessoas, causas postas em causa pelo OE apresentado pela AD”, de acordo com a porta-voz do partido, Inês Sousa Real, citada no comunicado.

O partido entende que este é um orçamento “que apresenta retrocessos preocupantes em várias áreas cruciais” para o futuro do país.

“Inaceitável que em pouco mais de seis meses o Governo de Luís Montenegro tenha feito retroceder quase uma década de políticas relacionada com a proteção e o bem-estar animal, ao eliminar do orçamento os apoios previstos para as autarquias locais, associações de proteção animal e famílias carenciadas”, refere a porta-voz.

O PAN destaca que o orçamento “elimina por completo as verbas dedicadas à causa animal”, que em 2024 “ascendiam a 13,2 milhões de euros”.

Uma decisão que vai colocar associações e municípios “sob uma pressão extrema, limitando as políticas de captura, esterilização e devolução (CED) e o apoio às populações mais carenciadas”, defendeu.

No que diz respeito ao ambiente, o partido mostra-se preocupado que o orçamento “continue a não cumprir a Lei do Clima”.

“Não prevê o impacto carbónico das medidas climáticas propostas e reduz as verbas para a política climática em 23,22%”, sublinhou.

Além disso, “a transição climática proposta penaliza as famílias com o descongelamento da taxa do carbono, que lhes custará 525 milhões de euros por ano, enquanto as grandes empresas poluidoras continuam a beneficiar de isenções fiscais”.

Em relação ao fundo de emergência municipal, este “permanece nos mesmos seis milhões de euros, ignorando os estragos causados por fenómenos extremos como cheias e incêndios”.

O PAN apontou ainda que o orçamento vai ao encontro, “ainda que não na totalidade”, de propostas do partido, como o novo regime de IRS Jovem e a revisão dos escalões de IRS. No entanto, estas “são claramente insuficientes”, notou, referindo que as atualizações fiscais “ficam aquém da inflação acumulada dos últimos anos e não abrangem os jovens considerados dependentes, criando uma falsa emancipação fiscal”.

No que toca à habitação, a proposta falha em responder às necessidades urgentes das famílias, considerou o partido, que dirigiu ainda críticas no capítulo do combate à pobreza energética que “é ignorado”, uma vez que “os limiares de acesso às tarifas sociais de energia permanecem desatualizados”.

“Continuaremos firmes, determinados e intransigentes na defesa destes valores essenciais para construir um país mais justo, sustentável e compassivo”, referiu Inês Sousa Real, ainda de acordo com o comunicado.

No dia da apresentação do orçamento, a porta-voz do PAN já tinha dito que o partido dificilmente poderia acompanhar a proposta do Orçamento do Estado para 2024, porque “põe por terra compromissos ambientais e compromissos com a proteção animal”.

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“As pessoas desistem dos líderes e não das organizações”

  • ECO
  • 16 Outubro 2024

O mundo do trabalho está em transformação e os desafios da retenção de talento vão além das políticas de recursos humanos: a liderança tornou-se crucial.

A forma como se trabalha tem passado por uma transformação acelerada nos últimos anos, impulsionada por avanços tecnológicos, mudanças sociais e novas expectativas das gerações mais jovens.

Flexibilidade e capacidade de adaptação tornaram-se essenciais, à medida que os trabalhadores procuram ambientes que promovam o bem-estar e respeitem a diversidade.

Paralelamente, a retenção de talento enfrenta desafios únicos, com foco crescente na importância da liderança, que vai além da simples gestão. As novas gerações, como a Geração Z, trazem uma visão diferente sobre o trabalho, valorizando menos as hierarquias tradicionais e exigindo uma evolução contínua e um papel mais ativo das empresas no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Neste contexto, o futuro do trabalho parece apontar para um modelo mais inclusivo, ágil e centrado nas pessoas.

Estas e outras conclusões sobre o mundo do trabalho estiveram em debate na Conferência Anual do Trabalho, que se realizou nos dias 15 e 16 de outubro, no Estúdio ECO, em Lisboa.

Novas tecnologias e a capacidade de aprender

As mudanças que ocorreram no mundo do trabalho, nos últimos anos, foram o ponto de partida do primeiro painel da Conferência Anual do Trabalho. Para Pedro S. Martins, Professor na Nova School of Business and Economics, as inovações tecnológicas a que temos assistido, nas últimas décadas, têm sido muito significativas para o mercado de trabalho. Outro dos pontos destacados pelo professor é a integração económica internacional. “Penso que a União Europeia tem sido um fator enormíssimo em termos de modernização do mercado de trabalho em Portugal, associado ao processo de integração europeia com os fundos europeus e as novas iniciativas legislativas”, explica.

"A ameaça está em quem acha que, como tem experiência, já sabe tudo e não vai precisar de aprender. E quando perceber, em dois ou quatro anos, está completamente desatualizado”

Pedro Henriques, HR Head Portugal na Siemens

Relativamente às competências dos trabalhadores, que também foram mudando os últimos anos, Pedro Henriques, HR Head Portugal na Siemens, é da opinião que o que se sabe hoje não é suficiente para daqui a três anos, principalmente, numa empresa tecnológica. Por isso, a competência que será mais valorizada, de acordo com o especialista, é a capacidade de aprender. “A ameaça está em quem acha que, como tem experiência, já sabe tudo e não vai precisar de aprender. E quando perceber, em dois ou quatro anos, está completamente desatualizado”, afirma.

Pedro Henriques reforça a importância do trabalho em equipa: “Enquanto antes, cada especialista achava que era o rei da sua área, hoje isso não chega, porque se tiver o conhecimento e não trabalhar com os outros, nós não precisamos dele”, refere.

Fidelizar e não reter

“A escassez de talento é quase o novo normal”, afirma António Carvalho, Business Manager Temp & Perm da Gi Group, explicando que, neste sentido, a questão das competências é fundamental e uma fonte de preocupação para as organizações.

António Carvalho fala da importância da distinção entre o reter e o fidelizar os colaboradores, porque o reter “leva-nos para um outro sentido de não trabalhar proativamente, mas reativamente para determinados fatores”. Mas como é que, nos dias de hoje, se retém ou fideliza talento? O especialista enumera alguns fatores, como flexibilidade, inovação, causas sociais, mas destaca um: a liderança.

“Até que ponto é que vamos conseguir ter lideranças aspiracionais que consigam trabalhar para pessoas e no seu desenvolvimento, porque são as pessoas que depois vão dar lugar aos resultados. Como se costuma dizer, as pessoas desistem dos líderes e não das organizações”, explica.

Menos hierarquia, mais rapidez

Como é que a geração Z está a influenciar a cultura laboral? E quais são as expectativas dos mais jovens em relação ao trabalho? “No caso da Siemens estamos com 16% de geração Z, mas sabemos que vamos subir 10% ao ano, o que significa que daqui a quatro ou cinco anos, 50% da empresa irá ser geração Z. Portanto, ou sabemos aprender nos próximos quatro anos ou vamos ter dificuldades”, afirma Pedro Henriques, referindo-se à gestão das empresas. “A geração Z não tem paciência para hierarquias. Gostam de uma relação informal e querem mudar rapidamente”, acrescenta.

António Carvalho fala da importância do equilíbrio desta relação, entre as exigências das novas gerações e os objetivos estratégicos da empresa. “Em muitos casos, associamos a palavra talento só às novas gerações, mas temos muito talento que pertencem a gerações anteriores”, diz. Outro dos desafios apontado pelo especialista é ter a geração X a gerir a geração Z com fatores de motivação e retenção diferentes, apesar de assistir no seu dia-a-dia que, de alguma forma, “existe uma contaminação positiva da geração Z às outras gerações”.

Assista aqui:

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Ensino profissional com financiamento temporário de 11,7 milhões

O reforço de investimento destinado ao ensino profissional vai abranger as regiões Norte, Centro e Alentejo.

O Governo criou uma medida temporária no valor de 11,7 milhões de euros para financiar o ensino profissional nas regiões Norte, Centro e Alentejo.

“Vão beneficiar desta medida temporária as escolas profissionais públicas com cursos aprovados na rede homologada para os ciclos de formação com início nos anos letivos de 2021-2022, de 2022-2023 e de 2023-2024, nas regiões NUTS II do Norte, do Centro e do Alentejo“, lê-se na resolução publicada esta quarta-feira em Diário da República.

O Executivo autoriza a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) a realizar, durante o ano económico de 2024, uma despesa até ao limite máximo de 11, 7 milhões de euros, isento de imposto sobre o valor acrescentado.

A medida abrange cursos profissionais conferentes de nível 4 do Catálogo Nacional de Qualificações (QNQ) e cursos de educação e formação de jovens conferentes de nível 2 de qualificação do QNQ, nas tipologias dos percursos de tipo 2 e de tipo 3.

Lê na resolução que a “presente medida temporária de apoio destina-se às entidades beneficiárias com cursos em funcionamento no ano letivo de 2023-2024 e corresponde ao adiantamento de 85%, por referência aos montantes aprovados nas candidaturas aos concursos no âmbito do Programa Operacional Capital Humano (POCH) para o ano letivo de 2022-2023“.

“No caso das entidades beneficiárias com cursos em funcionamento no ano letivo de 2023-2024 sem candidaturas tituladas no concurso do POCH referentes ao ano letivo de 2022-2023, o valor do adiantamento corresponde a 85 % do valor turma/ano”, esclarece a resolução.

A medida está em vigor até 31 de dezembro de 2024 e é cofinanciada pelo Programa PESSOAS 2030.

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“Contribuição dos 27” para orçamento da UE “é muito pequena. Temos de aumentar”, defende Montenegro

Montenegro reitera a necessidade de os Estados-membros aumentarem as contribuições para o orçamento comunitário, defendendo que só assim será possível reforçar a competitividade do bloco

O primeiro-ministro considera que a atual contribuição geral dos 27 Estados-membros para o orçamento da União Europeia “é muito pequena”, cerca de 1% do PIB da UE, sendo assim insuficiente para dar resposta às necessidade de o bloco reforçar o seu posicionamento e competitividade nos mercados internacionais.

Recordando a carta que enviou à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e que serviu para fazer o mesmo apelo, Luís Montenegro foi perentório: “o Governo não tem dúvidas: temos de assumir que a contribuição geral dos Estados-membros é muito pequena. É preciso aumentar a capacidade financeira comum se queremos efetivamente atender às várias preocupações para atuarmos no domínio do reforço da competitividade”, defendeu, esta quarta-feira, durante o debate preparatório para o Conselho Europeu que decorre esta quinta e sexta-feira, em Bruxelas.

Para Luís Montenegro, as atuais contribuições dos 27 ficam muito aquém quando comparado com os Estados Unidos que alocam cerca de 26% para o orçamento do país. Reconhecendo que está a “comparar uma realidade” diferente da UE, Montenegro argumenta ainda assim que “para quem quer se competitivo e ir para os mercados, temos de ter esse primeiro reconhecimento e foi isso que disse [a Ursula von der Leyen]”.

Numa carta enviada à presidente da Comissão Europeia, citada pelo Público, Luís Montenegro defende que a barreira de 1% do Rendimento Nacional Bruto das transferências para Bruxelas “tem forçosamente de ser ultrapassada” de forma a evitar cortes nos montantes destinados às “políticas vitais da UE” no próximo ciclo orçamental.

O chefe do Governo defendeu que ainda que a União Europeia deve desenvolver duas novas áreas: um modelo de financiamento comum com solução da divida de responsabilidade mutua – sublinhando que Portugal “poderá tirar proveito disso”– e ainda a criação de condições para que haja cesso a financiamento privado.

Pasta de Maria Luís Albuquerque vai estar no “centro da agenda” no próximo ciclo político da UE

O primeiro-ministro considera que os dossiês abrangidos pela pasta que será atribuída a Maria Luís Albuquerque na Comissão Europeia estarão no “centro da agenda” no próximo ciclo político do executivo comunitário, que prepara para iniciar funções até ao final do ano.

“A nossa participação no colégio será assegurada por Maria Luís Albuquerque e quero sublinhar a atribuição do pelouro à comissária portuguesa designada”, começou por assinalar Luís Montenegro, esta quarta-feira, durante o debate preparatório para o último Conselho Europeu, em Bruxelas. Esta reunião será a última a ser presidida por Charles Michel antes de António Costa, o novo presidente do Conselho Europeu, tomar posse, a 1 de dezembro.

Abrangidos pela pasta de comissária para os Serviços Financeiros estarão os temas ligados à competitividade europeia e o crescimento económico, dossiês “importantes” e que, segundo Montenegro, estarão “no centro da agenda para este novo ciclo”.

“A competitividade e o crescimento económico têm na nossa indicação para comissária um reconhecimento ao nível daquilo que pode ser a participação de Portugal”, diz ainda.

Sem competitividade económica, a Europa perderá a relevância e não conseguirá salvaguardar a prosperidade que todos ambicionamos“, declarou Luís Montenegro na Assembleia da República, ressalvando que o encontro entre os líderes dos 27 Estados-membros servirá para discutir as conclusões do relatório elaborado e apresentado, em setembro, por Mario Draghi e por Enrico Letta.

Além da competitividade, o próximo Conselho Europeu, que irá decorrer esta quinta e sexta-feira, em Bruxelas, vai servir para debater o conflito geopolítico na Ucrânia, no Médio Oriente e ainda a política de migrações, na União Europeia. Nestes temas, disse Luís Montenegro, a participação de Portugal “será efetiva”. “Queremos ser liderantes nestas discussões cruciais”, frisou.

Debruçando-se em particular sobre o tema das migrações, Montenegro sublinha que Portugal continuará a “defender um modelo preventivo” apostando num “reforço das parcerias com os países de origens” dos migrantes, no sentido de “combater a imigração irregular”.

Sem nunca endereçar a carta que a presidente da Comissão Europeia enviou aos 27 Estados-membros, no início da semana, apelando para que haja um reforço das políticas de asilo e a criação de hubs fora da UE, o primeiro-ministro sublinhou que a “Europa precisa de lidar com este fenómeno e com segurança”.

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Uría Menéndez assessorou Slate Asset Management na compra de um portfólio de 12 imóveis em Portugal

A equipa da Uría Menéndez envolvida nesta operação, com um valor global de cerca de 150 milhões de euros, foi liderada pela sócia Rita Xavier de Brito.

A Uría Menéndez assessorou a gestora de investimentos canadiana Slate Asset Management na aquisição de um portfólio de 12 imóveis em Portugal à LCN Capital Partners, com um valor global de cerca de 150 milhões de euros.

Os 12 imóveis estão a ser arrendados à cadeia de supermercados Continente/Continente Modelo e estão localizados em grandes áreas urbanas e geograficamente diversificadas por todo o país, concentradas principalmente na área metropolitana de Lisboa, Porto e Faro.

“Esta aquisição pela Slate à LCN Capital Partners marca o primeiro investimento da Slate em Portugal, que assim exponencia a sua exposição a ativos imobiliários essenciais de alta qualidade na Europa”, refere o escritório em comunicado.

A equipa da Uría Menéndez envolvida nesta operação foi liderada pela sócia Rita Xavier de Brito e contou com a participação da sócia Marta Pontes, do sócio Miguel Stokes, do counsel Miguel Rodrigues Leal, do associado coordenador Pedro Teixeira de Sousa, do associado sénior Domingos Braga, da associada sénior Raquel Silva, e dos associados júnior Inês Roxo e Luís Assis Teixeira.

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