Carta Municipal de Habitação de Lisboa acaba em troca de acusações entre PS e executivo de Carlos Moedas

A Carta Municipal de Habitação não foi a votos na reunião de câmara em Lisboa. Socialistas falam de “patética vitimização”. Filipa Roseta diz que o PS tentou apagar gráficos que o penalizavam.

A discussão da Carta Municipal de Habitação na reunião desta quarta-feira na Câmara de Lisboa terminou em polémica, com troca de argumentos entre o Partido Socialista, na oposição, e o executivo de Carlos Moedas. Apesar da perspetiva inicial de acordo, uma proposta de alteração solicitada pelo PS no dia anterior à discussão, levou a vereadora Filipa Roseta a decidir retirar a proposta, impedindo que fosse a votos.

Ao ECO/Local Online, a vereadora socialista Inês Drummond classificou a retirada do documento como “uma tentativa patética de vitimização, retirando uma carta que estava prestes a ser viabilizada, e que a vereadora Filipa Roseta, retira à última hora, impedindo qualquer discussão”.

Filipa Roseta, vereadora com o pelouro da Habitação, membro do Executivo de Carlos Moedas, contesta, em declarações ao ECO/Local Online, a acusação e atira para o PS a responsabilidade pela situação vivida na reunião: “Estamos prontos para aprovar a carta se o PS retirar a proposta que fez, de apagar dois gráficos com dados do INE e da câmara, os quais revelam a brutal venda de habitação municipal e a produção de habitação municipal”. O retrato desses gráficos é um “diagnóstico em que o PS [líder do executivo municipal no período de 2011 a 2021] não sai bem na fotografia”.

O primeiro dos gráficos mostra que durante os executivos de António Costa e Fernando Medina só se construíram, em média, 15 casas por ano. O segundo, que o PS exigiu serem retirados da carta, mostra um défice, para o mesmo período 2011-2021, entre património municipal vendido e nova construção de habitação camarária, da ordem dos 500 milhões de euros, aponta a vereadora da Habitação.

“A única coisa que não estamos disponíveis é alterar a história só porque não é favorável ao PS”, diz Filipa Roseta. “Como investigadora que sou – venho da academia –, para nós é muito importante o rigor dos números. Para mim é totalmente impensável apagar números, seja prejudicial a mim, seja a outros. Este gráfico do INE é igual ao do Programa Nacional de Habitação”, nota. “O problema não é se nós fazemos mais ou eles fazem mais. Temos de olhar com rigor científico. Aqui, não é quem fez mais, é uma questão de rigor de números”, prossegue, acentuando que “a proposta do PS é eliminar, sem alternativa” esses dois gráficos.

A única coisa que não estamos disponíveis é alterar a história só porque não é favorável ao PS. Como investigadora que sou — venho da academia –, para nós é muito importante o rigor dos números. Para mim é totalmente impensável apagar números, seja prejudicial a mim, seja a outros. Este gráfico do INE é igual ao do Programa Nacional de Habitação

Filipa Roseta

Vereadora da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa

Confrontada pelo ECO/Local Online com esta tomada de posição, Inês Drummond diz que “os dados do INE não podem suplantar os dados da câmara. A carta refere que os dados do INE não estão rigorosos na foto de 2011 a 2021. O presidente Carlos Moedas sabe exatamente que isto é assim. A carta refere que é assim”, insiste a vereadora socialista, para quem a posição tomada em reunião veio “cumprir a narrativa e o spin do presidente, de que se construíram 17 casas” por ano.

Os dados do INE não podem suplantar os dados da câmara. A carta refere que os dados do INE não estão rigorosos na foto de 2011 a 2021. O presidente Carlos Moedas sabe exatamente que isto é assim. A carta refere que é assim.

Inês Drummond

Vereadora do Partido Socialista na Câmara Municipal de Lisboa

Os números do INE constantes num dos dois gráficos, que geraram a polémica, indicam que no horizonte temporal de 1919 a 1945 houve uma cadência de construção aproximada às alegadas 15 casas construídas anualmente, em média, entre 2011 e 2021. Nesse longínquo período, a média foi de 19. Os períodos mais profícuos, segundo o mesmo gráfico do INE, foram entre 1981 e 2000 (483 fogos anualmente) e de 2001 a 2010 (237). Bem longe dos 15 referidos pelo INE entre 2011 e 2021.

Contudo, o PS responde à proposta do executivo de Moedas apresentando números de construção bem superiores: 663 casas na década, o que representa mais de 60 fogos por ano. Apesar de continuar a comparar mal com o período de 1961 a 2010, é quatro vezes superior ao apresentado no gráfico do INE cuja presença na carta é imprescindível para Filipa Roseta.

Nos números do PS constam construção nova, reabilitação e parcerias com cooperativas.

O responsável pela carta indica, nas notas a que o ECO/Local Online teve acesso, relativas às propostas de alteração feitas há cerca de um mês pelo PS, “habitação construída pela EPUL vendida parcialmente a preço reduzido e maioritariamente em preço livre”; “habitação resultante da reabilitação e reconversão de edifícios da segurança social, portanto que não se trata de construção nova” e “habitação construída por cooperativas de habitação em direito de superfície municipal vendida aos cooperadores”.

Assim, a discórdia parece assentar numa divergência entre o que é habitação construída de raiz pela câmara e todo o parque habitacional colocado durante a década ao serviço da população.

Filipa Roseta lamenta que, para lá do facto de o PS exigir a retirada de dois gráficos que a vereadora considera factuais, só 24 horas antes da reunião desta quarta-feira tenha havido uma posição do partido. Inês Drummond responde que “os 155 fogos do INE não correspondem ao que efetivamente aconteceu na cidade” entre 2011 e 2021, e que “663 casas é o número real de construção de habitação na cidade”. Por outro lado, diz a socialista, segundo o regulamento, as propostas de alteração podem ser apresentadas na própria discussão, ou seja, nem tão pouco teria sido necessário enviar proposta de alteração 24 horas antes.

Inês Drummond relembra que “na década em que pouco se construiu, a câmara estava a fazer um enorme esforço financeiro para sair do défice de 1.000 milhões de euros deixados pelo PSD”, enquanto hoje a autarquia “tem quase 800 milhões de euros do PRR para construir”. A socialista põe a tónica no que chama de “vitimização” do atual presidente, que, prossegue, “vive para os polígrafos e soundbytes”.

“O normal numa reunião de câmara é que quando há uma proposta e temos um executivo com esta fragmentação política, o partido que não tem maioria absoluta tem de integrar propostas de alteração”, afirma Inês Drummond. Contudo, “nem houve debate”, porque Filipa Roseta retirou a proposta, acusa. “Nem houve oportunidade de debater se os números fazem sentido”.

Igualmente contundente, Filipa Roseta afirma que “o PS não quer enfrentar a história verdadeira. O que se ia passar nesta reunião era o apagar de dois gráficos. Os dados do INE constam do programa nacional do governo. Também têm de aparecer na nossa carta municipal. São a fonte mais segura que este país tem”.

Agora, a discussão saltará para a próxima reunião. Isto, se o PS voltar atrás no pedido de retirar os gráficos.

 

Artigo corrigido às 13h20 de 10 de outubro com número de fogos indicado pelo PS – 663 vs 683

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Inapa Packaging vendida por 20 milhões à Next Pack

  • ECO
  • 9 Outubro 2024

No seguimento do processo de insolvência da Inapa, a Europackaging acordou a venda da Inapa Packaging e das suas subsidiárias à empresa francesa Next Pack SAS por 20 milhões de euros.

A Inapa – Investimentos, Participações e Gestão (Inapa IPG), que conta com o Estado como maior acionista (44,89%), anunciou esta quarta-feira a venda da sua subsidiária Inapa Packaging SAS à francesa Next Pack SAS por 20 milhões de euros.

Segundo um comunicado enviado à CMVM, esta transação, realizada através da Europackaging – Investimentos, Participações e Gestão, uma subsidiária da Inapa IPG, inclui também a venda indireta das empresas SEMAQ – Societé D’Emballage et de Manutention D’Aquitaine e Embaltec SAS.

Esta alienação surge na sequência da deliberação da Assembleia de Credores da empresa realizada a 27 de setembro, que aprovou a proposta apresentada pelo administrador de insolvência da Inapa.

O negócio foi concluído esta quarta-feira, com a transferência das participações sociais e o pagamento integral do valor acordado, “não condicionado contratualmente a qualquer mecanismo de revisão”, refere a Inapa em comunicado.

Esta transação está alinhada com o comunicado emitido pela Inapa a 20 de setembro, em que a empresa informava o mercado sobre a aprovação pelos credores do plano de reestruturação financeira. Nesse comunicado, a Inapa já havia mencionado a intenção de vender ativos não estratégicos, incluindo a Inapa Packaging SAS, como parte da sua estratégia de reestruturação.

Esta operação faz parte de um processo mais amplo de reestruturação da Inapa, que entrou em insolvência em julho de 2024 devido a problemas de liquidez.

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Ferrovia. Atrasos nas entregas de carruagens custam 16 milhões por mês

Há vários investimentos que serão impossíveis de executar a tempo do PT2030: expansão da rede metro a sul do Tejo até à Costa da Caparica, prolongamento da linha de metro até Alcântara e Sacavém.

O ministro Adjunto e da Coesão Territorial revelou que os atrasos na entrega das automotoras para comboios suburbanos e regionais estão a custar 16 milhões de euros por mês. A entrega das carruagens estava prevista de modo faseado, mas como o concurso está parado em tribunal já há 387 milhões de euros que iriam ser suportados pelo Portugal 2030 que não poderão ser suportados pelo atual quadro comunitário de apoio.

Pedindo ajuda aos deputados da comissão de acompanhamento do PT2030 e do PRR para encontrar uma solução, Manuel Castro Almeida manifestou a sua preocupação face aos atrasos na entrega das carruagens encomendadas: 62 automotoras para comboios suburbanos e 58 para comboios regionais. “Houve um concurso que foi objeto de impugnação e está pendente nos tribunais”, explicou. Ficou assim “suspensa a eficácia do concurso”.

Estava previsto que as carruagens fossem entregues faseadamente ao longo do tempo até ao final do prazo de execução do PT2030, mas “cada vez que passa tempo há um conjunto de automotoras cujo financiamento já não poderá ser assegurado pelo PT2030. De fora já estão 387 milhões de euros, revelou Manuel Castro Almeida, “que será impossível de executar e que terão de ser assegurados pelo Orçamento do Estado.

Mas há mais investimentos que serão impossíveis de executar a tempo do Portugal 2030 revelou o ministro na sua intervenção inicial na primeira audição da comissão de acompanhamento do PT2030 e do PRR. Em causa está a expansão da rede metro a sul do Tejo até à Costa da Caparica e o prolongamento da linha vermelha do metro de Lisboa até Alcântara e a da linha de Santa Apolónia até Sacavém. Estes três projetos têm apenas uma “estimativa orçamental” e nem sequer existem estudos dos projetos, diz Castro Almeida. “Os serviços dizem que vai ser impossível executar esta obra dentro do prazo do PT2030, ou seja, 2029”, precisou.

Isto não significa que estes projetos vão cair, precisou em resposta à deputada bloquista, Joana Mortágua. Mas antes que este projetos poderão ter de transitar para o quadro comunitário seguinte, à semelhança do que já aconteceu com tantos outros projetos em quadros comunitários anteriores. “Ao contrário do PRR, em que o prazo é improrrogável, uma obra financiada pelos fundos de coesão pode começar num quadro comunitário e ser transferida para o ciclo seguinte”, explicou. “Estou convencido que haverá um PT qualquer a seguir, embora receio que substancialmente inferior”, acrescentou.

“O que os serviços dizem é que é impossível executar o metro Sul do Tejo dentro do PT2030, não tem nada que ver com fazer ou não fazer a obra. No estado em que as coisas estão, ou não estão, significa que dentro de três a quatro anos ainda vamos estar na fase de estudos”, acrescentou.

(Notícia em atualização)

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Rede social X começa a funcionar no Brasil após 40 dias de suspensão judicial

  • Lusa
  • 9 Outubro 2024

Esta decisão surge um dia depois do juiz Alexandre de Moraes ter autorizado o regresso das atividades da rede social X, após a empresa ter pagado 4,7 milhões de euros em multas.

A rede social X começou esta quarta-feira a funcionar no Brasil, após autorização pelo Supremo Tribunal Federal, depois de a plataforma ter pagado a multa por incumprimento de decisões judiciais, terminando uma suspensão que durava desde 30 de agosto. Em comunicado, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) indicou ter começado a notificar “as prestadoras de serviços de telecomunicações para que permitam a seus clientes o acesso à plataforma X”.

“Caberá a cada uma das prestadoras tomar as providências técnicas necessárias para implementar essa ordem judicial”, detalhou, acrescentando que o tempo para a execução do desbloqueio depende agora das prestadoras de internet. Esta decisão surge um dia depois do juiz Alexandre de Moraes ter autorizado o regresso das atividades da rede social X, após a empresa ter pagado 4,7 milhões de euros em multas.

Em comunicado, a rede social X afirmou que “orgulha-se” de regressar ao Brasil. “Continuaremos a defender a liberdade de expressão, dentro dos limites da lei, onde quer que operemos”, garantiu a rede social X que está suspensa desde 30 de agosto no âmbito de um processo criminal por desinformação e crimes de ódio na internet. O Governo brasileiro já reagiu através do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, enaltecendo “a decisão do X de pagar multas pendentes e se adequar à legislação brasileira”.

“Mostramos ao mundo que aqui as leis devem ser respeitadas, seja por quem for. O Brasil é soberano”, lê-se na mesma nota. O juiz Alexandre de Moraes tomou essa decisão devido à recusa da empresa de Elon Musk em remover uma dezena de perfis dedicados à desinformação e ligados à extrema-direita.

Elon Musk recusou-se durante semanas a cumprir as ordens de remoção dos perfis e, após receber um ultimato do juiz, anunciou o encerramento do escritório da rede social no país e a dispensa da representação legal no país, apesar das exigências da lei brasileira.

O magnata acusou ainda Alexandre de Moraes de ser um “ditador de toga” que ameaçava a liberdade de expressão e juntou-se aos apelos do ex-Presidente Jair Bolsonaro para que fosse aberto um processo de ‘impeachment’ contra o juiz.

No entanto, no final de setembro, o magnata recuou nas suas provocações, voltou a nomear representantes legais no país e concordou em cumprir as ordens judiciais sobre a remoção de perfis.

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EDPR conclui recompra de 49% de portefólios eólicos em Portugal, Itália e Polónia por 580 milhões

A EDPR chegou a acordo com duas entidades relacionadas com a China Three Gorges para a recomprar portefólios de energia eólica em Portugal, Polónia e Itália no valor de 580 milhões de euros.

A EDP Renováveis deu por concluído o processo de reaquisição de uma participação de 49% num portefólio eólico em Portugal, Polónia e Itália por 580 milhões de euros, a duas entidades relacionadas com a China Three Gorges (CTG), que detém cerca de 20% da EDP. De acordo com o comunicado divulgado esta quarta-feira pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o portefólio totaliza uma capacidade bruta instalada eólica de 970 megawatts (MW).

Deste total, que tem uma idade média de 11 anos, a carteira eólica em Portugal conta com 422 MW com feed in tariff em vigor, em média, até 2030. Já na Polónia reside um projeto com 418 MW e, em Itália, a infraestrutura conta com uma potência de 130 MW.

O processo estava em curso desde o ano passado e foi esta quarta-feira comunicada a sua conclusão. O portefólio em causa conta um enterprise value de 1,2 mil milhões de euros.

Com esta recompra, a EDP Renováveis considera que “reforça” o seu peso na Europa “enquanto mercado chave no seu portefólio. “Esta aquisição tem impacto positivo ao nível dos fluxos de caixa orgânicos e de resultado líquido da EDPR. A propriedade total destes ativos virá também simplificar a gestão de energia e o potencial desenvolvimento de projetos de hibridização e repotenciação dos mesmos”, lê-se no comunicado.

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Allianz Commercial regista crescimento de 14% em sinistros cibernéticos de grande dimensão

Na Europa, o risco de litígios por violação de dados aumenta com maior conscientização de direitos, mais financiamento de litígios e um ambiente mais favorável ao consumidor.

A frequência e gravidade de sinistros cibernéticos de grande dimensão (com danos superiores a um milhão de euros) aumentaram 14% e 17%, respetivamente, no primeiro semestre do ano na carteira de sinistros da Allianz Commercial a nível mundial. Dois terços destas perdas estão relacionados com violação de dados e privacidade e normalmente estes sinistros têm um valor superior a 100 milhões de euros por ano.

Citado pelo relatório cibersegurança 2024 da Allianz Commercial, Michael Daum, diretor global de sinistros cibernéticos da Allianz Commercial, assinala que o aumento dos ataques de ransomware “é uma consequência da alteração das táticas dos atacantes e das crescentes interdependências entre organizações que partilham volumes cada vez maiores de registos pessoais”.

Há outros riscos para as empresas que não são relacionados com ataques. Como as ações judiciais coletivas relacionadas com a privacidade de dados, “resultantes de incidentes como a recolha e o processamento indevidos de dados pessoais”, sublinhou Michael Daum.

Este risco é particularmente relevante nos Estados Unidos onde a “percentagem destes processos triplicou em valor em apenas dois anos”, acrescenta, visto que a regulamentação sobre a privacidade é aberta a interpretação, é menos prescritiva, e “os advogados requerentes estão ávidos por potenciais fontes de rendimento”. O que está a criar “uma situação incerta que é propícia a ações judiciais coletivas”.

Além das questões regulamentares, as ações judiciais “não relacionadas com ataques” têm aumentado devido aos desenvolvimentos tecnológicos, ao crescente valor comercial dos dados pessoais e da evolução do panorama regulamentar e jurídico.

O número de ações coletivas por violação de dados quadruplicou de 2021 até 2023 para 1.300 ações nos Estados Unidos, segundo dados do escritório de advocacia Duane Morris. Michael Daum deu conta os custos de algumas destas ações podem ser maiores do que os de um ataque de ransomware e andar nas centenas de milhões de euros. Os dez principais acordos alcançados em ações coletivas de transação de dados totalizaram 526 milhões de dólares em indemnizações no ano passado, mais 33,5% em variação homóloga.

Estas ações foram intentadas contra empresas de vários setores, desde a saúde, rede sociais e jogos, “por usar ferramentas de rastreamento como o Meta Pixel para monitorar o comportamento do consumidor, enquanto as plataformas de streaming de entretenimento também foram visadas, alegando que podem ter violado os direitos de proteção de privacidade”.

Na Europa o risco de litígio por violação de dados aumenta, devido a uma maior conscientização sobre os direitos de proteção de dados, um aumento da disponibilidade de financiamento de litígios de terceiros e um ambiente de litigio mais favorável ao consumidor “podem tornar as reivindicações de brevidade de dados uma realizada, embora não na mesma escala que nos EUA”.

“Embora tenha havido ações coletivas em matéria de privacidade de dados na Europa, os tribunais têm-se mostrado relutantes em conceder indemnização por danos não financeiros, tais como sofrimento emocional. É mais difícil intentar uma ação coletiva bem sucedida na Europa por violações da privacidade dos dados, mas a situação está a evoluir e pode haver uma mudança a favor dos consumidores no futuro”, afirma Michael Daum, Diretor Global responsável pelas indemnizações cibernéticas da Allianz Commercial.

O relatório lança luz sobre as ferramentas de inteligência artificial que, baseadas na recolha e no tratamento de grandes quantidades de dados, podem criar potenciais riscos de privacidade, desinformação e segurança se não forem utilizadas corretamente ou caírem nas mãos erradas (através de pirataria informática ou outras violações de segurança). Também há preocupações se as organizações têm o consentimento adequado de processar dados através da Inteligência Artificial.

De acordo com o estudo, violações de dados são facilitados pela segurança frágil nas organizações e/ou na cadeia de abastecimento. “Estes incidentes podem dar origem a sinistros de grande dimensão, envolvendo multas regulamentares, custos de notificação e litígios com terceiros, para além de pedidos de extorsão, custos internos e interrupção da atividade.”.

Trio para a mitigação de riscos

O risco cibernético pode ser mitigado com boa proteção cibernética, supervisão sobre as cadeias de abastecimento e usar ferramentas de inteligência artificial que “podem identificar rapidamente uma violação de segurança e isolar automaticamente sistemas e bases de dados”.

A proteção cibernética deve incluir “fortes controlos de acesso, segregação de bases de dados, cópias de segurança, correções e formação”.

As violações cibernéticas que não são detetadas e contidas precocemente podem acabar por ser 1000 vezes mais caras do que aquelas que são, a diferença entre uma perda de 20 000 euros se transformar em uma perda de 20 milhões.”, afirmou Rishi Baviskar, Diretor Global de Consultoria de Risco Cibernético, Allianz Commercial.

As ferramentas de IA “além de terem o potencial de reduzir significativamente o custo e o ciclo de vida de um sinistro de violação de dados, automatizando tarefas, como a análise forense e as notificações, potencialmente poupando milhões de dólares às empresas.”

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Cerca de 30 países pediram para entrar no BRICS

  • Lusa
  • 9 Outubro 2024

O ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro disse que os BRICS decidirão as regras para a expansão do fórum durante a sua próxima cimeira, que terá lugar entre 22 e 24 de outubro em Kazan.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro afirmou esta quarta-feira que cerca de 30 países pediram para entrar no grupo de economias emergentes BRICS, fundado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Talvez 30 países tenham já manifestado por escrito (…) que desejam aceder aos BRICS no momento adequado”, disse Mauro Vieira, durante um programa de entrevista promovido pelo Governo brasileiro.

O grupo tem-se “expandido para outros importantes atores”, recordou o diplomata brasileiro, referindo as entradas do Egito, da Etiópia, do Irão, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, que se juntaram aos cinco originais.

O ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro disse que os BRICS decidirão as regras para a expansão do fórum durante a sua próxima cimeira, que terá lugar entre 22 e 24 de outubro na cidade russa de Kazan e será a primeira em que participarão os cinco novos membros do fórum.

Entre os países que manifestaram o desejo de ingressar nos BRICS estão o Azerbaijão, a Bolívia, as Honduras, a Venezuela e mais recentemente Cuba e a Turquia, a que se acrescentam vários países do sudeste asiático.

Na opinião do ministro brasileiro, terá de ser “discutida a forma em que essa expansão vai continuar a acontecer”, podendo, num primeiro momento, ser como “países associados” e só depois estabelecer regras para ingressarem de forma plena no grupo que este ano é comandado pela Rússia e que para o ano será chefiado pelo Brasil.

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Governo adjudica quinta-feira primeiro troço da Alta Velocidade

  • Lusa
  • 9 Outubro 2024

Parceria Público-Privada para a construção e desenvolvimento do troço entre Porto e Oiã foi entregue ao consórcio Lusolav, liderado pela Mota Engil.

O Governo anuncia na quinta-feira a adjudicação ao consórcio Lusolav, liderado pela Mota-Engil, da concessão da linha ferroviária de Alta Velocidade entre Porto e Oiã, segundo uma nota enviada pelo Ministério das Infraestruturas e Habitação.

A cerimónia irá contar com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, sendo que este troço integra a primeira de três fases da ligação de Alta Velocidade entre Porto e Lisboa.

O júri do concurso para Alta Velocidade ferroviária recomendou no mês passado a adjudicação do primeiro troço ao consórcio Lusolav, o único concorrente que avançou para a fase final do procedimento.

Segundo o relatório do júri, a que a Lusa teve acesso, “a proposta foi analisada” e foi “verificada, no âmbito dessa análise, a conformidade e admissibilidade da mesma com as determinações das peças do procedimento e da lei”.

Paralelamente, “encontra-se garantida a comportabilidade dos custos decorrentes da parceria a constituir na sequência da adjudicação da proposta admitida e da subsequente celebração do respetivo contrato, assim como o respeito pela sua programação financeira plurianual”.

Assim, o júri resolveu “propor a admissão, do ponto de vista legal e procedimental, da proposta apresentada pelo Concorrente n.º 1 [Lusolav], e a aprovação da sua avaliação” e “consequentemente, propor a sua adjudicação ao órgão competente para a decisão de contratar”.

A Infraestruturas de Portugal (IP) acabou por validar apenas uma proposta, do consórcio Lusolav – Gestão da Ferrovia de Alta Velocidade, constituído pela Mota-Engil, Teixeira Duarte, Casais, Alves Ribeiro, Conduril e Construções Gabriel A.S. Couto, adiantou, em comunicado, no dia 12 de julho.

O relatório do júri determinava ainda que o relatório e demais documentos que compõem o procedimento fossem enviados “aos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e do projeto em causa, bem como para o Conselho de Administração Executivo da IP, na qualidade de órgão competente para a decisão de contratar”.

Segundo o documento, o valor líquido da proposta ultrapassa os 1,6 mil milhões de euros.

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Elisa Ferreira propõe linha especial para catástrofes naturais dentro da política de coesão

  • Lusa
  • 9 Outubro 2024

A ainda comissária europeia sublinhou que tem “quase a garantia de que a Comissão Europeia vai aprovar” a proposta, na qual estão “a trabalhar intensamente”.

A comissária europeia da Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, revelou esta quarta-feira que vai propor, no âmbito da política de coesão, uma linha especial para catástrofes naturais, onde se incluem as inundações e os fogos, com comparticipação a 100%.

“O que se está a tentar fazer é uma proposta de alteração dos regulamentos, para que seja possível abrir um espaço para quem trata de fundos. É uma linha, digamos assim, para onde os países podem transferir dinheiro de outros programas, que têm nos seus envelopes, e nos quais eles pagam com uma comparticipação de 100%”, referiu.

Em declarações aos jornalistas antes da Cerimónia Regiostars Award, que decorreu no Museu do Automóvel de Bruxelas, Elisa Ferreira sublinhou que tem “quase a garantia de que a Comissão Europeia vai aprovar” a proposta, na qual estão “a trabalhar intensamente”.

“Não posso garantir que as negociações com o Parlamento [Europeu] e com o Conselho [Europeu] fiquem finalizadas a tempo do meu mandato, porque não sei até quando é que estou aqui”, acrescentou. De acordo com a comissária, com esta nova linha “o estado-membro poupa dinheiro” e “espera-se uma recuperação com melhor qualidade”.

“Não é apenas reparar o que se estragou, mas melhorar a qualidade das áreas que ficaram afetadas”, esclareceu. A proposta surge depois de o Fundo de Solidariedade, um fundo que ajuda a reconstrução das regiões de países atingidas por catástrofes naturais, estar esgotado.

Comissária europeia faz balanço positivo de mandato “apesar das vicissitudes”

Elisa Ferreira fez ainda um balanço positivo dos seus cinco anos de mandato, apesar da pandemia de covid-19, a guerra da Ucrânia e os aumentos do preço da energia. “Foram cinco anos muito importantes, acho que correu bem, apesar de tudo o que podia acontecer ter acontecido. Houve pandemia, invasão da Ucrânia pela Rússia, aumentos do preço da energia, instabilidade, agora há duas guerras nas nossas fronteiras, mas mesmo assim evitou-se que os países e as regiões se desagregassem, nomeadamente durante a covid-19”, referiu.

Em declarações aos jornalistas, antes da Cerimónia Regiostars Award, em Bruxelas, Elisa Ferreira destacou que “os fundos estruturais estão executados, relativamente ao período anterior”.

“Não ultrapassaram os 10% da totalidade dos envelopes financeiros. Também o novo período de financiamento está em velocidade cruzeiro neste momento, já temos taxas de execução bastante elevadas, com mais de um quarto do volume financeiro comprometido”, referiu. Por isso, e “apesar das vicissitudes”, o resultado “é bom”, sobretudo porque com a política de coesão conseguiram “retirar de uma situação de atraso muitos países da União Europeia”, acrescentou.

“Posso-lhe dizer que no ano 2000, 25% da população europeia vivia em países muito atrasados e, neste momento, só 5% é que vivem em países nessas condições. Portanto, digamos, a média toda da Europa subiu, a qualidade de vida dos cidadãos subiu”, indicou.

(Notícia atualizada às 19h10 com mais informação)

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Regulador propõe 10 anos para direito ao esquecimento nos seguros

Após várias pressões, o projeto de norma regulamentar relativa ao direito ao esquecimento nos seguros entrou em consulta pública que vai durar até 13 de novembro.

Os prazos propostos pela ASF, entidade supervisora do setor segurador, para o direito ao esquecimento nos seguros, aconselha o tempo de “10 anos desde o término do protocolo terapêutico, no caso de risco agravado de saúde ou deficiência superada” de quem quer contratar um seguro e, até agora, podia ver o seu acesso recusado ou muito penalizado em preço pelas companhias de seguros.

Este dado tem origem na ASF que acabou de lançar o processo “Consulta Pública n.º 10/2024 – Projeto de norma regulamentar relativa ao direito ao esquecimento e proibição de práticas discriminatórias” que vem regulamentar, para o setor segurador, o disposto na Lei nº 75/2021, de 18 de novembro, que prevê o chamado “direito ao esquecimento”. A Lei quer impedir que pessoas que tenham superado doenças graves, como cancro, diabetes, HIV/Sida ou Hepatite C sejam discriminadas no acesso ao crédito bem como na contratação de seguros obrigatórios ou facultativos associados aos créditos.

Dados recentes apontam para que, em Portugal, existam 500 mil sobreviventes de cancro, 32 mil pessoas receberam tratamento para a hepatite C , com a grande maioria delas a conseguir a cura. O Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA fala de 45 mil pessoas a viver com a infeção e as autoridades de saúde calculam entre 1 e 1,2 milhões de portugueses com diabetes controlada.

Fonte das seguradoras referiram a ECOseguros que o facto de terem superado as principais patologias não impede os danos provocados na saúde pela doença e pelos tratamentos, situações que agravam sempre o risco e devem influenciar no valor dos prémios e até a aceitação dos seguros.

O direito ao esquecimento nos seguros está a ser ensaiado em França e Bélgica e ainda há poucas conclusões em relação a resultados. Apenas dados subjetivos de uma grande apetência em subscrever seguros de vida por parte dos potenciais beneficiários desse direito.

Seguradoras responsáveis até dois anos depois de terminado o contrato

Como nota mais relevante, o projeto de norma da ASF sugere que os prazos se mantenham conforme a Lei 75/21, ou seja:

  • 10 anos desde o término do protocolo terapêutico, no caso de risco agravado de saúde ou deficiência superada;
  • 5 anos desde o término do protocolo terapêutico, no caso de a patologia superada ter ocorrido antes dos 21 anos de idade;
  • 2 anos de protocolo terapêutico continuado e eficaz, no caso de risco agravado de saúde ou deficiência mitigada.

O projeto indica que, após esses prazos, a empresa de seguros não pode recolher ou tratar informação de saúde relativa a situações de risco agravado de saúde ou de deficiência, no âmbito da declaração inicial do risco.

Acresce que o tomador do seguro ou o segurado podem responder negativamente a questão colocada pela empresa de seguros, no âmbito da declaração inicial do risco, que resulte na comunicação de informação de saúde relativa a situações de risco agravado de saúde ou de deficiência superado ou mitigado.

O projeto de norma regulamentar estabelece ainda que a empresa de seguros “não pode propor condições contratuais em razão da deficiência ou de risco agravado de saúde física, mental ou psíquica do segurado que sejam menos favoráveis do que aquelas que seriam propostas a segurado que se encontre em situação comparável, designadamente, aumento do montante do prémio”

No entanto, no texto da norma, salienta-se que “é permitida a apresentação de condições em razão da deficiência ou de risco agravado de saúde, sempre que, para o contrato de seguro em causa, constitua um fator crucial no cálculo do custo do risco”.

Quanto ao mecanismo de proteção de cobertura, o projeto de norma regulamentar estabelece que em caso de não renovação do contrato de seguro de saúde ou da cobertura, a empresa de seguros deve prestar diversas informações ao tomador do seguro e ao segurado.

Não estando o risco coberto de forma proporcional por um contrato de seguro posterior, a empresa de seguros, nos dois anos subsequentes e até que se mostre esgotado o capital seguro no último período de vigência do contrato, realiza as prestações resultantes de doença manifestada, de outros cuidados de saúde relacionados ou outro facto ocorrido na vigência do contrato, desde que cobertos pelo contrato de seguro.

O projeto de Norma Regulamentar pode ser visto aqui e os comentários podem ser enviados para a ASF até 13 de novembro deste ano.

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PRR acelera 48% no primeiro semestre, mas permanece aquém das metas para 2024

O Plano de Recuperação e Resiliência executou 857 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, mais 48% do que no mesmo período de 2023, mas é apenas 21% do montante previsto para este ano.

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) está a ganhar tração. No primeiro semestre de 2024, a implementação do programa executou despesa no montante de 857 milhões de euros, o equivalente a 0,6% do PIB, revelam os dados mais recentes da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

Este montante representa uma aceleração significativa face ao período homólogo, com a execução da bazuca europeia a crescer 48% em termos anuais. “Não há folga nem margem de erro nenhuma para executar o PRR”, referiu Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão Territorial, a 1 de outubro nas jornadas parlamentares do PSD.

No entanto, os números ainda ficam aquém das metas anuais, representando apenas 21% do previsto no Programa de Estabilidade 2024-2028 para o conjunto do ano. Isso foi recentemente notado por Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, que mostrou a sua desilusão quanto à demora da chegada dos recursos do PPR.

Em mais de 100 milhões de euros do PRR para habitação que temos no orçamento, só recebemos 10 milhões, e isto é grave, porque quer dizer que são os lisboetas que têm de estar a avançar com o dinheiro, e Lisboa precisa desse dinheiro para a cidade”, alertou o autarca numa conferência realizada também a 1 de outubro pela Rádio Renascença.

Um dado particularmente relevante notado pelos técnicos da UTAO é que “cerca de dois terços do PRR destinou-se aos setores famílias e empresas”. Esta distribuição sugere que o plano está efetivamente a chegar à “economia real”, injetando fundos nos agentes económicos que mais podem contribuir para a recuperação e transformação do tecido produtivo nacional.

Do total executado, 90% foi financiado por subvenções comunitárias (774 milhões de euros), com o restante a dividir-se entre empréstimos do mecanismo NextGenerationEU (48 milhões de euros) e cofinanciamento nacional (35 milhões de euros), refere o relatório da UTAO elaborado por Filipa Almeida Cardoso, Jorge Silva e Vítor Nunes Canarias, sob a coordenação de Rui Baleiras.

A despesa de capital assumiu um papel preponderante no primeiro semestre, representando 69% do total executado (588 milhões de euros). Neste capítulo, destacam-se as “ajudas ao investimento (386 milhões de euros) destinadas a apoiar as transições climática e digital das empresas e a implementação da componente de habitação deste plano de investimentos (90 milhões de euros)”, detalha o documento.

Na componente corrente, sobressaem as “Outras despesas correntes” (121 milhões de euros) e os subsídios às empresas (54 milhões). Estes últimos apoiaram medidas como o Compromisso Emprego Sustentável, o Programa Emprego + Digital 25 e a modernização da oferta e dos estabelecimentos de ensino e formação profissional.

Já as componentes de outras despesas no montante global de 121 milhões de euros, a UTAO detalha que englobam:

  • Transferências de 44 milhões de euros da Segurança Social para as famílias
  • Transferências de 38 milhões de euros para a Administração Local
  • Apoios de 25 milhões de euros do Fundo Ambiental a famílias e empresas na eficiência energética dos edifícios
  • Incentivos de 10 milhões de euros destinados a aumentar o nível de qualificações via ensino superior, através dos programas Impulso STEAM e Impulso Adultos (10 milhões), e seis milhões e euros via ensino profissional

Apesar dos progressos, persistem desafios na execução e monitorização do PRR. A UTAO alerta para a “inexistência de informação sobre a execução do PRR na Administração Local, o que constitui uma falta de transparência a assinalar”. Esta lacuna dificulta o apuramento da natureza final da despesa e a avaliação futura dos efeitos do plano.

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Eleições em Moçambique decorreram “sem incidentes de relevo”

  • Lusa
  • 9 Outubro 2024

Observadores relataram a normalidade em que decorreu a votação, alguns atrasos pontuais na abertura das mesas de voto e a forte adesão dos eleitores às urnas.

As mesas de votação nas eleições gerais moçambicanas, incluindo a escolha do novo Presidente da República, começaram a encerrar às 18:00 (17:00 em Lisboa), seguindo-se um período de até 15 dias para serem conhecidos os resultados nacionais. Numa ronda feita pela Lusa em Maputo foi possível observar eleitores a aguardar junto às mesas de voto pelas 18:00, sendo possível nestes casos receber senhas para o efeito, desde que tivessem chegado antes do horário limite.

A votação decorreu sem incidentes de relevo, de acordo com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), que agendou para esta noite uma conferência de imprensa de balanço, apesar de críticas dos partidos e candidatos, da oposição, à falta de credenciamento para delegados na mesa de voto e alegados problemas nos boletins.

Observadores relataram a normalidade em que decorreu a votação, alguns atrasos pontuais na abertura das mesas de voto e a forte adesão dos eleitores às urnas, especialmente no período da manhã, com filas generalizadas. A CNE recenseou 17.163.686 eleitores para esta votação, incluindo 333.839 em sete países africanos e dois europeus.

As eleições contaram com mais de 184.500 membros de mesas de voto, distribuídos pelos 154 distritos do país (180.075) e fora do país (4.436). Em Moçambique funcionaram 8.737 locais de voto e no estrangeiro 334, correspondendo a 25.725 mesas de assembleia de voto no país e 602 assembleias no exterior (África do Sul, Essuatíni, Zimbabué, Zâmbia, Maláui, Tanzânia, Quénia, Alemanha e Portugal), cada uma com sete elementos.

As eleições gerais desta quarta-feira incluíram as sétimas presidenciais – às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos – em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

Concorrem à Presidência da República Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Daniel Chapo, com o apoio da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, e Ossufo Momade, com o apoio da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição).

A publicação dos resultados da eleição presidencial pela CNE, caso não haja segunda volta, demora até 15 dias, antes de seguirem para validação do Conselho Constitucional, que não tem prazos para proclamar os resultados oficiais após analisar eventuais recursos.

A votação incluiu legislativas (250 deputados) e para assembleias provinciais e respetivos governadores de província, neste caso com 794 mandatos a distribuir. A CNE aprovou listas de 35 partidos políticos candidatas à Assembleia da República e 14 partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores às assembleias provinciais.

Segundo dados do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) foram credenciados, para acompanhar estas eleições, 11.516 observadores nacionais e 412 observadores internacionais, incluindo Missões de Observação Eleitoral da UE, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), entre outras organizações.

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