Escassez de pessoal leva empresas a abrirem-se mais à diversidade

Escassez de pessoal está a fazer empresas para "grupos anteriormente sub-representados, como pessoas com deficiência". Ofertas de trabalho para estes trabalhadores têm disparado.

Confrontadas com sérias dificuldades em encontrar trabalhadores, as empresas portuguesas decidiram ir além dos seus “alvos” de recrutamento tradicionais e reforçar a sua aposta na diversidade. De acordo com os dados da empresa de recursos humanos Michael Page, só em 2024 o número de ofertas de emprego destinadas a pessoas com incapacidade ou deficiências mais do que triplicou.

No último ano, as oportunidades de trabalho para os profissionais em causa saltaram 221% face a 2023. E Vasco Salgueiro, senior executive manager da Michael Page Portugal, admite que a escassez de pessoal vivida nos últimos anos tem “sem dúvida” incentivado as empresas a olhar para grupos de candidatos anteriormente mais esquecidos.

“Com a escassez de trabalhadores em setores como a restauração, indústria, saúde e tecnologia, as empresas estão a explorar novos talentos em grupos anteriormente sub-representados, como pessoas com deficiência, para preencher lacunas e manter a competitividade“, salienta o responsável.

Mas essa não é a única razão para o salto nas ofertas de trabalho. Outra são as quotas, que passaram a exigir que as empresas com mais de 75 trabalhadores empreguem pessoas com deficiência. “Além disso, há um aumento no investimento em inclusão por parte de empresas que procuram benefícios fiscais e melhoria da sua imagem corporativa“, realça Vasco Salgueiro.

Na visão do senior executive manager, as empresas portuguesas estão, pois, mais recetivas às pessoas com deficiência, o que também reflete uma “maior consciencialização sobre os benefícios da diversidade no local de trabalho, incluindo maior inovação e produtividade“.

“O apoio governamental e o foco na responsabilidade social corporativa contribuíram para esta evolução”, acrescenta.

Essa mudança reflete uma maior consciencialização sobre os benefícios da diversidade no local de trabalho, incluindo maior inovação e produtividade.

Vasco Salgueiro

Senior executive manager da Michael Page

Do outro lado da equação, há a notar que 2024 foi também sinónimo de um aumento do número de candidatos com deficiência. Neste caso, foi registado um disparo de 352%, segundo a Michael Page.

“O aumento deve-se a mais acessibilidade à formação e a programas de integração profissional, além de maior confiança por parte das pessoas com deficiência para se candidatarem, à medida que percebem as oportunidades reais e o menor estigma”, argumenta Vasco Salgueiro.

Mas nem tudo vai bem. De acordo com a mesma empresa de recursos humanos, seis em cada dez pessoas com deficiência estão em situação de desemprego em Portugal. E, mesmo entre as empregadas, há a realçar que os profissionais deficiência ganham, em média, menos 12% por hora do que os outros profissionais que não têm incapacidades.

“Para reduzir essa desigualdade, é necessário reforçar a fiscalização das políticas salariais, promover transparência nos processos de contratação e oferecer incentivos para empresas que valorizem a equidade salarial“, defende Vasco Salgueiro, que deixa claro também que “as campanhas de sensibilização para combater preconceitos também são essenciais”.

Quanto ao maior desafio à integração destas pessoas, o responsável elege a falta de adaptação de espaços físicos e culturais, sublinhando que “muitas empresas ainda não têm estruturas acessíveis, e o preconceito, consciente ou inconsciente, persiste em limitar a integração plena desses profissionais”.

A tendência é de crescimento moderado. Contudo, sem fiscalização eficaz e compromisso contínuo das empresas, há o risco de arrefecimento.

Vasco Salgueiro

Senior executive manager da Michael Page

Ainda assim, de olhos no ano que acaba de começar, o senior executive manager perspetiva crescimento do emprego destes profissionais (ainda que moderado), à boleia dos avanços tecnológicos e das políticas de inclusão.

Deixa, porém, um aviso: “Sem fiscalização eficaz e compromisso contínuo das empresas, há o risco de arrefecimento. Uma estratégia sustentável será crucial para manter o ímpeto atual”.

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