Buffett prepara o futuro da Berkshire Hathaway e aposta forte no Japão

Aos 94 anos de idade, o Oráculo de Omaha voltou a bater o mercado. Com 161 mil milhões de euros para ir às compras, Buffett antecipa reforços nas 5 empresas japonesas de que é acionista, mas não só.

Aos 94 anos, Warren Buffett continua a dar lições de investimento com a autoridade de quem transformou 10,5 milhões de dólares 1.000 milhões de dólares (cerca de 955 mil milhões de euros) em seis décadas.

Na carta anual de 2024 dedicada aos acionistas da sua Berkshire Hathaway, publicada este sábado, o “Oráculo de Omaha” mistura contas de serviço — através num recorde de 26,8 mil milhões de dólares [cerca de 26 mil milhões de euros] pagos em impostos ao Tesouro dos EUA em 2024 — com avisos sobre riscos climáticos, elogios à gestão japonesa das empresas de que é acionista e um mea culpa: “Erros? Sim, cometemos muitos na Berkshire”.

Buffett refere que parte desses erros passaram por avaliações incorretas de empresas que comprou para o portefólio deste gigantesco conglomerado empresarial e por erros de avaliação “das capacidades ou a fidelidade dos gestores que a Berkshire contrata”, notando que entre 2019 e 2023 utilizou “as palavras ‘erro’ ou ‘engano’ 16 vezes nas cartas que vos escrevi.”

“As nossas participações nas cinco empresas [japonesas – Itochu, Marubeni, Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo] são para o muito longo prazo, e estamos empenhados em apoiar os seus conselhos de administração.”

Warren Buffett

Carta aos acionistas da Berkshire Hathaway de 2024

Em 2024, a Berkshire Hathaway registou lucros operacionais de 45,5 mil milhões de euros, um aumento de 27% face a 2023, com os números a serem impulsionados pelas empresas detidas no setor segurador (8,6 mil milhões de euros em prémios) e por juros gerados de investimentos em títulos do Tesouro norte-americano.

Mas o número que impressiona é o fiscal: a empresa de Buffett pagou cerca de 26 mil milhões de euros em impostos federais, “cerca de 5% do total arrecadado a todas as empresas americanas”, sublinha Buffett na carta aos seus acionistas, destacando ainda que além desse valor a Berkshire pagou montantes consideráveis de impostos sobre o rendimento a governos estrangeiros e a 44 Estados norte-americanos.

“Se a Berkshire tivesse enviado ao Tesouro um cheque de 1 milhão de dólares a cada 20 minutos durante todo o ano de 2024 ainda estaríamos a dever ao governo federal uma soma significativa no final do ano”, ironiza Buffett, não deixando de mandar uma farpa à administração de Donald Trump.

“Obrigado Tio Sam. Um dia, os vossos sobrinhos e sobrinhas da Berkshire esperam enviar-vos cheques ainda maiores do que os que fizemos em 2024. Gasta-o com sabedoria. Cuida dos muitos que, sem culpa própria, não tiveram sorte na vida. Eles merecem mais. E nunca te esqueças que precisamos que mantenhas uma moeda estável, e que para isso é preciso sabedoria e vigilância da tua parte.

A aposta no Japão pela mão de “5 magníficas”

Parte da estratégia de Buffett em 2024 passou por uma aposta em cinco empresas japonesas: Itochu, Marubeni, Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo. “Cada uma destas empresas opera de forma semelhante à Berkshire”, elogia o superinvestidor destacando políticas de dividendos “sensatas” e gestores “menos agressivos nas remunerações” que os norte-americanos.

As primeiras ações que a Berkshire comprou destas empresas remontam a julho de 2019. “Limitámo-nos a analisar os seus registos financeiros e ficámos espantados com os baixos preços das suas ações”, revela Buffett, sublinhando ainda que, “com o passar dos anos, a nossa admiração por estas empresas tem crescido de forma consistente.”

A aposta no Japão e nestas empresas é claramente para manter. “As nossas participações nas cinco empresas são para o muito longo prazo, e estamos empenhados em apoiar os seus conselhos de administração”, salienta Buffett, notando que “é provável que a participação da Berkshire nas cinco empresas aumente um pouco.”

Em contraciclo está a aposta no setor tecnológico, visível com a redução da posição na Apple (apesar de continuar a ser uma das maiores posições da carteira), mas sobretudo o desinvestimento no setor bancário, com Buffett a reduzir significativamente as suas posições no Citigroup e no Bank of America, particularmente no último trimestre de 2024, com Buffett a vender quase três quartos da sua posição no Citigroup numa operação que lhe permitiu encaixar cerca de 2,3 mil milhões de euros.

A Berkshire Hathaway mantém cerca de 161 mil milhões de euros em tesouraria, incluindo 127 mil milhões de euros em títulos do Tesouro dos EUA. “Manteremos sempre pelo menos 30 mil milhões de dólares em equivalentes de caixa para nos protegermos contra choques externos”, refere Buffett.

Esta reserva, que rendeu mais de 9 mil milhões de euros em juros em 2024, é apresentada tanto como “um escudo como uma lança”, servindo assim com uma proteção contra crises e como um instrumento para atacar oportunidade do mercado.

Mas o grande foco da carteira da Berkshire Hathaway continua a ser participações em empresas. No final do ano passado, este portefólio distribuía-se por 189 subsidiárias onde detinha pelo menos 80% das ações, e uma carteira de participações minoritárias em grandes empresas cotadas, como a Apple, Coca-Cola, American Express e Moody’s, avaliada no final do ano passado em 260 mil milhões de euros, o equivalente a quase o PIB de Portugal.

Warren Buffett não acredita que ficará muito mais tempo à frente da sua Berskhire Hathaway, mas acredita que Greg Abel continuará o legado que juntamente com Charlie Munger construiu na Berkshire Hathaway. “Aos 94 anos, não demorará muito até que Greg Abel me substitua como diretor executivo e passe a escrever as cartas anuais”, referindo ainda que Greg Abel “demonstrou vividamente a sua capacidade de agir em várias situações seguindo o legado de Charlie Munger.”EPA/LARRY W. SMITH

Elogios ao seu sucessor e com olhos no futuro

Os resultados financeiros da Berkshire Hathaway em 2024 espelharam-se no desempenho das ações em bolsa, com os títulos a valorizarem 25,5%, superando os 25% do índice S&P 500 com dividendos. Nos últimos 20 anos, Buffett conseguiu superar o índice por 13 ocasiões, e desde 1965 que as ações da empresa contabilizam uma rendibilidade anualizada de 19,9%, quase o dobro dos 10,4% registados pelo índice norte-americano.

Se o passado foi repleto de sucessos, o futuro revela-se incerto, desde logo quanto ao caminho que a Berkshire Hathaway tomará quando Buffett deixar a gestão da empresa.

No entanto, o nonagenário investidor sublinha que, apesar das atividades da Berkshire Hathaway terem agora impacto em todos os cantos dos EUA não quer ficar por aí. “As empresas morrem por muitas razões, mas a velhice não é uma delas”. E foi para salientar que o futuro da empresa está assegurado que a carta anual deste ano foi também marcada por, pela primeira vez, Buffett dedicar espaço significativo a Greg Abel, seu sucessor designado.

“Aos 94 anos, não demorará muito até que Greg Abel me substitua como diretor executivo e passe a escrever as cartas anuais”, refere Buffett, garantindo que “Greg partilha o credo da Berkshire de que um ‘relatório’ é o que um CEO da Berkshire deve anualmente aos acionistas. E também compreende que se começar a enganar os seus acionistas, em breve acreditará nas suas próprias ‘tretas’ e estará também a enganar-se a si próprio.”

A confiança de Buffett em Abel, que há vários anos é responsável pelos investimentos da Berkshire Hathaway nos setores da energia e ferrovia, baseia-se no histórico do executivo que, segundo sexto homem mais rico do mundo “demonstrou vividamente a sua capacidade de agir em várias situações seguindo o legado de Charlie Munger”, o eterno amigo e parceiro de Buffett que faleceu em 2023.

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