Um presidente “diferente”, “estável”, que respeita a “separação de poderes” e “longe das pressões”. As promessas de Gouveia e Melo para Belém

Candidato presidencial lança oficialmente a candidatura à Presidência da República e promete respeitar "a separação de poderes" e manter em mente que um Presidente "não governa".

Um Presidente da República que “respeitará os partidos” e a separação de poderes”, com um perfil “diferente” e “estável”, que usa a palavra com parcimónia. É este o estilo que Henrique Gouveia e Melo promete aos portugueses levar ao Palácio de Belém caso seja eleito para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa, defendendo que “está na hora de cumprir, de reformar, de realizar”.

“Acredito que agora, mais do que nunca, precisamos de um Presidente diferente. Um Presidente capaz de unir portugueses, de motivar e dar sentido à esperança, capaz de ser consciência e exemplo, de ajudar a mudar aquilo que há tanto tempo precisa de ser mudado”, afirmou Henrique Gouveia e Melo durante a apresentação da candidatura a Belém, na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.

Uma apresentação que começou com cerca de uma hora de atraso, para que o evento não coincidisse com as declarações de Luís Montenegro no final de tarde em que foi indigitado primeiro-ministro. O Almirante, nascido em novembro de 1960 em Moçambique, filho de pai advogado e mãe professora, entrou na sala perto das 20 horas, ao som de uma música dramática. Antes disso, as cadeiras da sala em Alcântara apetrechadas com bandeiras com a inscrição “Gouveia e Melo Presidente” rapidamente foram ocupadas, deixando muitos apoiantes de pé.

Henrique Gouveia e Melo na apresentação da candidatura à Presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

Ao longo de um discurso de cerca de vinte minutos, Gouveia e Melo justificou a decisão de se lançar a Belém com as “nuvens carregadas de incerteza e de perigo no horizonte”.

As democracias são atacadas de fora e corroídas por dentro. Portugal não está imune, nem isolado numa redoma protetora. São claros os sinais de cansaço, desânimo e desencanto na nossa jovem democracia“, afirmou.

O candidato a Belém clamou o seu percurso para defender que tem “a experiência de quem liderou em momentos difíceis“: “Estive sempre onde o país me chamou: comandei missões exigentes nas Forças Armadas, estive com as populações em Pedrogão, no meio das cinzas e da dor. Coordenei, com muitos, a campanha de vacinação contra a Covid-19”.

Uma trajetória recordada pelo vídeo de lançamento da campanha, transmitido antes de Gouveia e Melo subir ao palco e que finalizou com o slogan “Por todos, com todos, unir Portugal”. Nesta linha, compromete-se em ser um “Presidente estável, confiável e atento, acima de disputadas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu”.

Um Presidente que não seja um mero espetador da vida política, mas que interpele e exija quando necessário, pois representa todo o povo. Que seja faça ouvir, usando da palavra com contenção, com substância e com propriedade. Este será, porventura, o seu maior poder”, advogou.

Henrique Gouveia e Melo na apresentação da candidatura à Presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

As funções e as “más decisões” que travam o país

Gouveia e Melo garante que, caso seja eleito nas presidenciais do próximo ano, irá cumprir “as funções que a Constituição” lhe confia. São, no seu entender, defender a independência nacional, garantir o funcionamento das instituições, ser árbitro e moderador, promover a coesão nacional – que “é mais do que território, é pertença, é entidade”.

Serei um Presidente que respeitará os partidos, pilares fundamentais da democracia, assim como a separação de poderes, tendo sempre em mente que o Presidente da República não governa“, vincou.

Evocando o passado histórico dos portugueses, defendeu a capacidade do país para enfrentar adversidades, mas considerou que os perigos não são somente externos”.

O que verdadeiramente nos trava não vem de fora. Está cá dentro. São as más decisões, as não decisões. O adiar permanentemente o futuro. A falta de coragem para fazer o que tem de ser feito. Parece que estamos condenados a uma lógica de ciclos curtos, quando o país pede transformação”, argumenta.

Henrique Gouveia e Melo reconheceu que o país apresenta fragilidades, tais como “uma pobreza estrutural, uma economia frágil”, mas também “uma justiça lenta, desigual e distante”, para logo em seguida pedir ação. “Não estamos condenados a falhar, a ser pequenos. Não temos de ser pobres“, disse.

Henrique Gouveia e Melo na apresentação da candidatura à Presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

Os jovens, os mais velhos e a defesa

Gouveia e Melo afirma querer um país onde os jovens “tenham futuro”, “os mais velhos descansem com dignidade”, “onde ninguém seja pobre por destino ou falta de oportunidade” e onde a “saúde, habitação, educação sejam direitos e não privilégios”. Ademais, uma economia “mais competitiva” e “mais produtiva”, que só assim permite “manter o Estado Social e combater as desigualdades”.

“É estratégico apostar na tecnologia, na inovação, na transformação digital, no ciberespaço. Também precisamos de reformar a Administração Pública e a Justiça, de descentralizar, sem fragmentar, de olhar para as ilhas, para o interior e para a diáspora”, aponta, acrescentando a importância de “garantir saúde a todos, em tempo e qualidade”, “educar” e “encontrar soluções para a habitação que permitam uma vida digna”.

Mas deixa ainda uma palavra sobre a Defesa, que defende dever ser “moderna, sólida e tranquila, sem alarmismos, mas também sem ingenuidades”

Em 14 de maio, Gouveia e Melo desfez o tabu e, em declarações à Rádio Renascença, anunciou que a decisão de candidatura estava tomada. “Não há dúvidas. Vou ser mesmo candidato”, afirmou. O timing do anúncio, em plena campanha para as eleições legislativas, levou a críticas de figuras da esquerda à direita.

Isaltino aposta que pessoas “querem um Presidente eventualmente mais austero”

O presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, um dos presentes para apoiar Gouveia e Melo defendeu que o percurso de agora oficialmente candidato presidencial não é “meramente” de tarefas administrativas e que tem o perfil que os eleitores procuram após os mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa.

“Tenho uma relação antiga com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas diria que as pessoas estão fartas dele. É uma pessoa extraordinária mas digamos que exagerou. Falou muito, por tudo e por nada. As pessoas estão cansadas do perfil de Marcelo Rebelo de Sousa”, afirmou Isaltino Morais, em declarações aos jornalistas à entrada para o evento.

Isaltino Morais na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

Para Isaltino, os eleitores “querem um Presidente eventualmente mais austero, que de alguma forma seja mais previsível”.

Além do presidente da Câmara de Oeiras, na plateia, entre outros, estavam o ex-ministro social-democrata da Administração Interna Ângelo Correia, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz, os antigos líderes do CDS-PP José Ribeiro e Castro e Francisco Rodrigues dos Santos, o empresário Mário Ferreira e a constitucionalista Teresa Violante.

José Ribeiro e Castro, ex-presidente do CDS-PP, na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO
Mário Ferreira na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO
Fernando Negrão na apresentação da candidatura de Henrique Gouveia e Melo à presidência da República. HUGO AMARAL/ECO

(Notícia atualizada às 20h57)

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