Financiamento empresarial: apenas 8% das PME nacionais têm finanças saudáveis
Os dados foram apresentados primeira talk da série ‘Impulso PME’, promovida pelo ECO e pela Five Credit e resulta de um estudo que analisou 200 mil pequenas e médias empresas.
O auditório do ECO encheu-se para acolher a primeira de três talks organizadas em parceria com a Five Credit. O encontro, dedicado ao crescimento e financiamento das pequenas e médias empresas (PMEs), reuniu gestores, economistas e representantes do setor financeiro para discutir dados, tendências e soluções. “O objetivo é chegar às empresas e facilitar o seu dia-a-dia”, afirmou Mafalda Duarte, CEO da Five Credit, reforçando a missão da iniciativa.

O evento, moderado por Tiago Freire, subdirector do ECO, destacou a importância de espaços de debate sobre temas estruturantes da economia portuguesa. Francesco Franco, partner da Five Credit, lançou os dados e paradoxos centrais da sessão, nomeadamente a baixa produtividade dos empresários em nome individual (ENI) quando comparada com a realidade a que se assiste em outras estruturas empresariais, o acesso ao financiamento e a heterogeneidade dos indicadores financeiros das PMEs.

Dados financeiros e inteligência artificial
A importância dos dados esteve presente ao longo de toda a sessão. Francesco Franco apresentou um estudo com base em 200 mil empresas, destacando que apenas 8% apresentam três indicadores financeiros considerados ‘bons’ (autonomia financeira, liquidez e rentabilidade). “82% das empresas apresentam indicadores mistos”, salientou, reforçando a necessidade de uma análise mais fina e segmentada.
Já José Farinha apelou a uma revolução no setor da contabilidade. “Nós temos que começar a fazer contabilidade a sério. Está muito longe de ser apenas a declaração do IVA”, enfatizou. O chairman da BTOCNET destacou ainda a importância do reporting simples e útil, acessível ao empresário comum: “É suposto entregarmos informação em português e não em contabilidade”.

O debate abordou também os obstáculos ao crescimento das empresas, em especial a transição de micro para pequenas ou médias empresas. “A única barreira que mais pode existir é na nossa própria cabeça”, disse Filipe de Botton, chairman da Logoplaste, sublinhando que a ambição e a diferenciação continuam a ser as maiores alavancas para crescer.

No entanto, tanto Nuno Martins como Filipe de Botton admitiram que o mercado português, pela sua dimensão, impõe restrições à escala. Uma solução possível? A verticalização. “Se conseguir fazer todo o percurso, desde o cliente até à produção, consigo ganhar escala mesmo num mercado pequeno”, sugeriu o membro da Comissão Executiva da CGD.
Financiamento: retrato contraditório
Um dos paradoxos em destaque foi o do financiamento. Enquanto os dados do Banco Central Europeu (BCE) apontam para uma situação favorável de acesso ao crédito pelas PMEs, o índice ESAF, elaborado pelo Fundo Europeu de Investimento (FEI), apresenta Portugal numa posição menos favorável. “São indicadores produzidos por instituições com muita credibilidade, mas que transmitem mensagens diferentes”, explicou Francesco Franco. A disparidade ilustra a complexidade do tema e a necessidade de uma leitura crítica dos dados.

Nuno Martins, membro da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, explicou que “não sentimos nenhum problema na procura de crédito”, referindo-se à competição feroz entre os bancos no apoio às empresas. No entanto, sublinhou a necessidade de uma boa estrutura de capitais e de informação financeira de qualidade. “Se a empresa tem história e demonstra viabilidade, o banco está mais disposto a financiar”, afirmou.
Cultura empresarial e parceria
A sessão terminou com uma reflexão sobre a relação das PME com os seus parceiros — entidades financiadoras, consultores e contabilistas. “Hoje somos muitas vezes chamados a elaborar planos de negócio com os clientes. Há uma maior interação”, afirmou José Farinha, apontando a necessidade de capacitação por parte dos profissionais. “Não vamos perder clientes para a inteligência artificial, vamos perder para quem a usar melhor”.

Em jeito de conclusão, os intervenientes convergiram na ideia de que é preciso fomentar uma cultura de dados, rigor financeiro e planeamento. Como sintetizou Nuno Martins: “O banco tem de atuar como parceiro do negócio. E o empresário tem de ter a coragem de planear, de investir e de se capacitar”.
O paradoxo dos ENI: Que barreiras para se transformarem em Microempresas
Francesco Franco trouxe ainda à conversa o que chamou “o paradoxo dos ENI”, referindo-se aos empresários em nome individual. “São absolutamente indispensáveis para absorver o emprego em Portugal, uma vez que representam 22% do emprego total do país”, referiu. Contudo, a produtividade deste segmento é significativamente baixa. “A produtividade é três vezes menor do que a de uma microempresa”, adiantou. Este padrão, frisou, repete-se transversalmente em todos os setores da economia.

A diferença entre microempresas e ENIs acabou por ser um dos tópicos em debate. “Qual é o clique que permite a um ENI transformar-se numa microempresa mais produtiva?”, questionou o partner da Five Credit. A resposta pode estar, entre outras coisas, na adoção de contabilidade organizada e em modelos mais formais de operação.
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A próxima sessão do ciclo está já prometida. Até lá, ficou o desafio de construir um tecido empresarial mais informado, produtivo e preparado para um mundo cada vez mais automatizado — mas onde o fator humano, ainda, faz toda a diferença.
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