Mais velhos, menos contribuintes. Conheça as respostas do setor privado à crise das pensões públicas

  • ECO Seguros
  • 17:24

Em 2050 haverá apenas 1,5 contribuinte por pensionista. Associações e líderes financeiros alertam para a urgência da ação e lançam propostas como a criação da secretaria de Estado para os idosos.

A Associação Fórum Insurtech Fintech de Portugal (FIF Portugal) reuniu líderes de empresas do setor financeiro e de organizações não-governamentais para debaterem as ameaças à qualidade de vida dos seniores de hoje e do futuro e as possíveis formas de as combater.

Miriam Nicolau da Costa, presidente da direção da FIF no discurso de abertura do 1.º seminário da associação intitulado de “Viva a Longevidade com Qualidade – Inovação na saúde, sistema financeiro e habitação”

“Não devemos adiar discussões alargadas sobre como atuar hoje, para acautelar um futuro na velhice com mais qualidade”, afirmou Miriam Nicolau da Costa, presidente da direção da FIF no discurso de abertura do 1.º seminário da associação intitulado de “Viva a Longevidade com Qualidade – Inovação na saúde, sistema financeiro e habitação”.

Para Miriam Nicolau da Costa os principais motivos que levam o envelhecimento com qualidade a ser posto em causa são o “envelhecimento da população e os reflexos nos riscos para a sustentabilidade do sistema nacional de pensões, o aumento da idade média de vida, a baixa natalidade, a emigração dos nossos jovens (embora certo contraponto pela imigração acentuada) desviando o seu contributo para o sistema nacional de pensões e deixando os seus seniores cada vez mais sozinhos” considera que estas “são variáveis em mutação acelerada, interrelacionados e desenhando novos cenários aos quais ninguém pode ficar alheio”.

Associação de Reformados propõe criação de secretaria de Estado para os mais velhos

Segundo um estudo coordenado pelo GPEARI do Ministério das Finanças, podemos chegar a 2050 com apenas 1,5 contribuintes ativos por cada pensionista – o que poderá reduzir de forma acentuada o valor das reformas. O estudo foi apresentado pelo keynote speaker do evento, Valdemar Duarte, diretor-geral da Ageas Pensões que reforça que os incentivos a complementos de reforma e fundos de pensões privados não podem ser adiados.

Valdemar Duarte, diretor-geral da Ageas Pensões, keynote speaker do evento apresentou o “Ageing Report”, estudo coordenado pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) do Ministério das Finanças em 2023.

Dada a representação na sociedade da população sénior foi defendido a criação de uma secretaria de Estado dedicada aos “mais velhos”. A sugestão foi feita por Anabela Paixão da APRE! Associação de Reformados na primeira mesa-redonda do evento.

No debate também defendeu a importância do poder local, sobre o qual a associação tem desenvolvido a criação de um Sistema Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas Mais Velhas, com uma rede de apoio ao nível do poder local, com representação judicial, da Segurança Social, do Serviço Nacional de Saúde, das forças de segurança e, eventualmente, de outras entidades que prestem serviços de proximidade a esta população.

Lacunas nas oferta de cuidados

Os participantes da segunda mesa-redonda concluíram que o número atual de cuidadores formais é insuficiente para as necessidades, bem como os lares, em particular os de pernoita e nas grandes cidades.

Além disso, os preços estão muito inflacionados, sendo, no entanto, uma oportunidade de negócio e um drive para serem desenvolvidas inovações em assistências e conectividades digitais que liguem entre si seniores, sensores/WiFi de medições, cuidadores, familiares e clínicos.

A revolução implica inovação em todo o ecossistema “prestadores, seguradores, resseguradores”, frisou João Horta e Costa, CCO da Europ Assistance. Das coberturas já existentes com crescente uso destaca a entrega de medicamentos ao domicílio, vídeo consultas e apoio psicológico, vídeo despiste de avarias na assistência lar, algo que tem tido excelente acolhimento entre os seniores.

Natália Nunes da DECO afirma que muitos cidadãos +55 que pedem apoio ao Gabinete de Proteção Financeira reclamam de seguros caros, difíceis de entender e denotam muito desconhecimento das soluções que existentes.

Esta mesa-redonda foi moderada por Nuno Sapateiro, Presidente da Assembleia Geral da FIF e membro do seu grupo Insurtech, bem como partner na Abreu Advogados.

Inovação na saúde: Inteligência artificial e novos modelos de atendimento

Todas as mudanças previamente elencadas desafiam as seguradoras do ramo Vida. Marta Graça Ferreira, CEO da Real Vida Seguros destacou essas mudanças e apresentou um vídeo com base num estudo da Universidade de Harvard, que conclui que a felicidade – e até a saúde – na fase final da vida está diretamente relacionada com a qualidade das relações humanas ao longo dos anos, tanto na esfera privada como comunitária.

A 3.º mesa-redonda, moderada por Paulo Bracons, Presidente do Conselho Fiscal da FIF e membro do seu grupo Insurtech centrou-se na necessidade de inovação nas soluções oferecidas pelos setores dos seguros e da banca.

Marta Graça Ferreira destacou como principais eixos transformadores da atualidade para uma seguradora de Vida, não só o assinalável incremento de longevidade, como a transferência de riqueza entre gerações, mesmo na classe média, que culturalmente em Portugal é proprietária de imóvel.

Durante a sessão, várias empresas apresentaram soluções inovadoras, como consultas com co-pagamento fixo e serviços de medicina geral e saúde mental por videoconferência – um modelo híbrido que combina acessibilidade, custo controlado e proximidade digital.

Já a 4.ª mesa-redonda, moderada por Paulo Padilha, membro da Direção da FIF e presidente do grupo Insurtech, focou-se especificamente nas inovações em saúde.

Marta Martins, diretora-executiva do cluster de novos negócios da CUF – Hospitais e Clínicas, partilhou avanços tecnológicos já implementados na rede. Um dos destaques foi a assistente virtual “Clara, Assistente AI”, que contacta automaticamente doentes recém-operados, colocando um conjunto de questões e sinalizando, em tempo real, situações clínicas mais críticas aos profissionais de saúde. As respostas são integradas numa base de dados, permitindo a análise estatística e melhorando futuras decisões clínicas.

Outra inovação mencionada foi o acompanhamento de doentes internados em casa, o que tem reduzido a taxa de infeções hospitalares, diminuindo, inclusive, a duração média dos internamentos. A CUF prepara-se ainda para lançar sistemas de telemonitorização à distância, o que poderá reduzir a necessidade de visitas presenciais frequentes, garantindo simultaneamente a continuidade e qualidade dos cuidados prestados.

Nos discursos de abertura e encerramento, Miriam Nicolau da Costa destacou que relativamente às ideias e potencialidades de inovar na saúde, os pitchs de insurtechs no mundo atualmente envolvem maioritariamente casos aplicáveis à saúde, as healthtech, e em geral, são desenvolvidos para os setores dos seguros, banca, pagamento e saúde, quase a 100% novas aplicações de Inteligência Artificial.

Frisou que é missão da FIF estudar e debater as disrupções, procurando abraçar as inovações, apoiando na estratégia e operacionalização e aproximando-as de incumbentes e investidores nacionais e internacionais. E incentivou os empreendedores ao enfatizar que o nível de apetência por novas soluções tecnológicas sustentáveis e “compliant” é elevado em muitos quadrantes, nomeadamente nas mais-valias para o consumidor no acesso aos serviços e servicing, na melhoria de preço e conforto e saúde, e produtividade para os seguradores.

O evento foi organizado pela FIF Portugal, decorreu no passado dia 4 de junho no Auditório da Abreu Advogados. A escolha do tema foi unânime entre os membros da FIF, por refletir os seus três eixos de atuação – Seguros, Banca/Pagamentos e Saúde – e a sua relevância atual. A associação contou com a Abreu Advogados, MGEN e PwC Portugal como reference partners e o ECOseguros juntou-se à iniciativa como media partner.

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