BCE prepara-se para meter o pé ao travão após sete cortes sucessivos das taxas de juro

Com a economia da Zona Euro a dar sinais de fragilidade e a inflação controlada e perto de 2%, o BCE deverá pausar o ciclo de cortes das taxas de juro, como é amplamente esperado pelos mercados.

Além da reunião desta quinta-feira, o Conselho do BCE, liderado por Christine Lagarde, irá ainda realizar três reuniões no âmbito da política monetária até ao final do ano, que terão lugar a 10 e 11 de setembro, 29 e 30 de outubro, e a 17 e 18 de dezembro.BCE 25 Outubro, 2023

As atenções dos investidores voltam-se esta tarde para Frankfurt, onde o Conselho do Banco Central Europeu (BCE) deverá interromper, pela primeira vez em dez meses, o ciclo de descida consecutivas das taxas de juro iniciado em setembro do ano passado.

Após sete cortes seguidos e oito desde junho do ano passado, que trouxeram a taxa de depósitos de 4% para os atuais 2%, tudo indica que Christine Lagarde vai “meter o pé no travão” e manter o custo do dinheiro inalterado, num gesto que pretende ganhar tempo para avaliar o impacto das tensões comerciais e da recente valorização do euro no mercado monetário.

É isso que espera a maioria dos economistas e analistas. Ainda recentemente, um inquérito da Reuters a 84 economistas revelava que todos os participantes antecipam uma pausa dos cortes na reunião desta quinta-feira, e 58% dos economistas admitem somente mais um corte — de 25 pontos base — até ao final do ano. Ou seja, o mercado já não olha para hoje como parte de um ciclo automático de cortes, mas antes como uma paragem para calibrar riscos.

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A sustentar a decisão da autoridade monetária da área do euro em pausar a política de cortes das taxas de juro estão três ventos contrários, que pesam atualmente sobre a análise dos 25 membros que compõem o Conselho do BCE.

  • O primeiro obstáculo vem da política comercial. A ameaça de tarifas norte-americanas de até 30% sobre exportações europeias altera os cenários preparados pelo BCE, que tinha modelado “apenas” um choque de 20%. “Há incerteza considerável sobre o impacto das tarifas no crescimento e na inflação europeia”, recorda Mohit Kumar, do Jefferies, citado pela Reuters, defendendo um “esperar para ver” nesta fase.
  • Em segundo lugar, a força inesperada do euro. Desde o arranque do ano que a moeda única acumula uma valorização de 13,5% face ao dólar. Este fortalecimento do euro reduz o preço das importações europeias e pressiona a inflação em baixa. Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, colocou a fasquia de desconforto nos 1,20 dólares por uma unidade de euro, mas segundo um inquérito feito recentemente pela Bloomberg, apenas cerca de um quarto dos inquiridos concorda com a opinião de Luis Guindos, com o restante a citar níveis tão altos quanto 1,35 dólares.
  • Por fim, o próprio Conselho do BCE parece dividido. Se Isabel Schnabel insiste que “a fasquia para mais um corte é muito alta” e Mário Centeno refere que “não há pressa” para descer os juros, os governadores Olli Rehn (Finlândia) e François Villeroy de Galhau (França) alertam para o risco de inflação abaixo de 2% se o euro continuar a ganhar terreno. Este equilíbrio frágil traduz-se num consenso raro: pausar agora para evitar prometer o que pode não ser cumprido no outono.

A pausa que deverá sair desta reunião não significará um fim de ciclo da atual política monetária do BCE, mas antes uma reordenação do calendário. Metade dos economistas consultados pela Bloomberg admite que o BCE pode esperar até dezembro sem que o mercado conclua que o alívio acabou, esticando a margem de manobra para observar novos dados.

Fabio Balboni, do HSBC, resume que “alguns verão isto como um intervalo, outros como o fim dos cortes; daí nascerá o debate sobre o caminho a seguir”. Michael Krautzberger, diretor de investimento da Allianz GI, também prevê uma pausa na reunião desta quinta-feira, mas continua a projetar “pelo menos dois cortes” até ao fecho de 2025, caso o enfraquecimento económico se agrave. Já Anatoli Annenkov, do Société Générale, olha para setembro como a próxima janela natural, desde que Washington mantenha a retórica comercial sem subir a parada.

Nos mercados de futuros, a probabilidade de redução em setembro já caiu para menos de 50%, mas um corte de 25 pontos base está praticamente integralmente descontado até dezembro. Na prática, significa que o BCE ganhou mais três reuniões para decidir.

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