Akuo planeia investir mil milhões em Portugal até 2032, apesar de ter projeto em risco

Akuo quer tirar máximo partido dos três pontos de ligação à rede que tem em Portugal, pelo que tem na calha adicionar baterias e eólicas aos parques solares que tem em mãos, investindo 1.000 milhões.

A Akuo, empresa que se lançou como a grande vencedora do leilão solar de 2019, espera investir 1.000 milhões de euros em Portugal até 2032, no conjunto dos três projetos que tem em curso, atingindo um total de capacidade instalada de 1 megawatt. Contudo, um deles, o de Polvorão, está ameaçado, tendo em conta uma ação de impugnação que decorre na justiça. Apesar de estar de momento concentrado em avançar estes projetos de grande escala, o CEO espera voltar-se para projetos mais pequenos no futuro. Em particular aqueles que conjuguem a produção de energia com a prática agrícola, o chamado agrivoltaico.

A estimativa foi avançada pelo CEO, João Macedo, num encontro com jornalistas. “O nosso objetivo é chegar, com os projetos que temos, a perto de 1 gigawatt em Portugal” até 2032. “É um objetivo ambicioso”, considera, embora não esteja dependente de novos leilões — é possível otimizando os três pontos de ligação que já tem assegurados, associados ao projeto de Santas, de Margalha e de Polvorão.

Da esquerda para a direita, o CEo da Ajuo, João Macedo, e o deputy Ceo, Nelson Luís.

No total, estão em causa 823.000 painéis solares, espalhados por 750 hectares, aos quais a Akuo quer juntar tecnologias como a eólica e o armazenamento.

O projeto de Santas, em Estremoz, já tem 180 megawatts de capacidade solar em operação, aos quais se juntaram 45 megawatts em reequipamento, isto é, através do uso de painéis mais avançados, que cobrem a mesma área mas que têm maior capacidade de geração. Este projeto decorre diretamente da vitória da Akuo no leilão solar de 2019, no qual conseguiu assegurar a maior capacidade e licitou ao preço mais baixo de sempre até àquela data, de 14,76 euros por megawatt-hora, quando os preços de mercado excediam os 50 euros por megawat-hora.

Os próximos passos deste projeto dividem-se em duas tecnologias que vão partilhar o espaço da central: 120 MW de energia eólica, que estão agora em licenciamento e que a empresa espera começar a construir no início do próximo ano. Finalmente, o plano é adicionar ao projeto 80 megawatts de armazenamento. Este é o maior projeto da Akuo a nível internacional, e coloca Portugal no pódio dos países mais relevantes para a empresa, pela quantidade de capacidade instalada, considerando os 20 mercados nos quais está presente.

Em Gavião, o projeto mais avançado da Akuo é o de Margalha, que deverá estar operacional em março ou abril do próximo ano, estando agora na fase final de construção. A expectativa é que esteja ligado à rede até ao final de 2025. Este projeto conta 147 MW de capacidade solar, à qual se somam 30 MW que estão agora em licenciamento e até 100 megawatts de capacidade eólica — metade dos quais estão avançados, enquanto a outra metade ainda está pendente do desafio de identificar os proprietários dos terrenos. Margalha também terá armazenamento, mais precisamente 20 MW.

Também em Gavião, está previsto o projeto menos avançado da Akuo, o de Polvorão, que tem como obstáculo uma ação de impugnação contra licenciamentos ambiental, energético e urbanístico desta central, interposta pelo Ministério Público. Este projeto já estava licenciado, a par e passo com o de Margalha, mas está parado desde fevereiro deste ano, quando a ação deu entrada. A Akuo diz não ter acesso ao processo, uma vez que a ação não foi interposta diretamente contra a empresa, pelo que não sabe exatamente o que está em causa. Contudo, a maior diferença que vê entre este projeto e o da Margalha é o ponto de ligação: Margalha liga-se ao Pego, Polvorão passa por Nisa.

Central de Santas, da Akuo, em Estremoz.

O problema é o tempo de decisão”, explica João Macedo, sublinhando que custa dinheiro manter o projeto. A Akuo está a perder entre 700 a 800 mil euros por ano para o manter, em cima dos cerca de 10 milhões que já investiu. Para já, não tem perspetivas de quando a questão estará resolvida, embora espere ter alguma indicação até ao final deste ano. Estão em causa os 145 MW de capacidade solar e os 25 MW de sobreequipamento.

Baterias a chegar

Dos 1.000 milhões de euros em investimento que a empresa planeia despender em Portugal até 2030, 100 milhões de euros dizem respeito aos dois projetos já referidos de armazenamento, em Santas e em Margalhas. No caso de Santas, o projeto exigirá um investimento entre 70 a 80 milhões de euros, dos quais 15 milhões são financiados com fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, após a Akuo os ter ganho num aviso, no ano passado. Para Margalhas, o investimento previsto para armazenamento é de até 30 milhões de euros, contando também com um apoio, de 6,5 milhões de euros.

Central de Santas, da Akuo, em Estremoz.

O objetivo era que as baterias fossem instaladas em Santas até ao final deste ano, mas “é impossível”, diz o CEO, tendo em conta o “curto” espaço de tempo desde que ficaram fechados os acordos no âmbito do aviso. A Akuo afirma que o Governo está a trabalhar em obter uma prorrogação, junto de Bruxelas, já que estão em causa apoios europeus do Plano de Recuperação e Resiliência, cuja execução tem de estar finalizada em junho de 2026. Até meados do próximo ano ainda é possível concluir o projeto, estima a Akuo, sendo que espera receber os equipamentos de armazenamento até maio de 2026. De acordo com João Macedo, os preços das baterias “têm baixado muito”. “Não há escassez, demoram é a chegar”, indica.

Futuro é agrivoltaico, compras e novas ligações

Embora a empresa marque presença em Portugal através de três projetos de larga escala, Santas, Margalha e Polvorão, esse não deverá ser o caminho, indica o CEO. Em Alcobaça, a Akuo detém um projeto piloto, financiado exclusivamente através de fundos europeus, que consiste na geração de apenas 100 quilowatts, mas com uma diferença importante: conjuga a geração de energia com a produção de maçã de Alcobaça. “É um projeto pequeno mas que esconde a ambição do agrivoltaico em Portugal”, indica o CEO, até porque “o solar de grande escala traz problemas, há muitos projetos a serem chumbados”.

[O piloto em Alcobaça] é um projeto pequeno, mas que esconde a ambição [da Akuo] para o agrivoltaico em Portugal.

João Macedo

CEO da Akuo

Em Portugal, o obstáculo à expansão deste tipo de projetos, mais pequenos e com uma componente agrícola, é a falta de regulação que os enquadre. O ponto de partida, na visão de João Macedo, deverá ser a definição do conceito. Em França, “um mercado mais maduro”, 90% dos projetos são de agrivoltaico, e a dimensão média situa-se entre os 20 e os 30 megawatts, compara o mesmo responsável.

Projeto piloto de agrivoltaico da Akuo, em Alcobaça.

Além desta vontade de investir em projetos que misturem energia e agricultura, a Akuo diz estar aberta a oportunidades que surgem para a aquisição de novos pontos de ligação, através por exemplo de novos leilões, mas também a compra de outros projetos, de preferência nas primeiras fases de desenvolvimento, já que a Akuo prefere atuar em early-stage, fase na qual diz conseguir extrair um maior valor. “Vários players estão a contactar-nos com estas oportunidades”, diz Nelson Luís, deputy CEO da Akuo.

Preços negativos “não são problema”

A vontade, detetada pela Akuo, de outros atores do setor venderem os seus projetos tem diferentes explicações. Um cenário possível é que tenham assegurado o ponto de ligação em leilão já com o objetivo de o ceder mais tarde; outros, terão feito o mesmo com o plano de desenvolver as primeiras fases e depois, também, vender; há ainda a hipótese de que a subida das taxas de juro, entre outros fatores, tenha ditado uma rentabilidade não atrativa para estes players, tendo determinado a venda.

Para a Akuo, nas palavras de Nelson Luís, “os preços negativos em si não são problema, desde que se consigamos, no final do dia ou no início do dia, vender a um preço aceitável”, embora reconheça que faz sentido os promotores manifestarem preocupações de forma a exigirem trabalho legislativo, como o lançamento de concursos de armazenamento, que permitem maior equilíbrio na atividade.

Esta empresa, que assegurou os pontos de ligação a bater o recorde já referido de preço mais baixo em licitação, de 14,76 euros por megawatt-hora, considera este o “grande sucesso” da empresa até à data, e recorda que “o valor era tão baixo que ninguém acreditava”. O deputy CEO explica que a empresa sempre olhou para o ponto de ligação com uma lógica “multitecnológica” que está agora a implementar, juntando armazenamento e eólico, o que torna a tarifa acordada viável. Aponta ainda a visão de muito longo prazo da empresa, que reservou os terrenos do projeto por 70 anos, e as taxas de juro negativas que estavam em vigor na altura.

Durante os dois anos de período experimental a que a empresa tem direito, optou por assinar dois Contratos de Aquisição de Energia (PPA, na sigla em inglês), com uma tarifa superior a 14 euros por MWh, a qual a Akuo prefere não revelar. A tarifa do leilão só estará em vigor a partir de 16 de abril de 2026, e permanecerá durante 15 anos. Mas não se aplica a todo o parque: o remanescente pode ser vendido em regime de PPA ou em mercado.

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