Hotéis, um milhão de sócios e NFT. O programa financeiro dos candidatos ao Benfica
Todos querem aumentar o estádio e muitos admitem a entrada de novos acionistas de referência no capital. Mas, afinal, o que distingue as seis candidaturas?
Os sócios do Benfica vão este sábado às urnas para escolher o presidente para os próximos quatro anos. Para além de Rui Costa, que procura a reeleição, há mais cinco candidatos à cadeira mais alta do estádio da Luz.
Na análise aos programas eleitorais de todos os candidatos, há promessas e propostas para todos os gostos. Desde o “Benfica District” de Rui Costa, passando pelo objetivo de Cristóvão Carvalho de chegar ao sócio 1 milhão até 2029 ou a entrada de parceiros internacionais estratégicos no capital, há um pouco de tudo. Ainda assim, a grande maioria das propostas não pode ser avaliada apenas por estes documentos. Isto porque muitas promessas ou não estão contabilizadas – em termos de custo ou retorno estimado – ou contêm muito pouca informação sobre o que esteve na base das estimativas.
Há, ainda assim, alguns pontos em comum. Todas as candidaturas querem aumentar o número de sócios (com objetivos diferentes) e a lotação e renovação do estádio da Luz, por exemplo, bem como a entrada de investidores institucionais, sendo que nenhuma admite que o clube perca a maioria da SAD. Quanto à questão dos direitos televisivos, ninguém admite que o Benfica venha a receber menos do que acontece atualmente.
O ECO preparou um guia com algumas das propostas dos candidatos, com foco na vertente financeira.
Rui Costa – “Só o Benfica importa”
- Objetivo de alcançar os 500.000 sócios, face aos atuais 400 mil, bem como cumprir a meta de chegar aos 500 milhões de receita anual (clube chegou pela primeira vez recentemente aos 300 milhões). Receitas serão ajudadas por novos contratos de patrocínio, mais lugares no estádio e através dos projetos Benfica District e Hotel 1904. Passar de 700 mil camisolas oficiais vendidas (Marca Oficial e Marca Própria) para um milhão por época e duplicar receita em eventos não desportivos;
- Diminuir o passivo financeiro em 100 milhões de euros, graças ao aumento das receitas, que deverão crescer ao dobro do ritmo dos custos;
- Aposta no parque de infraestruturas Benfica District, que contempla dois novos pavilhões, uma arena para 10.000 pessoas e desenvolvimento estético do exterior do estádio;
- Aumento imediato da lotação do estádio para 70 mil lugares e para 80 mil com a implementação do Benfica District;
- Cidade Benfica, projeto há muito anunciado e que pretende concentrar na zona de Lisboa uma grande zona de infraestruturas de treino, das modalidades e do futebol;
- Hotel 1904 Benfica (em resultado de recuperação da antiga sede da rua do Regedor, praticamente concluída) com abertura ainda em 2025;

Cristóvão Carvalho – “Pelo Benfica”
- Chegar a um milhão de sócios;
- Refinanciamento da dívida, através da busca de alternativas menos onerosas do que os empréstimos obrigacionistas;
- Redução de custos em 30 milhões de euros ao ano, através de várias medidas, como o recurso ao outsourcing em áreas não-core e corte de “despesas supérfluas”;
- Adquirir participações – preferencialmente maioritárias – noutros clubes/SAD desportivas, especialmente em países do Norte/ Centro da Europa e na América Latina;
- Chegar a 450 milhões de receitas anuais em quatro anos, sem venda de jogadores, e a 700 milhões em oito anos. Caminho para subir as receitas tem propostas na área de patrocínios, aumento do número de sócios e envolvimento com estes, para o merchandising e parcerias e para o estádio e a sua envolvente, com mais potencial comercial;
- Aumento da lotação do estádio em 15 mil lugares.

João Diogo Manteigas – “Benfica vencerá”
- Redução dos custos financeiros anuais estimada entre 30 a 50% do valor pago em juros, “o que permitirá poupar vários milhões de euros por época, através de uma combinação de negociação de juros mais baixos e amortização de parte da dívida”;
- novo modelo de entrada de investidores institucionais no capital, semelhante ao seguido pelo Bayern de Munique. “Recompra ou aquisição concertada das ações atualmente detidas por investidores não estratégicos (prioritariamente a posição do Sr. José António dos Santos/Grupo Valouro), e em seguida a venda de parte desse bloco a novos investidores institucionais minoritários cuidadosamente selecionados, que se tornem parceiros de longo prazo do Benfica. Planeia-se, após readquirir as ações do investidor referido, conseguir dois ou três parceiros estratégicos que adquiram, cada um, cerca de 5-10% da SAD. Idealmente, tratar-se-iam de grandes empresas com ligação emocional ao Clube ou à cidade (por exemplo, uma multinacional que queira expandir em Portugal associando-se à marca Benfica, ou um parceiro tecnológico que contribua para a inovação do Clube), ou ainda investidores internacionais que vejam potencial de crescimento no Benfica”. O encaixe estimado nesta operação é de entre 30 e 40 milhões de euros;
- Criar o Mecenato Benfica, para “canalizar donativos e apoios diretamente para projetos estruturantes do Clube, desde infraestruturas e património até à formação, às modalidades e à inovação”, mediante benefícios fiscais;
- Mais receitas através da criação de uma “Super-App”, com conteúdos digitais; recuperação do segundo canal da BTV;
- Tudo em aberto no estádio, com duas opções: expansão ou construção de um estádio novo, mais moderno.

João Noronha Lopes – “Benfica acima de tudo”
- Intensificação das medidas de captação de novos sócios com vista a atingir 500 mil Sócios até 2029 (após renumeração);
- Redução de custos na contratação de fornecedores;
- Definição de um quadro financeiro estratégico que permita alcançar um resultado operacional positivo, assegurando que as receitas correntes superam as despesas de funcionamento;
- Aumento das receitas (excluindo vendas de jogadores) através de parcerias internacionais para distribuição de merchandising e conteúdos digitais;
- Plano faseado para expansão do Estádio da Luz para 83.000 lugares e requalificação da sua zona envolvente, “desenvolvido com empresas de reputação e experiência internacional. Esta intervenção incluirá acessibilidades, conforto para adeptos, inovação tecnológica, melhoria da experiência global de jogo e uma revitalização da zona envolvente à imagem das Fan Zones criadas nas competições da UEFA e da FIFA”;
- Plano de expansão do Benfica Campus, no Seixal, para reforçar as condições de treino, competição e gestão do Futebol Profissional, da Formação e do Futebol Feminino. Construção de mais campos, incluindo um “mini-estádio”.

Luis Filipe Vieira – “Voltar a ganhar”
- Aumento da lotação do estádio para 90 mil Lugares, através da expansão dos vãos do 3.º anel;
- Criação da Benfica Square, uma fanzone “moderna e multifuncional” em redor do estádio, a funcionar também nos dias de jogos fora de casa e onde os adeptos se poderão reunir para assistir às partidas. O espaço contará com espaços de diversões, venda de merchandising e eventos ao vivo;
- Abrir o “Hotel Benfica”, no Seixal, aos sócios e adeptos, com alojamento e pacotes de experiências, nomeadamente Programas “Viver o Seixal”, que incluem estadia, visita guiada ao Campus, interação com a realidade da formação;
- Criação do “Campo do Ecletismo”, espaço com cerca de 30 a 40 hectares, desenhado para acolher modalidades coletivas e individuais, formação, alto rendimento e convívio comunitário, incluindo: pavilhões multidesportivos para modalidades de pavilhão (andebol, basquetebol, voleibol, futsal, hóquei em patins); Campos exteriores para modalidades emergentes e olímpicas (rugby, atletismo, skate, surf indoor); Áreas dedicadas a modalidades individuais (judo, boxe, ténis de mesa, ginástica, artes marciais);Espaços de formação e academias, integrando modalidades de base e formação de jovens atletas;
- Renegociação da dívida bancária, alongando prazos e reduzindo taxas de juro. “Adoção de disciplina orçamental, com tetos de despesa anuais e metas de resultado operacional positivo”; plano plurianual de redução do passivo, com metas claras por época desportiva;
- Reforço do capital da SAD, através da captação de parceiros estratégicos;
- Chegar aos 800 mil Sócios, (dos quais 500 mil pagantes);
- Novas formas de monetização e receita, como o lançamento de cromos virtuais, skins, NFTs e colecionáveis ligados a momentos históricos do clube.

Martim Mayer – “Benfica no sangue”
- Aumento da lotação do estádio em 15 mil lugares, para um total de 83 mil, com custo estimado de 85 milhões de euros, com incremento de receitas de cerca de 20 milhões anuais (já contando com amortização). “Projeto desenvolvido em parceria com uma das empresas líderes mundiais do setor imobiliário na área desportiva e financiamento através de uma de duas alternativas: parceria estratégica com entidade da área de grandes eventos e de entretenimento ou securitização dos bilhetes correspondentes a estes lugares por um período de dez anos”;
- Criar, em Lisboa, o Benfica Campus das Modalidades, negociando com um município da área de Lisboa a entrega de um terreno de 25 hectares. Há uma poupança estimada de 7 milhões ao ano, face ao que o Benfica gasta com a dispersão e aluguer de instalações;
- Expansão e atualização do complexo do Seixal, com construção de novo estádio para jogos principais, porque “é preciso reduzir a utilização demasiada que é feita no campo principal”; foco no futebol feminino e mais quatro campos de treino;
- Apostar em Angola e Moçambique, com a criação de fan zones em Luanda e Maputo, parcerias comerciais locais, cartão nacional de sócio com acesso a essas zonas, tendo uma receita estimada a partir do segundo ano de 15 milhões de euros em cada país;
- Entrada de parceiros institucionais como acionistas de referência. “O clube deve ter 67% da SAD, face aos atuais 63,25%” e Mayer propõe selecionar dois acionistas de longo prazo, com 10% cada um. “Na nossa visão, um desses acionistas deveria ser a Adidas enquanto o outro acionista deveria ser uma empresa líder mundial em entretenimento ou em transmissão de espetáculos desportivos”.Objetivo de redução de custos anuais em 30 milhões de euros;

Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Hotéis, um milhão de sócios e NFT. O programa financeiro dos candidatos ao Benfica
{{ noCommentsLabel }}