Problema da inflação não se resolve com aumento de salários, diz CIP
“Se vamos atrás da inflação para subir os salários, não a conseguimos controlar, apenas a potenciamos”, disse António Saraiva, à entrada para a reunião da Concertação Social.
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, afirmou esta segunda-feira que o problema da inflação não se resolve com aumento dos salários, defendendo a tomada de medidas que possam mitigar a “exponencial” subida dos custos.
“Se o Governo ou as empresas tivessem de reagir imediatamente ao valor da inflação estávamos constantemente a alterar salários e a inflação dos salários levaria inevitavelmente a inflação sobre inflação”, disse António Saraiva, salientando que tem de haver “uma moderação”.
“Não podemos ser cegos e pensar que o problema da inflação se resolve com aumento de salários”, acrescentou.
O presidente da CIP falava à entrada para a reunião da Concertação Social convocada pelo Governo para discutir com os parceiros sociais o Orçamento do Estado para 2022 cujas linhas gerais foram apresentadas esta manhã aos grupos parlamentares e deputados únicos, e que conta com a presença do ministro das Finanças, Fernando Medina.
Questionado sobre o impacto da subida da inflação no poder de compra, António Saraiva precisou que a falta de poder de compra das pessoas é semelhante ao problema das empresas perante o “exponencial aumento das matérias-primas, na escassez da mesma, nos elevados custos energéticos”.
“É na nossa produtividade e no nosso crescimento económico que assenta a sustentabilidade dos salários”, precisou, afirmando: “Se vamos atrás da inflação para subir os salários, não a conseguimos controlar, apenas a potenciamos”.
Sobre as medidas de mitigação do impacto da subida dos custos da energia e agroalimentares – aprovadas no final da semana passada e detalhadas esta segunda pelo Governo em conferência de imprensa – António Saraiva afirmou que são “bem-vindas”, mas que não evitam o “exponencial aumento de custos”, sendo necessário procurar mais respostas.
“Estamos conscientes das dificuldades e da necessária sustentabilidade das contas públicas, não estamos aqui a pedir apoios cegamente, estamos a pedir que o Governo português, à semelhança de outros Estados-membros, tenha em atenção esta dimensão da situação para que possa minorar o mais possível”, referiu o presidente da CIP, afirmando esperar que o Orçamento do Estado possa trazer novas respostas.
António Saraiva afirmou ainda, face às medidas já anunciadas e conhecidas, que o importante é que “cheguem rapidamente às empresas sem complexidades burocráticas”.
Numa primeira análise às medidas, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, reconheceu que estão “no caminho” que se necessita, mas ressalvou que falta ainda conhecê-las em pormenor e a análise dos setores mais afetados e representados pela CCP, como os transportes.
Além disso, João Vieira Lopes afirmou que tendo a anterior proposta orçamental sido desenhada antes da subida da inflação e da guerra na Ucrânia, o novo OE2022 “terá de ter em conta a nova situação”.
“Estas medidas são positivas, vamos analisá-las com os setores, mas tem de ter haver também um enquadramento diferente do Orçamento do Estado anterior”, precisou o presidente da CCP.
Já o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, adiantou esperar que o OE2022 traga “uma redução efetiva do Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos” (ISP).
Sobre as medidas já conhecidas e cujo detalhe se conhece já melhor, como a isenção temporária da taxa do IVA dos fertilizantes e das rações de animais, afirmou que “na vertente económica não têm grande resultado” na medida em que o IVA destes produtos é dedutível.
Por seu lado, a presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, considerou positivas as medidas já tomadas, mas precisou que, perante a subida da inflação, são insuficientes, tendo de haver uma resposta ao nível dos salários e das pensões. “Provavelmente as medidas já conhecidas não são suficientes”, disse, salientando que perante a inflação que já se regista “e que se perspetiva, é obvio que os salários e as pensões têm de aumentar”.
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