FMI revê em baixa crescimento mundial. Rússia afunda 8,5% e Ucrânia 35%
FMI aponta para aceleração da inflação para 5,7% este ano nas economias desenvolvidas e 8,7% nos mercados emergentes. Uma revisão em alta de 1,8 e 2,8 pontos percentuais face a previsões de janeiro.
“A guerra na Ucrânia desencadeou uma crise cara do ponto de vista humanitário que exige uma resolução pacífica”. É com esta fase que o Fundo Monetário Internacional (FMI) inicia o seu relatório anual onde revê em baixa o crescimento mundial para 3,6%, este ano e no próximo, mas em muito maior escala o dos protagonistas deste conflito. A economia ucraniana vai sofrer uma contração de 35% este ano e a da Rússia 8,5%.
Mas não são apenas a Ucrânia e a Rússia as mais penalizadas este ano — a primeira, resultado direto da invasão e da destruição de infraestruturas e êxodo da população, a segunda, devido ao impacto das sanções que lhe foram impostas pela comunidade internacional. O FMI antecipa que os países vizinhos, que recebem o maior fluxo de refugiados, também sejam impactados negativamente. A Polónia deverá crescer 3,7% este ano e abrandar para 2,9% no próximo e a Hungria 3,6%, em 2002, e 3,6% em 2023. Também a Bielorrússia, alvo de sanções tendo em conta o seu alinhamento com Moscovo, deverá registar uma contração económica de 6,4% este ano, recuperando para 0,4% no próximo ano.
A guerra na Ucrânia veio desacelerar o caminho de retoma que vinha a ser feito. Se em janeiro, o Fundo reviu em alta as previsões de crescimento a nível mundial para 2023 – de 3,6% para 3,8% — agora foi forçado a revê-las em baixa, já que o conflito acabou por hipotecar as perspetivas de recuperação que se antecipavam para a segunda metade deste ano à medida que os efeitos da variante Omicron se desvaneciam.
A guerra surgiu num momento que a economia mundial ainda não tinha recuperado totalmente da pandemia da covid-19, “havendo divergências significativas” entre os vários países. Mas a ela soma-se um segundo fator penalizador: os “frequentes e mais vastos confinamentos na China”, que abrangem hubs-chave da indústria transformadora e que leva à antecipação de novos constrangimentos nas cadeias de fornecimento mundiais. Ora, “pressões de preços mais elevadas, mais amplas e mais persistentes também conduzem à adoção de uma política monetária mais restritiva em muitos países”, alerta o FMI. Ou seja, “os riscos em geral para as perspetivas económicas aumentaram exponencialmente”, conclui o FMI.
Mas o conflito armado tem impacto global. “Os prejuízos económicos do conflito vão contribuir para um significativo abrandamento no crescimento mundial em 2022”, sublinha o FMI no World Economic Outlook publicado esta terça-feira. Os mercados de matérias-primas, as trocas comerciais e os canais financeiros são as vias de contágio do conflito.
O FMI sublinha que os preços dos combustíveis e dos alimentos subiram rapidamente, sendo a população dos países de mais baixos rendimentos as mais afetadas. Assim, o Fundo aponta para uma aceleração da inflação para 5,7% este ano nas economias desenvolvidas e de 8,7% nos mercados emergentes. Uma revisão em alta de 1,8 e 2,8 pontos percentuais face às previsões de janeiro.
Com países (como os Estados Unidos e alguns europeus) a registar recordes de inflação de 40 anos, o FMI alerta que a tendência de preços altos vai persistir mais tempo do que inicialmente previsto. É esperada uma “resolução gradual dos desequilíbrios entre a procura e a oferta e da oferta do mercado de trabalho” no cenário base da instituição, o que poderia aliviar a pressão inflacionista, mas “a previsão está envolta em incertezas”, reconhece o Fundo. Bastaria, por exemplo, um aumento mais forte dos salários ou dos preços das matérias-primas, nomeadamente do petróleo. As projeções apontam para um aumento de 55% nos preços do barril de crude este ano e uma ligeira descida (13,3%) no próximo. Usando uma média entre o brent e o crude, o FMI espera que o preço do barril rode os 106 dólares este ano e os 92 dólares, em 2023.
Com este nível de inflação, a instituição liderada por Kristalina Georgieva reconhece que será complicado o trade-off que os bancos centrais têm de fazer entre conter a escalada dos preços e preservar o crescimento. O Fundo antecipa uma subida dos juros, com os bancos centrais a adotar políticas monetárias mais restritivas, o que irá aumentar a pressão sobre as economias em desenvolvimento, lembrando que muitos países têm uma margem de manobra orçamental diminuta para amortecer o impacto da guerra nas suas economias.
A guerra na Ucrânia não apagou os desafios que a economia mundial continua a enfrentar, apenas os tornou ainda mais difíceis. “A erosão da margem orçamental torna ainda mais difícil investir na transição climática, enquanto os atrasos em lidar com a crise climática tornam as economias mais vulneráveis aos choques das matérias-primas, que se alimentam da inflação e da instabilidade económica”, alerta o FMI. E a fragmentação geopolítica apenas piora tudo isto, aumentando os riscos de conflitos e de volatilidade económica, diminuindo pelo caminho a eficiência económica.
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