Coca-Cola. “Não vamos ser uma companhia 100% remota, mas vai haver um modelo flexível de trabalho”
A Coca-Cola vai implementar um modelo de trabalho flexível, em que o trabalho remoto é uma opção. No entanto, a companhia quer manter momentos presenciais para tomar decisões e debater ideias.
Há praticamente uma década que, na Coca-Cola, o trabalho autónomo, remoto e deslocalizado já era conhecido. Mas, com a pandemia da Covid-19, tudo acelerou. Depois do teletrabalho obrigatório e de uma fase de transição, o modelo de trabalho que será adotado pela empresa está agora mais claro: “A Coca-Cola confirmou-nos a todos que não vamos ser uma companhia de trabalho 100% remota”, avança José Antunes, diretor de estratégia, comunicação e experiência da Coca-Cola Company, com responsabilidades na América Latina. “Mas vai haver um modelo flexível de trabalho a partir de agora”, acrescenta, durante a talk “Criatividade sem Fronteiras”, organizada pela Nómada Digital, com Hugo Veiga, global chief creative officer da AKQA.
“A Coca-Cola não vai ser 100% digital exatamente por esse efeito humano. Sozinhos podemos ser brilhantes, todos juntos somos geniais. E todos juntos fisicamente, porque há uma implicação física que sabemos que impulsiona o trabalho de todos”, assegura José Antunes.
Precisamente por isso é que, mesmo durante a pandemia, a companhia implementou os “momentos críticos de decisão ou de cocriação”, em que, mediante protocolos de saúde, as equipas se reuniam no escritório para tomar decisões.
“O que nós começámos a fazer no último ano aqui na Coca-Cola foi ter momentos críticos de decisão ou de cocriação juntos fisicamente. Não íamos todos os dias ao escritório, obviamente que não, nem íamos três vezes por semana, mas nos momentos críticos em que necessitávamos de inspiração ou de tomar decisões, combinávamos e estávamos todos reunidos para trabalhar juntos o dia inteiro”, recorda.
“Penso que isso vai continuar a acontecer, independentemente de a pandemia desaparecer ou não”, continua o diretor. “Vão haver pontos críticos em que nos vamos encontrar todos no escritório. Um, dois, três dias. O que não vai acontecer é ser todos os dias. Porque o resto do tempo, uns vão estar noutras cidades, noutras províncias…”
Já na agência de publicidade AKQA, planeia-se, neste momento, um regresso progressivo ao escritório de São Paulo, no Brasil. Mas dando a possibilidade de os colaboradores escolherem se querem continuar a trabalhar remotamente ou não, até porque há quem já tenha feito as malas e saído da cidade: “Algumas pessoas já saíram de São Paulo, foram para o Rio e para outras zonas. A essas não estamos a exigir que voltem”, esclarece o global chief creative officer da network do grupo WPP.
Entre as que ficaram, há quem esteja desejoso de voltar ao escritório. “A equipa em São Paulo tinha um ritual que quisemos mesmo fomentar, um ambiente de família. As pessoas sentiam-se em casa. Quem está em São Paulo quer voltar ao escritório”, descreve o criativo português, cofundador da filial da agência AKQA na cidade brasileira.
Trata-se, assim, de acomodar, as diferentes necessidades e desejos das pessoas. “O futuro vai ser uma equipa híbrida”, resume Hugo Veiga, e, ao mesmo tempo, antevê desafios. “É nossa responsabilidade criar as condições, o ambiente e os rituais para que as pessoas queiram ir para o escritório. Muitas vezes, as pessoas vão porque ao final do dia vai ter uma happy hour“, sugere o criativo.
É nossa responsabilidade criar as condições, o ambiente e os rituais para que as pessoas queiram ir para o escritório. Muitas vezes, as pessoas vão porque ao final do dia vai ter uma happy hour.
Será também preciso assegurar questões mais logísticas — o que tem sido feito na AKQA com recurso a uma plataforma para reservar o espaço de trabalho — e a experiência de todos os colaboradores. “A pior coisa é entrar numa call quando há pessoas reunidas fisicamente numa sala. A partir do momento em que as pessoas na sala começam a falar umas com as outras, a experiência [de quem entra na reunião por videochamada] acaba”, afirma.
“Vai ser uma adaptação orgânica. Vai ser preciso perceber como é que as pessoas que estão remotas podem sentir-se mais incluídas. E isso pode passar por toda a gente entrar por videochamada, mesmo as que estão juntas presencialmente”, considera o criativo.
Da mostra de talento no America’s Got Talent à luta pelo talento no The Voice
Outros dos grandes desafios com que as empresas se deparam passa pelo recrutamento. “Houve uma mudança muito grande em termos de recrutamento”, defende o criativo, estabelecendo um paralelismo: “Foi quase uma mudança do America’s Got Talent para o The Voice”.
Enquanto antes, tal como no America’s Got Talent, a pessoa subia ao palco e tinha que provar o que valia, agora são os jurados a dizer ‘escolhe-me a mim, quero-te na minha equipa'”. Nas empresas, acontece o mesmo. A oferta apresentada deixou de se fazer valer apenas pela oportunidade em si, pelos projetos ou ambiente de trabalho. “Temos de pensar que outro tipo de experiência é que podemos proporcionar às pessoas que querem trabalhar connosco”, refere Hugo Veiga, coautor da multipremiada campanha Retratos da Beleza Real, para a Dove.
Eles [os candidatos] querem saber como é que tu [empresa] me vais deixar viver a minha vida, porque eles querem continuar a viver a sua vida, e daqui a seis meses a sua vida vai ser completamente diferente. Eles querem saber se a empresa está preparada para isso.
Os desafios de recrutar vão, agora, muito mais longe do que apenas pensar se a companhia ou o projeto agradam ou não ao talento que se está a recrutar. “É outro contraponto”, diz José Antunes, da Coca-Cola. “Eles [os candidatos] querem saber como é que tu [empresa] me vais deixar viver a minha vida, porque eles querem continuar a viver a sua vida, e daqui a seis meses a sua vida vai ser completamente diferente. Querem saber se a empresa está preparada para isso.” E isto já está a acontecer. Que o diga Hugo Veiga, que, em duas entrevistas de trabalho recentes que fez, encontrou os candidatos a fazer uma road trip.
“É muito importante que as organizações se consigam adaptar a este tipo de relação de trabalho, porque geralmente este tipo de talento são as pessoas mais ousadas, as têm sede de conhecer o novo, de fazer coisas diferentes. Quero trabalhar com essas pessoas”, assegura.
José Antunes está de acordo: “Precisamos desta frescura de gente que seja aventureira, pioneira”, diz. “Agora, há gerações que se dedicam a viajar pelo mundo. Eles criam o construem o seu próprio estilo de vida. Os legisladores de todo o mundo vão ter de se habituar a esta realidade de trabalho flexível.”
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