Últimos números da inflação “foram uma surpresa em alta”, admite Centeno
O governador do Banco de Portugal admite que os últimos números da taxa de inflação em Portugal "foram uma surpresa em alta" face ao que antevia o banco central. Será refletido nas próximas projeções.
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, admitiu esta terça-feira que os últimos números da taxa de inflação em Portugal, que a aproximaram da taxa registada na média da Zona Euro, foram uma “surpresa em alta”. O banco central vai levar em conta esses dados na próxima previsão para a taxa de inflação em Portugal em 2022 que deverá ser divulgada dentro de semanas.
Na conferência de imprensa de apresentação do relatório sobre os resultados do BdP em 2021, Mário Centeno reconheceu que as novas previsões terão de “levar em conta” a evolução recente da taxa de inflação, sinalizando que haverá uma revisão em alta face à atual estimativa de 4% (Índice Harmonizado de Preços no Consumidor). Em abril de 2022, a taxa de inflação (IPC) atingiu os 7,2%, o que compara com 7,5% na média da Zona Euro.
O governador do Banco de Portugal explicou que, além dos dados mais recentes, é preciso atualizar a “perspetiva” sobre a duração da guerra na Ucrânia e a reabertura da economia da China após confinamentos relacionados com a Covid-19. Esta segunda-feira a Comissão Europeia reviu em alta a previsão da taxa de inflação em Portugal este ano para 4,4% e o Fundo Monetário Interacional (FMI) para 6%.
É “notório que nos últimos dois meses a taxa de inflação em Portugal aproximou-se bastante da média da área do euro”, reconheceu Centeno, recordando que nos meses anteriores estava “mais contida” na economia portuguesa. Para o governador, estes dados não dizem “muito sobre o seu caráter temporário ou permanente”. “É preciso saber se a taxa de inflação está ou não ancorada nos objetivos do BCE no médio prazo. Todos os indicadores do mercado mostram que essa ancoragem existe”, afirmou.
Contudo, Centeno referiu um indicador com um “resultado diferente”: as expectativas dos particulares para a taxa de inflação no futuro. “Em quase todos os países europeus as expectativas de inflação são claramente mais altas do que as que resultam dos instrumentos de mercado”, notou, argumentando que todos têm de comunicar melhor sobre o que significa este surto inflacionista que estamos a viver.
Acresce que, ao contrário do que aconteceu no início da crise pandémica, a coordenação das políticas a nível europeu tem sido menor, diz Centeno, algo que “lamenta”. O governador reconhece que a coordenação da política monetária e da política orçamental e económica “deixou de ser tão simples como foi em 2020”. A situação atual “requer uma coordenação e comunicação que ainda não atingimos no seu nível desejável”, admitiu.
Recusando comentar os dados de mercado em que os investidores estão a incorporar várias subidas dos juros por parte do BCE este ano, Mário Centeno disse que “é notório que essas expectativas se vão formando”. “Temos de enquadrar nas nossas decisões essas expectativas, quando desaceleram ou aceleram”, disse, antecipando que espera que nas próximas reuniões do BCE “se consiga transmitir a todos de forma clara qual é a expectativa correta daquilo que o BCE considera ser necessário para ter um contributo muito importante da normalização da política monetária para a contenção da inflação“.
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