BCE irá até “onde for preciso” para travar inflação “indesejavelmente elevada”, assegura Lagarde em Sintra

Lagarde admitiu em Sintra que o BCE poderá agir de forma mais rápida e ser mais agressivo na subida das taxas de juro se as perspetivas para a subida dos preços se deteriorarem.

O Banco Central Europeu (BCE) irá até “onde for preciso” para travar a escalada da inflação que permanece “indesejavelmente elevada” durante algum tempo, assegurou a presidente da instituição, Christine Lagarde, no Fórum Anual do BCE, em Sintra. A francesa admitiu mesmo que o banco central poderá ser mais agressivo se a subida dos preços se intensificar.

“Iremos até onde for preciso para assegurar que a inflação estabiliza na nossa meta de médio prazo de 2%”, declarou Lagarde no aguardado discurso introdutório que abriu o segundo dia da conferência na Penha Longa.

Com a inflação nos 8,1% na Zona Euro em maio, o banco central anunciou há três semanas que vai aumentar as taxas de juro em 25 pontos base na reunião de 21 de julho — a primeira subida em mais de uma década — e Lagarde abriu a porta a subidas mais expressivas na reunião seguinte.

“Se as perspetivas de médio prazo da inflação persistirem ou deteriorarem, um aumento maior será apropriado na reunião de setembro”, apontou, lembrando, contudo, que este “compromisso está dependente dos dados” económicos que surgirem entretanto.

Segundo Lagarde, o banco central está pronto para aumentar as taxas de juro, “de uma forma determinada e sustentada”, mas incorporando princípios de “gradualismo e opcionalidade”. “Isto significa mover-se gradualmente se houver incerteza sobre as perspetivas, mas com a opção de agir de forma decisiva sobre qualquer deterioração da inflação no médio prazo, especialmente se houver sinais de desancoragem das expectativas de inflação”, explicou.

Iremos até onde for preciso para assegurar que a inflação estabiliza na nossa meta de médio prazo de 2%.

Christine Lagarde

Presidente do BCE

Na próxima sexta-feira, o Eurostat fará uma atualização da inflação em relação ao mês de junho e os economistas sondados pela Bloomberg antecipam uma subida da taxa para os 8,5%.

Novo instrumento vai ter “salvaguardas”

A presidente do BCE também abordou o novo instrumento anti-crise da dívida na região que “vai conter um aumento desordenado dos spreads da dívida da Zona Euro”, mantendo, ao mesmo tempo, a pressão sobre os governos dos Estados-membros para manterem contas públicas em ordem.

“O novo instrumento terá de ser eficaz, ao mesmo tempo proporcional e conter salvaguardas suficientes para preservar o ímpeto dos Estados-membros para uma política orçamental sólida“, adiantou, sinalizando que a ferramenta de controlo dos juros da dívida vai ter algum tipo de condicionalismo associado. A agência Reuters adiantava precisamente há duas semanas que os países poderiam beneficiar do escudo do BCE se cumprissem as recomendações económicas da Comissão Europeia.

Lagarde defendeu que este instrumento é necessário para que o BCE possa avançar com a normalização da política monetária sem provocar perturbações nos países mais endividados, com Itália, Portugal e Espanha.

Mas os governos também “terão de fazer a sua parte” neste processo de redução dos riscos, acrescentou. Devem “fornecer apoios direcionados e temporários” às famílias e empresas, enquanto prosseguem com políticas de redução da dívida pública e de estabilização da economia.

Sem nunca mencionar a palavra recessão, Lagarde disse que o BCE reviu significativamente em baixa as previsões para o crescimento da economia da Zona Euro para os próximos anos. Ainda assim, “continuamos a prever taxas positivas de crescimento”, assinalou a francesa.

(Notícia atualizada às 10h37)

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