5 ideias que Christine Lagarde deixou em Sintra

O BCE está comprometido em fazer baixar a inflação, mas sem causar uma crise da dívida. Diz que os Governos também devem fazer a sua parte. Lagarde deixou cinco ideias em Sintra.

Christine Lagarde, presidente do BCE, no Fórum Anual em Sintra. Sérgio Garcia | Your Image

Na abertura do segundo dia do Fórum Anual do BCE, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) fez um diagnóstico dos problemas que a Zona Euro enfrenta, assegurou que a autoridade monetária está comprometida em fazer baixar a inflação que está a aumentar o custo de vida das pessoas, podendo ser mais agressiva na subida das taxas se for necessário. Em Sintra, Christine Lagarde também revelou que os reinvestimentos do Programa de Compras de Emergência Pandémica (PEPP) começam a 1 de julho e confirmou que o escudo “anti-crise” que está a ser desenhado virá com condicionalismos, mantendo pressão sobre os governos.

Juros podem subir mais agressivamente

Um dado adquirido: o BCE vai subir as taxas de juro em 25 pontos base na reunião de 21 de julho, protagonizando a primeira subida em mais de uma década para travar a escalada da inflação, que situou nos 8,1% em maio, confirmou Christine Lagarde.

Não restam dúvidas de que virá aí um novo ciclo na Zona Euro com o dinheiro mais caro. Em princípio, os juros voltarão a subir mais 25 pontos base na reunião do conselho de governadores de setembro, mas a presidente abriu a porta a um aumento mais acentuado se as tensões inflacionistas se mantiverem. “Se o outlook de médio prazo persistir ou deteriorar, um aumento maior será apropriado na reunião de setembro”, disse a francesa.

Lagarde assumiu o compromisso de “movimentar-se mais rapidamente” se a informação apontar nesse sentido. “É um compromisso, contudo, dependente dos dados”, frisou.

Na próxima sexta-feira, o Eurostat fará uma atualização da inflação em relação ao mês de junho e os economistas sondados pela Bloomberg antecipam uma subida da taxa para os 8,5%.

Mas há flexibilidade na normalização

Segundo Lagarde, o banco central está pronto para aumentar as taxas de juro, “de uma forma determinada e sustentada”, mas incorporando princípios de “gradualismo e opcionalidade”.

O que é que isto significa? “Significa mover-se gradualmente se houver incerteza sobre as perspetivas, mas com a opção de agir de forma decisiva sobre qualquer deterioração da inflação no médio prazo, especialmente se houver sinais de desancoragem das expectativas de inflação”, explicou a presidente do BCE.

Lagarde lembrou que a continuação da guerra na Ucrânia está a impulsionar os preços de forma muito significativa. Há incerteza sobre “quão rapidamente a inflação poderá regressar ao objetivo de médio prazo” de 2% do BCE.

Primeira linha de defesa da periferia já a 1 de julho

Depois de anunciar a subida dos juros na reunião de junho, o BCE assistiu um agravamento acentuado do risco dos países da periferia em relação à Alemanha, nomeadamente Itália, Portugal e Espanha, que viram os juros dispararem repentinamente. O risco de fragmentação da Zona Euro levou o banco central a agir prontamente. Anunciou duas medidas: mandou acelerar a criação de um instrumento que vai atuar contra o disparo dos spreads e vai flexibilizar os reinvestimentos do programa de compras de emergência pandémica (PEPP), que foi descontinuado em março.

Lagarde anunciou que estes reinvestimentos começarão já a 1 de julho, depois de terminado o programa de compra de ativos APP (que veio substituir o PEPP há três meses). Em concreto, o BCE vai usar o dinheiro das obrigações compradas no PEPP que vencerem na compra de novos títulos de dívida da Zona Euro para estabilizar os mercados.

Escudo vem com condicionalidade

Em relação à ferramenta contra a fragmentação da Zona Euro, Lagarde confirmou aquilo que já vinha sendo reportado pelas agências internacionais: o escudo anti-crise virá com condicionalismos e os governos só poderão beneficiar da sua proteção se mantiverem políticas orçamentais saudáveis. É um requisito importante para responder ao ceticismo dos chamados países frugais.

“O novo instrumento terá de ser eficaz, ao mesmo tempo proporcional e conter salvaguardas suficientes para preservar o ímpeto dos Estados-membros para uma política orçamental sólida”, disse Lagarde.

A agência Reuters adiantava precisamente há duas semanas que o escudo do BCE poderia estar associado às recomendações económicas da Comissão Europeia.

Esta ferramenta irá atuar sempre que os spreads da dívida se afastarem para além dos fundamentos económicos dos países, mas não será um obstáculo à redução da inflação, explicou Lagarde, que sublinhou a importância do mecanismo para o BCE poder avançar com a normalização da política monetária sem causa desequilíbrios entre os Estados-membros.

Governos “devem fazer a sua parte”

A política monetária está e vai continuar a atuar para travar as tensões inflacionistas. A Zona Euro enfrenta um conjunto de choques “complexos” que vai reduzir o crescimento económico e impulsionar a inflação.

“Neste contexto, é imperativo que os decisores políticos, dentro dos seus mandatos, respondam a estes riscos para as perspetivas económicas”, disse Lagarde, sublinhando que “os decisores orçamentais devem fazer a sua parte na redução destes riscos”. Como? “Dando apoios direcionados e temporários enquanto, no médio prazo, seguem o quadro de regras sobre a sustentabilidade da dívida e a estabilização macroeconómica”.

Ao ECO, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, também havia chamado a dimensão orçamental para a discussão, dizendo que as respostas aos “desafios complexos” que enfrentamos “não se esgotam na margem de atuação da política monetária”.

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