Operadores de TVDE admitem falta de carros. Atrair motoristas é uma prioridade

As empresas ouvidas pela Pessoas adiantam que assegurar que os motoristas encontram uma oportunidade económica recompensadora nesta atividade é fundamental. Só a Free Now tem recebido 300 por semana.

Os operadores de TVDE como a Uber, Bolt ou Free Now têm registado um desequilíbrio entre a oferta e a procura, com menos motoristas e carros do que utilizadores a precisarem de deslocar-se de um ponto ao outro da cidade. A falta de motoristas é transversal ao setor, dizem as empresas ouvidas pela Pessoas. Sindicato aponta essa situação aos valores de compensação dos motoristas praticados pelas plataformas. Mas há quem ‘culpe’ o preço dos combustíveis ou a falta de chips. Resultado? Muitas vezes o seu pedido de viagem fica por responder ou é cancelado pelo motorista.

“A falta de motoristas tem sido algo transversal a todos os operadores”, podendo mesmo originar, em alguns momentos, “uma deterioração da qualidade do serviço”, no que toca à taxa de aceitação dos motoristas, “que pode variar”, avança fonte oficial da Free Now à Pessoas.

“É um problema que já advém do surgimento da pandemia, que trouxe uma quebra abrupta global da procura e, consequentemente, uma redução do número de operadores e carros a trabalharem no mercado. Com o total regresso à normalidade, e com mais pessoas na rua, regresso do turismo, entre outros fatores, a procura subiu exponencialmente e, até à data, a oferta ainda não foi capaz de a acompanhar, apesar da entrada de novos motoristas para fazer frente a este crescimento”, explica a mesma fonte.

A Free Now está a apostar “intensivamente” nos processos de recrutamento precisamente para conseguir corresponder à “crescente procura” — só nesta plataforma têm entrado mais de 300 novos motoristas por semana –, ao mesmo tempo, que lançou um conjunto de iniciativas que pretendem mitigar alguns dos problemas apontados ao setor.

“Desde o final do ano passado que procuramos aumentar o rendimento dos motoristas e a sua satisfação, através de uma série de medidas”, nomeadamente “melhores bónus para os motoristas”, “melhor serviço de apoio ao motorista”, “a única plataforma que mostra (ao motorista) destino e preço final no momento do pedido”, entre outras.

A Uber também admite que existe um ” desequilíbrio entre a oferta de serviços TVDE e a procura”. Mas garante: “Temos mecanismos para lidar com desequilíbrios pontuais, como as tarifas dinâmicas que equilibram a procura e oferta e garantem a fiabilidade do serviço”, afirma fonte oficial da empresa em Portugal.

“Houve uma recuperação da procura mais rápida do que do lado da oferta. Com esse aumento rápido da procura decidimos rever os preços dos serviços Uber desde março. Estas mudanças procuram atrair mais motoristas e parceiros para a atividade TVDE e melhorar a experiência dos utilizadores. Deste modo, estamos a assegurar que motoristas e parceiros encontram uma oportunidade económica recompensadora nesta atividade e que os utilizadores possam continuar a contar com um serviço de mobilidade fiável, acessível e seguro”, detalha.

Com o total regresso à normalidade, e com mais pessoas na rua, regresso do turismo, entre outros fatores, a procura subiu exponencialmente e, até à data, a oferta ainda não foi capaz de a acompanhar, apesar da entrada de novos motoristas para fazer frente a este crescimento.

Fonte oficial da Free Now

Já a Bolt atribui a escassez de carros à falta de chips. “Um problema global que só se prevê resolvido no fim do próximo ano”, diz Nuno Inácio, responsável de ride-hailing da Bolt em Portugal. E avança: “Trabalharmos no sentido de estabelecer parcerias para um acesso mais célere a viaturas para os nossos motoristas.”

Quanto à falta de motoristas — de que as plataformas concorrentes falam — Nuno Inácio vai numa direção oposta. “Verificamos um crescimento de 30% no número de motoristas relativamente ao período precedente à pandemia. Estamos a registar os maiores ganhos de todos os tempos, o que também tem contribuído para um maior interesse dos motoristas”, garante.

Hoje é possível ganhar-se, em média, até 18 euros por hora a trabalhar connosco, sendo que, nesta altura do ano, o valor pode ser potencialmente maior.”

Sindicato relaciona falta de pessoas com condições oferecidas

O Sindicato dos Motoristas de TVDE, por sua vez, defende que há poucas pessoas disponíveis para conduzir os carros para as plataformas. O motivo? Os valores praticados, acredita.

Os novos motoristas, quando começam a fazer as viagens e percebem que os preços são tão baixos, desistem logo. Apenas os motoristas estrangeiros resistem mais à exploração, porque precisam de enviar dinheiro para os países de origem.

António Fernandes

Porta-voz do Sindicato dos Motoristas de TVDE

“O aumento dos tempos de espera significa, normalmente, que há menos carros ao serviço. Não há um grande aumento no número de condutores porque os tarifários são bastante baixos”, diz porta-voz do Sindicato dos Motoristas de TVDE, António Fernandes, à Pessoas/ECO.

“Os novos motoristas, quando começam a fazer as viagens e percebem que os preços são tão baixos, desistem logo. Apenas os motoristas estrangeiros resistem mais à exploração, porque precisam de enviar dinheiro para os países de origem”, justifica.

Não se sabe, no entanto, quantos motoristas estão ativos. “A liberalização do mercado não exige essa informação junto das plataformas”, alega António Fernandes.

Apesar de — ao contrário da Free Now — não darem conta de quantos novos condutores estão a receber ou de quantos precisam para satisfazer a procura, tanto a Uber como a Bolt se mostram “abertas” a novos colaboradores. “A todos os que, cumprindo os requisitos legais, queiram ou precisem de aceder a oportunidades de trabalho flexível, independentemente das suas qualificações, idade, género ou nacionalidade”, especifica a Uber.

“Temos um portal próprio para os interessados. Mantemos também contacto frequente com os nossos colaboradores, parceiros e gestores de frotas para perceber como melhor os apoiar. Só assim conseguimos contar com motoristas motivados e empenhados em representar a Bolt e a prestar o melhor serviço”, refere o responsável de ride-hailing da Bolt em Portugal.

Desafios no setor

Além de questões relacionadas com a pandemia, e das próprias condições da profissão, que podem dificultar, segundo defende o Sindicato dos Motoristas de TVDE, a atratividade, as empresas contactas pela Pessoas falam em outros fatores. Cadeias de fornecimento, instabilidade macro-económica, atividade turística e combustíveis são alguns deles.

“Este desequilíbrio resulta dos dois anos de pandemia, de disrupções em cadeias de fornecimento (em particular automóvel), da atual instabilidade macro-económica, mas também de limitações operacionais impostas por lei que impedem que o ajustamento entre o número de motoristas necessários para transportar quem precisa de se deslocar se faça naturalmente, prejudicando necessariamente uns e outros”, considera fonte oficial da Uber em Portugal.

Já a Bolt destaca a atividade turística. “O verão em Portugal é sempre uma altura bastante desafiante, sobretudo causado pela época alta do turismo”, aponta Nuno Inácio. “No entanto, um aumento na procura não implica uma diminuição na qualidade de serviço; depende antes da eficácia com que se acompanha esse aumento. Sabemos que situações de cancelamento de viagens ocorrem, e é mais propício nestas alturas, mas o nosso rating médio, deixado pelos nossos utilizadores, encontra-se atualmente nos 4,84 em 5″, salienta.

Aos possíveis motivos já mencionados, a Free Now acrescenta outro: a subida do preço dos combustíveis. “A subida dos combustíveis prejudicou todas as áreas de negócio, sobretudo esta que acaba por estar diretamente dependente dos diferentes tipos de combustíveis. As repercussões mais sentidas prendem-se, essencialmente, com o aumento dos custos, que, por sua vez, faz reduzir as margens diretas para os motoristas, tornando a profissão menos apetecível e reduzindo ainda mais a oferta disponível”, justifica.

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