Projeto inovador nas indústrias criativas vai abrir em pleno em 2024, depois de um ano de obras e dois milhões de investimento. Espaço é explorado pelo festival Trojan Horse was a Unicorn.
Parece um prédio como qualquer outro que encontramos na rua da Emenda, em plena Baixa de Lisboa: há um escritório, um negócio de alojamento local ou uma habitação para lá de uma porta grande de madeira com puxadores de metal. Mas lá dentro acolhe a antecâmara de um projeto inovador nas indústrias criativas.
Entrámos no local onde a partir de 2024 vai funcionar um laboratório para estudar os cinco sentidos e as reações comportamentais. O projeto liderado pelo festival de entretenimento digital Trojan Horse Was a Unicorn (THU) implica um investimento total de cerca de dois milhões de euros e conta com a NOS como principal parceira. São quatro andares que vão servir vários propósitos.
Os dois pisos mais acima vão ser uma “marca-piloto”, para não prejudicar os eventos anuais do festival, preparados nos dois andares abaixo. “Vamos fazer coisas tão maradas que, se alguma coisa correr mal, não arrasta logo o THU”, previne o fundador do THU, André Luís. No segundo e no terceiro andares, serão necessárias obras de 1,4 milhões de euros.
Por dentro do futuro
O último andar tem um pé direito de oito metros e será um espaço multissensorial. “Permite-nos montar uma floresta e testar conceitos imersivos, que depois serão levados para os eventos.” Só o anúncio do laboratório já despertou o interesse de marcas. “Daí podem surgir novas áreas de negócio”, antecipa.
O piso abaixo também será bastante experimental, aberto para grandes empresas de entretenimento digital mas, por agora, está a ser ocupado com uma creche para refugiados ucranianos, a funcionar até ao final deste ano. A situação obrigou a adiar o arranque das obras no prédio para o início de 2023 e que vão decorrer durante um ano.
Descendo mais um pouco é possível encontrar várias equipas do THU a prepararem o evento principal, o último a decorrer em Portugal, conforme avançou a Pessoas/ECO. É no centro de Lisboa que estão instalados os laboratórios das equipas criativas, de design e de vídeo.
“Como temos cada vez menos tempo e somos cada vez mais introvertidos, pensamos em estratégias para desbloquear as situações. Conseguimos limar todos os pontos para que, quando chegarmos ao evento, possamos fazer 40 vezes melhor do que agora.”
Ecrãs que são quadros e comida de laboratório
Chegados ao rés de chão, deparamo-nos com quatro ecrãs de televisão na parede. Poderiam estar prontos para equipar qualquer sala de estar mas o THU vai dar-lhes uma finalidade bem mais artística. “Comprámos seis quadros que servem como uma galeria de arte digital”, explica ao ECO o fundador do THU, André Luís. Os “quadros” também estão expostos numa sala junto ao futuro jardim de inverno, que passará a ser parcialmente coberto.
A visita guiada decorreu depois de um almoço dentro do prédio. Ou não servisse o piso térreo também para acolher um laboratório gastronómico, onde não faltam os frigoríficos e arcas congeladoras. A comida que será servida no festival, em setembro, foi toda pensada a partir da Baixa de Lisboa.
“A gastronomia é muito importante para nós porque se uma pessoa estiver bem alimentada e souber o que está a comer é mais feliz e tem outra mentalidade. Isto é algo tão básico que as pessoas esquecem-se disso”, destaca o responsável. Nos certames do THU, os dias prolongam-se das nove até às duas da manhã e a alimentação pode ser fundamental para dar um novo fôlego aos cerca de 1.000 participantes.
Como temos cada vez menos tempo e somos cada vez mais introvertidos, pensamos em estratégias para desbloquear as situações. Conseguimos limar todos os pontos para que, quando chegarmos ao evento, possamos fazer 40 vezes melhor do que agora
“Sabemos bem a diferença entre beber um café quando se está cansado ou beber uma zurrapa. Nos eventos, as pessoas querem sempre sair dos sítios porque as comidas e bebidas são uma porcaria. A fome leva-nos para outros campos e, por isso, é uma grande preocupação para nós.”
O THU tem trabalhado com três chefs ao longo do último ano e meio para garantir que não só os pratos servidos correspondem às necessidades nutricionais como também encaixem no paladar dos participantes. O investimento no laboratório da cozinha foi de 26 mil euros, mas o maior luxo tem sido o tempo para pensar em tudo.
“Demorámos ano e meio a criar um hambúrguer vegetariano que competisse ou fosse melhor do que a carne. Isso não é possível num restaurante normal, porque não há tempo para isso.”
Atenção à saúde mental
Além do recrutamento, da mentoria e das sessões criativas, o cuidado pessoal é outra das grandes preocupações da organização, até por uma questão de saúde mental. “Quem tem grande intensidade de trabalho, depois sofre com isso. Há um nível de depressão muito grande nas indústrias criativas. Isso baseia-se em as pessoas não se cuidarem delas próprias.”
Através de questionários enviados aos participantes, a organização do THU tem apostado no reforço da personalização das iniciativas dentro do festival. Aí também têm sido promovidos espaços para as pessoas falarem, sem rodeios, dos medos e ansiedades nos processos de criação artística.
É no cruzamento do cuidado humano com as novas oportunidades de negócio baseadas nas sensações que o THU procura deixar a sua marca em Portugal, mesmo depois da saída do evento principal do país.
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No futuro laboratório dos criativos da THU, há ecrãs que são quadros e testa-se comida
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