THU: Evento onde gigantes do entretenimento contratam sai de Portugal

THU volta a sair de Portugal por falta de visão do Governo e do município de Grândola, diz fundador. Evento principal segue para outro país do sul da Europa.

Está de saída de Portugal um dos maiores eventos do mundo para o recrutamento de talentos das indústrias criativas. O Trojan Horse was a Unicorn (THU) volta a abandonar o país depois da edição deste ano, que fará rumar a Tróia empresas como a Walt Disney Animation Studios ou a Netflix para contratar perto de 1.000 pessoas. O fundador do THU aponta a saída à falta de “visão” do Governo e de apoio da autarquia de Grândola. O Executivo propõe que o THU concorra, em 2023, ao programa de financiamento Portugal Events. Um país do sul da Europa será a próxima paragem do evento que cruza arte, tecnologia e empreendedorismo.

Em 2021 demos o passo de voltar para Portugal porque aceitámos o desafio de trabalhar em conjunto com o antigo Governo para desenvolver uma indústria de entretenimento digital em Portugal. Esta visão tinha como objetivo ajudar a impulsionar a indústria porque acredito que o nosso país tem potencial para se tornar numa referência e reúne condições económicas, culturais e sociais que fazem dele atrativo para o talento e os investidores”, recorda o líder e fundador do THU, André Luís.

O regresso do evento a Portugal resultou dos contactos com os ministérios da Economia e da Cultura, então liderados por Pedro Siza Vieira e Graça Fonseca, respetivamente, e pela secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.

Agora, com o novo governo, percebemos que não existe essa visão e que a indústria de entretenimento digital não faz parte das estratégias atuais. Como tal, e por muito que eu gostasse de manter o projeto em Portugal, o THU tem que procurar outros caminhos e atender aos pedidos de outros países que reconhecem a importância e o impacto desta indústria

André Luís

Fundador e líder do Trojan Horse was a Unicorn

Além do apoio institucional, houve financiamento de 500 mil euros, por parte do Turismo de Portugal, para os eventos de 2021 e de 2022. O financiamento deveu-se ao “contributo que um evento alicerçado na indústria criativa poderia aportar para a estruturação do produto turístico mais digital, uma tendência ainda mais forte em anos de pandemia”, justifica ao ECO fonte oficial do ministério da Economia.

Entretanto, Pedro Siza Vieira e Graça Fonseca saíram do executivo.

“Agora, com o novo governo, percebemos que não existe essa visão e que a indústria de entretenimento digital não faz parte das estratégias atuais. Como tal, e por muito que eu gostasse de manter o projeto em Portugal, o THU tem que procurar outros caminhos e atender aos pedidos de outros países que reconhecem a importância e o impacto desta indústria. O THU vai muito além do evento que realizamos em setembro e temos que pôr a nossa missão em primeiro lugar se queremos continuar a empoderar talento e a criar as condições necessárias.”

O que diz o Governo?

Contactado pela Pessoas/ECO sobre a alegada falta de interesse no evento no qual foi alocado meio milhão de euros de apoio, o Ministério da Economia, através da secretaria de Estado do Turismo, garante que tem existido “permanente contacto, pessoal e direto” entre a secretária de Estado do Turismo e os responsáveis do THU. Mas, até agora, não houve nenhuma reunião formal, nem essa foi solicitada.

“Até ao presente momento, não foi solicitada pelos promotores do evento Trojan Horse was a Unicorn qualquer audiência à Secretaria de Estado do Turismo, Comércio e Serviços“, diz fonte oficial da fonte oficial da Secretaria de Estado do Turismo, Comércio e Serviços. “Admite-se que a inexistência deste pedido formal prende-se com o facto de a própria Senhora Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços estar em permanente contacto, pessoal e direto, com os promotores“, continua a mesma fonte.

Mais, nessas conversas a secretária de Estado, Rita Marques, terá “indicado em diversas oportunidades que os promotores poderão apresentar a sua candidatura assim que o Portugal Events – Programa de Apoio à Organização de Eventos de Interesse Turístico seja reaberto, privilegiando-se a transparência e equidade com os demais promotores de eventos que querem desenvolver os seus projetos também no ano de 2023“.

Sobre a estratégia para as indústrias criativas, nem uma palavra, embora o Governo reconheça que esta indústria “é a terceira maior do mundo”, responsável por 12 milhões de empregos e avaliada em mais de 509 mil milhões de euros na Europa.

Já fonte oficial do Ministério da Cultura refere que “não recebeu, até à data, nenhum contacto nem pedido de audição por parte do THU”.

O líder do THU lamenta ainda o que diz serem as dificuldades criadas pelo município de Grândola, concelho onde decorre o evento. “Tentámos envolver as escolas locais. Disseram-nos que não seria possível porque o evento é em setembro, no início das aulas. Fui aluno de Artes e sei bem que se começasse as aulas com os melhores do mundo, não teria qualquer problema, pelo contrário.”

Contactada, a câmara municipal de Grândola não quis comentar estas declarações.

André Luís, fundador da Trojan Horse was a Unicorn (THU), em entrevista ao ECO - 03AGO22
Fundador e líder do THU, André Luís, à porta do escritório de Lisboa.

 

Próximo capítulo do THU passa por país do Sul da Europa…

Marcado para os dias 19 a 24 de setembro, será este o último ano em que o THU irá realizar-se em Tróia, onde o evento começou em 2013. Começou por contar com 200 participantes e chegou aos 1.000 elementos em 2017. Nos dois anos seguintes, o evento deu o salto para a capital de Malta, La Valletta. “Tornámo-nos algo maior e, infelizmente, tivemos de decidir prosseguir para o próximo capítulo”, escreveu, na altura, André Luís.

Um regresso, tudo indica, por apenas dois anos. Em setembro, empresas como Lego, Netflix, Sony, Epic Games, Walt Disney Animation Studios e Ubisoft, algumas das maiores companhias de entretenimento digital do mundo, estarão em Tróia para recrutar talentos em áreas como animação digital, 3D e after effects, fundamentais para construir alguns dos filmes e videojogos mais consumidos e rentáveis da atualidade.

 

Apesar de o evento principal sair de Portugal, o THU vai manter as suas instalações em Lisboa e no Porto, onde trabalham, no total, 24 pessoas.

Com o novo abandono de Portugal, o evento de entretenimento digital vai ser organizado no terceiro país em uma década. “Estamos a falar com alguns países do sul da Europa”, antecipa o líder do THU, embora ainda não estejam confirmadas nem data nem a nova cidade.

… e novidades no Japão

O THU também organiza um evento dedicado à construção de novas narrativas na cidade japonesa de Kaga, a cerca de 500 quilómetros da capital, Tóquio. Aí, o acontecimento está para durar. “Em Kaga, perceberam que era preciso um plano para uma cidade criativa e que há formas de ir buscar dinheiro. Sem isso, a cidade continuaria a perder habitantes e iria desaparecer ao fim de 15/20 anos”, assinala André Luís.

Depois do regresso em 2022, a edição de 2023 do evento em Japão será “um projeto de rutura com tudo o que existe a nível mundial”, graças ao apoio da Sony e do município local. Mais detalhes serão revelados em meados de dezembro.

Também em 2023 o THU passará a ter o terceiro evento presencial: a competição Talent League, que promove projetos que cruzem áreas criativas e arte digital, deixará de ser inteiramente virtual e terá um momento físico. França foi apontada como a primeira paragem da competição mas ainda decorrem negociações, segundo informação apurada pela Pessoas/ECO já depois da publicação desta entrevista.

(Notícia atualizada às 10h41 com mais detalhes sobre a competição Talent League)

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