Bancos ainda têm mais de mil milhões em fundos de reestruturação para venda

Venda da ECS permite reduzir significativamente exposição a fundos de reestruturação. Bancos ainda têm mais de mil milhões nestes ativos não estratégicos. E estão à procura fazer mais negócios.

Os bancos avançam a todo o vapor com a limpeza dos seus balanços, mesmo em tempo de férias. Agora, conseguiram finalmente fechar a venda dos fundos de reestruturação da ECS ao fundo americano Davidson Kemper, depois de vários meses de negociações. Aquele que é considerado o “negócio imobiliário do ano” vai permitir às instituições financeiras reduzir em mais de 40% a exposição aos fundos de reestruturação. Mas ainda têm mais de mil milhões destes ativos para vender pois não fazem parte do negócio core dos bancos, de acordo com o levantamento feito pelo ECO. Aliás, há mais transações em curso nesse sentido.

Não foram divulgados muitos detalhes sobre a transação envolvendo fundos de reestruturação da ECS e a própria sociedade gestora, que terá sido feita por um valor a rondar os 850 milhões de euros, de acordo com o Jornal Económico.

Apenas o Novobanco avançou que, no âmbito do Projeto Crow, foram alienadas as participações no Fundo Recuperação Turismo, Fundo de Capital de Risco e FLIT-PTREL, e ainda alguns outros ativos atualmente detidos por Fundo Recuperação, com os ativos a corresponderem a cerca de 40% da sua exposição dos fundos de reestruturação.

O banco dos americanos da Lone Star contabilizava uma exposição de mais de 500 milhões de euros aos fundos de reestruturação no seu balanço, um valor líquido de perdas por imparidade que foi constituindo ao longo dos últimos anos. Com a venda da ECS, que se prevê até final do ano, este valor reduzir-se-á para cerca de 300 milhões com exposições ainda a outros fundos como o Discovery Portugal Real Estate Fund (129 milhões), o Fundo Imobiliário Aquarius (72,4 milhões) e o Fundo de Reestruturação Empresarial (30 milhões).

O BCP é o banco com mais fundos de reestruturação: quase 800 milhões de euros em unidades de participação. A venda da ECS vai permitir uma redução substancial destes ativos, na medida em que as exposições ao Fundo de Recuperação Turismo e FLIT-PTREL somavam cerca de 400 milhões, metade da carteira. O banco liderado por Miguel Maya tem ainda títulos de participação no Aquarius (100,4 milhões), Discovery (156,8 milhões), Fundo Imobiliário Vega (40,9 milhões) e Fundo de Reestruturação Empresarial (23,8 milhões).

Já a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem uma carteira de fundos de reestruturação avaliada em 454 milhões de euros. Excluindo os dois fundos da ECS vendidos, a exposição cairá para cerca de 240 milhões de euros.

Entre os grandes bancos, também o Santander e o BPI têm pequenas exposições a fundos de reestruturação. No caso do BPI, a carteira ascende a quase 36 milhões de euros, sendo que o CEO, João Pedro Oliveira e Costa, já mostrou vontade de se desfazer destes ativos: “Se houvesse uma solução para ficar zero amanhã eu adotaria e teria zero amanhã”, disse na última conferência de resultados.

Oitante (veículo que ficou a gerir os ativos da Banif que o Santander não comprou), Banco Montepio e Parvalorem (sociedade criada para a gestão dos despojos do BPN) também tinham exposições a fundos de reestruturação, com 74,8 milhões de euros, 63,8 milhões e 4,1 milhões, respetivamente.

"Se houvesse uma solução para ficar zero [de fundos de reestruturação] amanhã, eu adotaria e teria zero amanhã.”

João Pedro Oliveira e Costa

CEO do BPI

Próximo negócio: Discovery?

Estes fundos de reestruturação foram criados com o objetivo de ficarem com a gestão de ativos imobiliários e outras exposições que acabaram nas mãos dos bancos na década passada por dificuldades dos devedores.

Ao cederem os ativos problemáticos a um fundo especializado, em troca de unidades de participação, os bancos partilharam risco entre si. Contudo, estas exposições têm peso nos ativos ponderados pelo risco e consomem capital aos bancos, razão pela qual há muito pretendem vender. Aliás, o Banco Central Europeu (BCE) tem pressionado para se desfazerem destes ativos.

Com o negócio da ECS concluído, os bancos poderão agora concentrar esforços noutro processo que está no mercado desde o início do ano passado (correndo em paralelo com o Projeto Crow): a venda do fundo de promoção turística Discovery, gerido pela sociedade Explorer e que explora mais de 40 ativos em Portugal, incluindo o Six Senses Douro Valley e o Eden Resort, no Algarve.

Estas unidades de participação estão avaliadas em mais de 400 milhões de euros pelos próprios bancos: BCP (156,8 milhões) e Novobanco (129 milhões) são os bancos com maiores exposições neste fundo gerido pela Explorer. Caixa (62,4 milhões) e Oitante (59 milhões) também têm participações relevantes.

O desfecho do negócio ECS poderá servir de referencial para o processo da Discovery, cuja venda continua em curso, mas ainda sem propostas vinculativas em cima da mesa dos bancos, segundo diz o BCP no relatório e contas. Contactados pelo ECO, BCP e Caixa não comentam.

Desinteresse dos investidores no fundo Discovery? “É um bom fundo, interessados irá haver”, disse uma fonte do mercado ao ECO.

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