“Ajudar tudo e todos” pode gerar perda de competitividade, diz Vítor Bento

Apelo para que medidas de apoio dos governos sejam direcionadas tem sido feito por várias figuras internacionais, sendo agora defendido por responsáveis da banca e do Conselho das Finanças Públicas.

A situação que se vive, de elevada inflação com perspetivas de abrandamento económico e até recessão no horizonte, tem motivado apelos de instituições internacionais para que os governos desenhem medidas de apoio direcionadas, nomeadamente na abrangência. A ideia é também reforçada por figuras nacionais, como o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que diz que “ajudar tudo e todos pode gerar perda de competitividade”.

Vítor Bento defende que é necessário “ser muito focado na atenção que tem de ser dada, quer no âmbito quer no tempo“, de forma a “focar apenas naqueles que são necessitados”, como as famílias muito carenciadas. “O resto vai ter de se ajustar”, em declarações na conferência “O impacto da nova ordem mundial na economia europeia”, promovida pelo ECO, em parceria com a Morais Leitão, PLMJ e VDA.

Conferência "O Impacto da Nova Ordem Mundial na Economia Europeia" no CCB - 27SET22
Vítor Bento, Nazaré Costa Cabral, João Moreira Rato (da esquerda para a direita)Hugo Amaral/ECO

Tendo em conta que o choque externo que se vive vai implicar uma perda de rendimento na sociedade, o presidente da APB alerta que tentativas de evitar a perda de rendimento podem causar uma “espiral inflacionista”. Assim, “é preciso muito cuidado” e “não permitir que a nossa inflação seja demasiado desalinhada da europeia, porque podemos ter perda de competitividade”.

Vítor Bento deixa ainda o apelo para que se “contenha a ansiedade social, porque está a desencadear um campeonato de medidas e propostas populistas”, que podem prejudicar a situação.

A ideia de que é necessário foco nas medidas é partilhada pelos restantes membros do painel, que se debruça sobre as prioridades da política económica à luz da nova ordem geoestratégica. João Moreira Rato, chairman do Banco CTT, salienta que “nesta fase faz sentido ter medidas focadas nas famílias que estão a sofrer com aumentos de taxas”.

É preciso “medidas que se foquem em quem tem mais dificuldades, por aumento das taxas de juro e dos preços dos combustíveis”, reforça, bem como um foco na redução de dívida. Para o chairman do Banco CTT, reduzir a dívida pública “é crucial”, sendo que a margem de manobra está a ser utilizada para tal.

Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho de Finanças Públicas, também aponta a dívida pública como uma preocupação. “Temos uma obrigação: manter a mensagem externa para as instituições internacionais e mercados, de que estamos apostados em continuar o esforço da trajetória da dívida”, reitera.

A responsável admite que “a situação de crise foi inesperada, súbita e, portanto, isso ditou que a resposta momentânea tivesse sido geral e não seletiva”, mas que no futuro se a crise perdurar, “como forma de conter efeitos orçamentais”, os Estados podem adotar “medidas mais seletivas”. “Podemos ter medidas cirúrgicas, desenhadas para famílias mais carenciadas”, considera, tendo em conta que no caso português existem condicionantes e restrições que outros países não terão, como a dívida pública.

Estando numa situação de vulnerabilidade, Nazaré Costa Cabral considera então que pode “ser necessária uma escolha mais fina e seletiva do conjunto de medidas a famílias mais vulneráveis”. Mesmo assim, salienta que há outro aspeto que também preocupa, que é a questão do “aumento dos custos de financiamento que as famílias vão ter de enfrentar”.

João Moreira Rato admite também que, apesar de o sistema financeiro europeu ter menos fragilidade do que na crise anterior, a situação económica pode ter impacto na acumulação do malparado, bem como fazer com que haja alguma restrição de crédito. Ainda assim, o contexto é de incerteza pelo que continuam a defender medidas direcionadas.

A aposta em apoios às camadas da população mais carenciadas face aos efeitos da inflação também tem sido recomendada aos governos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi também defendida por responsáveis europeus como o presidente do Eurogrupo e o comissário europeu para a Economia, Paolo Gentilon, que salientou em declarações no início deste mês que “há espaço para as medidas serem mais focadas“.

Apesar destes avisos, em Portugal a opção foi abranger também a classe média nas medidas apresentadas, com uma das “bandeiras” do pacote anti-inflação a ser um cheque de 125 euros atribuídos aos cidadãos com rendimentos de até 2.700 euros brutos por mês. O ministro das Finanças defendeu esta decisão na apresentação do pacote de medidas dizendo que a classe média também está a ser muito atingida.

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