As duas caras das startups portuguesas um ano após vitória na Web Summit

Smartex e Cre.Mar conquistaram prémios pelas suas ideias de negócio na edição de 2021 da cimeira tecnológica. Um ano depois, tudo mudou para as duas startups portuguesas

Smartex e Cre.Mar foram as duas startups portuguesas que se destacaram na edição de 2021 da Web Summit. A Smartex, do Porto, ganhou o prémio Pitch, de melhor ideia, graças ao desenvolvimento de um dispositivo que ajuda a indústria têxtil a diminuir o desperdício. A Cre.Mar, com sede em Coimbra, ganhou o prémio de startup com melhor desempenho graças à transformação de cinzas em diamantes. Um ano depois, tudo mudou nas duas empresas portuguesas.

Comecemos pela Smartex. “Desde o início do ano que temos expandido o negócio para novas geografias. Abrimos mercados novos como o Uzbequistão, Paquistão e Egito, além de começarmos a apostar na Índia e no Bangladesh”, revela António Rocha, cofundador e responsável tecnológico (CTO), em declarações ao ECO.

A startup incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) desenvolve dispositivos que recorrem a câmaras para a captação de imagens dos tecidos, assim que saem dos teares. As imagens são passadas a pente fino por um software de inteligência artificial que permite reduzir os desperdícios de tecidos e peças de roupa com defeito.

O nosso crescimento a nível de emprego foi muito alavancado pela Web Summit

António Rocha

Co-fundador e CTO da Smartex

Quando ganhou o prémio da Web Summit, a Smartex contava com uma equipa de 30 pessoas e esperava contratar mais 40 ao longo de 2022. Mas foi preciso ‘esticar a manta’ para tentar responde a todas as solicitações. Atualmente, são mais de 100 os trabalhadores desta tecnológica. “O nosso crescimento a nível de emprego foi muito alavancado pela Web Summit”, reconhece António Rocha.

A nível de mercado, “faz mais sentido expandirmo-nos em geografia do que desenvolver o nosso produto para atacar um segmento de mercado mais conservador dentro da própria geografia. Queremos crescer da forma mais escalável possível, da forma que menos nos custa”, explica António Rocha.

António Rocha, cofundador e CTO da Smartex, na edição de 2021 da Web Summit.Web Summit via Flickr

A equipa e as encomendas cresceram tanto que foi preciso ocupar três espaços dentro do UPTEC: um para desenvolvimento de software, outro para fazer testes com os equipamentos e ainda um terceiro lugar que serve de armazém — fundamental para evitar falhas de materiais em contexto de crise de peças.

Antes da vitória na Web Summit, a startup tinha levantado em fevereiro de 2019, numa fase pré-seed, 250 mil dólares e, em outubro desse ano, 2,6 milhões de euros.

O outro lado do sucesso

Coimbra é a sede da Cre.Mar, negócio criado por Vítor Oliveira depois de uma questão familiar o ter alertado para o tema. A startup pretendia simplificar o processo de cremação através de uma plataforma online, prometendo a entrega da urna com cinzas em 72 horas, bem como a transformação das mesmas em diamantes. A empresa teve o melhor desempenho na competição Road 2 Web Summit e ganhou um prémio monetário de 5.000 euros.

Na época o serviço de cremação só funcionava na região de Braga e do Porto, mas os planos da startup eram ambiciosos: em 2022 pretendia ter uma cobertura de serviço nacional e, em cinco anos, dar o salto internacional, através de franchising. França, Finlândia e Espanha estavam na mira.

Um ano depois, Vítor Oliveira assume ao ECO que o negócio “está um pouco à frente do tempo. Carece muito de comunicação e de marketing”. O fundador admite também que foi vítima de um ataque informático. “Comecei a ser vítima de phishing [e-mails de spam disfarçados de sites fidedignos]. Comecei a ser contactado por empresas que se faziam passar pelo Facebook e pelo Google Ads, para fazermos promoção do produto. Gastávamos dinheiro e não tínhamos resultados.”

Queriam que pagasse os 800 euros do bilhete, mesmo que tivesse um convite da organização. Não há dinheiro para estar nesta edição

Vítor Oliveira

Fundador da Cre.Mar

Contas feitas, os 5.000 euros do prémio “não chegaram para quase nada”. No início do mês, Vítor Oliveira começou a trabalhar numa empresa que vende painéis solares. O fundador não desiste, apesar do infortúnio. “Voltámos à estaca zero. Preciso de calçar-me outra vez.”

O ‘calçar’ surgiu, entretanto, após a conversa com o ECO há duas semanas. Depois da publicação do artigo, o fundador adiantou que a empresa entrou “no programa de aceleração da SRS Lab”. Mas não só. “Conseguimos um investidor anjo e e um novo sócio entrou para a empresa”, refere ainda.

Estamos também a arrancar com uma plataforma direcionada para a cremação de animais de estimação”, revela o fundador da Cre.Mar.

Regresso à cimeira

A Smartex vai estar presente na edição deste ano da Web Summit, que arranca nesta terça-feira. “Vamos ter mais ou menos a mesma abordagem. Um evento como este ajuda-nos a termos um palco para sermos conhecidos e captarmos talento. Também queremos apostar no nosso crescimento.”

Além de andar pelos corredores da FIL e do Parque das Nações, António Rocha vai participar num debate sobre sustentabilidade nas cadeias logísticas, na sexta-feira, dia 4 de fevereiro.

A Cre.Mar ia estar ausente da Web Summit. “Queriam que pagasse os 800 euros do bilhete, mesmo que tivesse um convite da organização. Não há dinheiro para estar nesta edição”, referiu Vítor Oliveira há duas semanas ao ECO, em conversa por telefone. Mas, este cenário também se alterou. A convite da Startup Portugal, com as despesas pagas, Vítor Oliveira vai estar presente na cimeira tecnológica.

(Notícia atualizada às 18h49 com novas informações da Cre.Mar)

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