Centeno considera “inevitável” consolidação da banca em Portugal
"A consolidação do sistema bancário [em Portugal] e o fortalecimento das suas instituições é absolutamente crucial e é inevitável que o sistema, o mercado, tenha consciência disso", disse Centeno.
O governador do Banco de Portugal considera inevitável uma maior consolidação do setor bancário em Portugal. Em entrevista à Reuters, Mário Centeno classificou como “extraordinários” os progressos recentes que os bancos fizeram no país em termos de reforço de capitais e de redução de risco.
“Depois deste reforço, a consolidação do sistema bancário [em Portugal] e o fortalecimento das suas instituições é absolutamente crucial e é inevitável que o sistema, o mercado, tenha consciência disso”, disse o governador do banco de Portugal.
Apesar de a pandemia e a crise atual terem adiado este processo, “vamos fazê-lo, como sempre, com grande tranquilidade”, acrescentou o responsável.
São várias as vozes que apontam para a necessidade de os bancos portugueses apostarem em operações de fusões e aquisições para se tornarem mais competitivos. Isto apesar de os cinco maiores bancos deterem 80 a 85% dos ativos bancários.
Apesar de estar muito satisfeito com a evolução, não faz sentido parar. Temos de continuar a desafiar-nos.
Centeno defendeu na entrevista à Reuters que os bancos fizeram progressos “extraordinários” nos últimos anos no fortalecimento do seu capital e melhoraram o perfil de risco, com o crédito malparado (NPL, na sigla em inglês) a cair para níveis praticamente em linha com a média europeia. Depois do pico de malparado de 50 mil milhões de euros em junho de 2016, a banca tem vindo a reduzir estes créditos não performativos para um total de 11,4 mil milhões de euros, de acordo com o último relatório do Banco de Portugal.
Os bancos têm vindo a acelerar a venda de créditos problemáticos, porque com a subida das taxas de juro há o risco de o malparado poder voltar a aumentar.
“Apesar de estar muito satisfeito com a evolução”, disse Centeno, “não faz sentido parar”. “Temos de continuar a desafiar-nos”, sublinhou. “É importante que esta maturação se dê com um reforço contínuo das instituições na sua dimensão, na sua capitalização e, principalmente, na sua capacidade de resposta aos desafios da digitalização, ação climática, porque tudo isso passa pelos balanços dos bancos”, concluiu.
BCE deve desacelerar ritmo de aumento dos juros
Na mesma entrevista, o governador defendeu que o Banco Central Europeu (BCE) deve desacelerar o ritmo de aumentos das taxas de juro a partir de dezembro e sublinhar que os aumentos de 75 pontos base não são a regra, já que a inflação deve atingir o pico neste trimestre.
“Estamos a aproximar-nos de níveis que consideramos compatíveis com a estabilidade de preços a médio prazo, o que significa que a ideia de que aumentos de 75 pontos base são a norma não se pode concretizar“, disse Mário Centeno.
“É importante encerrar esse ciclo de aumentos de forma credível. Mais importante do que o número [de aumento dos juros] em si é transmitir essa narrativa ao público… Estamos realmente a esforçar-nos para transmitir essa previsibilidade sobre o futuro e espero que a reunião de dezembro seja muito clara”, acrescentou na mesma entrevista, sem no entanto levantar antecipar qual a dimensão da próxima subida de juros.
A inflação na zona do euro atingiu os 10,6% em outubro, muito acima da meta de 2% estabelecida pelo BCE, mas Centeno considera que não há efeitos secundários dos aumentos salariais. “Isso é francamente positivo e muito diferente do que aconteceu nos Estados Unidos, onde o mercado de trabalho desse ponto de vista está bastante sobreaquecido”, sublinhou.
O governador considera agora que os dados sugerem que a inflação vai atingir o pico no último trimestre de 2022, isto depois de ter feito a mesma previsão para o terceiro trimestre do ano. Centeno alinha assim as suas previsões com as do vice-presidente do BCE. Luis de Guindos que, em outubro, sugeriu que a instituição em dezembro, vai rever em baixa as suas previsões para refletir um cenário marcado por uma aceleração da inflação, que atingirá o seu pico no final do ano, e uma deterioração económica, sendo que a possibilidade de uma recessão técnica passou a estar em cima da mesa.
(Notícia atualizada com mais informações)
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